Lisboa |
Páscoa na Sé Patriarcal de Lisboa
“Ressuscitemos com todos para todos”
<<
1/
>>
Imagem

Nas celebrações do Tríduo Pascal, o Cardeal-Patriarca lembrou os cristãos perseguidos em todo o mundo e desafiou os fiéis presentes a tornarem as suas vidas “‘lugar’ para os outros”. No Domingo de Páscoa, D. Manuel Clemente saudou pessoalmente todos os que estiveram presentes na celebração.

 

“Sepulcro vazio, panos esvaziados, sinais de vida ressuscitada, porque esvaziada de si em função de todos”. Esta conclusão “não é de agora, é certeza de origem em dois milénios já”, sublinhou D. Manuel Clemente, na homilia de Domingo de Páscoa, dia 16 de abril, na Sé de Lisboa, onde apelou à imitação da vida de Jesus que acolheu a vontade do seu Pai, “cumprindo Deus no mundo, para que o mundo Lhe regresse e se recrie na única maneira garantida: em esvaziamento de si para que os outros possam ser, para que todos possamos plenamente ser”, exortou o Cardeal-Patriarca de Lisboa.

 

Lugar para os outros

Na Sé de Lisboa, numa celebração onde marcaram presença muitos turistas estrangeiros, o cardeal lembrou o “hino do autoesvaziamento de Cristo”, na carta de São Paulo aos cristãos de Filipos, como “um apelo pascal” para todos. ‘Tende entre vós os mesmos sentimentos, que estão em Cristo Jesus…’. É a “promessa da única exaltação possível, como a Páscoa de Cristo assinala. Alcança inteiramente a vida, aquele que inteiramente a dá. Refletida aqui a própria verdade de Deus uno e trino – trindade em comunhão duma única vida compartilhada –, porque esperamos agora, para a exercitar em nós?”, questionou o Cardeal-Patriarca. “Prossigamos, então, dando lugar aos outros, fazendo-nos até ‘lugar’ para os outros, onde sejam acolhidos, atendidos e correspondidos nas várias necessidades e urgências. Ganhemo-nos neles, ressuscitemos com todos para todos. Naquele sepulcro vazio apenas sobravam os panos que já não amortalhavam corpo algum. O corpo é a relação que mantemos. Ressuscitado, Cristo vive em relação perfeita com o Pai e com os outros, inteiramente esvaziado de qualquer retenção em si mesmo”, referiu.

Na conclusão da homilia, D. Manuel Clemente citou ainda um testemunho da cientista grega Antonia Moropoulou, que dirigiu as recentes obras de consolidação do Santo Sepulcro de Jerusalém: “«Vivemos uma experiência magnífica, única. Sentíamos que não estávamos só a trabalhar, mas que estávamos de joelhos e que todos os habitantes do planeta estavam connosco. Sentíamos não se tratar dum monumento normal, mas sim de um monumento único, do mais vivo de todos os túmulos. Aqui tudo está vivo, tudo manifesta a mensagem da ressurreição: a esperança e a bênção para milhões de pessoas. Estar ali, trabalhar ali, (…) faz-te sentir que estás no lugar mais importante (…) para os cristãos. No período de crise que atravessamos, podemos levar daqui uma grande mensagem de esperança. Mensagem dirigida também aos judeus e aos muçulmanos desta região, e também a quem não crê. O sepulcro de Cristo é único» (cf. Tierra Santa, janeiro-fevereiro de 2017, p. 30). No seu caso, nem foi preciso ‘ver para acreditar’, como sucedeu com o discípulo diante daqueles panos esvaziados”, lembrou o Cardeal-Patriarca. “Os olhos da fé, iluminados pelo encontro, convertidos na partilha, são mais claros e profundos. A vida esvaziada de Cristo preenche-se agora em todos nós. – Sejamos o sinal do seu corpo verdadeiramente ressuscitado!”, exortou.

 

Perseguidos

Na noite do dia anterior, durante a Vigília Pascal, na Sé, o Cardeal-Patriarca de Lisboa lembrou os cristãos que são perseguidos em todo o mundo, onde é difícil falar de Jesus. “Pode parecer fácil dizer estas coisas em Lisboa, ou nas nossas catedrais pacificadas. Mas nesta mesma noite se dizem em tantos outros sítios que mais parecem a Jerusalém de então, com os discípulos escondidos e tantos medos difusos pela recente tragédia do Calvário... E, no entanto, assim acontece e porventura com mais certeza ainda do que aqui entre nós. Aí, onde a luz pascal de Cristo ilumina as densas trevas da perseguição aos cristãos, hoje os mais perseguidos de todos os crentes na globalidade do mundo”, lembrou D. Manuel Clemente.

A partir do Evangelho da celebração que narra o momento em que Jesus Ressuscitado vai encontro de Maria Madalena e de Maria e lhes diz: «Não temais. Ide avisar os meus irmãos que partam para a Galileia. Lá me vereis», o Cardeal-Patriarca de Lisboa convidou os cristãos a refletirem sobre três palavras: “aproximação, adoração e missão”. “Jesus sai ao nosso encontro e saúda-nos, como o fez àquelas santas mulheres. Procuravam-no morto e apareceu-lhes vivo. (...) Como entre nós agora, nesta catedral transfigurada. Jesus sai, Jesus saúda e dá-nos a sua paz. A paz da morte vencida, a paz do amor triunfante e da perfeita presença e companhia”, sublinhou D. Manuel Clemente.

Referindo-se depois à palavra ‘adoração’, e fazendo o paralelismo com o momento evangélico em que as mulheres adoram Jesus, o Cardeal-Patriarca pediu para que os cristãos se deixassem “envolver” pela presença “mais luminosa que todos os círios da terra”. “Ilumina as nossas vidas até aos recônditos mais obscuros, aí mesmo onde o pecado resistisse, a dor fosse mais aguda e a própria esperança mais sufocada. Precisamente aí nos encontrou Jesus, Deus humanado, para nos ressuscitar como humanidade divinizada pelo seu amor tão comprovado”, referiu.

O exemplo de Jesus que “sai constantemente ao nosso encontro” é sinal de “Amor rendido ao amor”, expandido “de imediato em missão”. “Porque é próprio do bem difundir-se, porque o autêntico amor não fica em si. Amor absoluto é Deus, que nos cria e recria. Amor comprovado é o de Cristo, que nos leva de regresso a casa do Pai. Amor autenticado será o nosso, se alargarmos na Galileia que nos caiba tudo o que recebemos de Deus e a ressurreição de Cristo garante e concede”, expôs D. Manuel Clemente, na Vigília Pascal, na noite de 15 para 16 de abril.

 

Dar a vida

Reconhecer na Cruz “a presença de Deus na humanidade de Cristo” foi o desafio deixado pelo Cardeal-Patriarca na tradicional celebração da Paixão, em Sexta-feira Santa, na Sé Patriarcal. “Jesus Cristo viveu, sonhou e sofreu realmente, na humanidade que compartilhou connosco. Assumiu até ao fim a tragédia de todos, e especialmente de quantos são ofendidos e rejeitados, são combatidos e mortos, porque fiéis ao que acreditam – e acreditam num Deus de todos para todos e numa solidariedade completa entre todos e cada um. Essa solidariedade que, quando levada ao ponto a que Jesus a levou, se chama caridade, propriamente dita”, sublinhou D. Manuel Clemente, destacando a forma como Jesus venceu o mal, “dando a vida” pelos inimigos. “Neste ponto, verdadeiro e total, restaurou a vida na sua fonte, o amor absoluto. Fonte que nunca mais deixou de brotar naquele sangue e água que do seu peito saíram, naquele Espírito que para nós exalou”, referiu o Cardeal-Patriarca, durante a sua meditação, na Sé de Lisboa, na celebração onde todos os cristãos foram convidados a adorar a Cruz de Cristo.

 

Conversão

“Estamos dispostos, por real necessidade e maior desejo, a receber Deus de Deus, como em Jesus se oferece?”, indagou D. Manuel Clemente, na Missa Vespertina da Ceia do Senhor, também conhecida pela celebração do lava-pés, no final da tarde de Quinta-feira Santa, na Sé. Na homilia, onde refletiu sobre a importância da participação na Eucaristia, o Cardeal-Patriarca desafiou os cristãos a questionarem-se sobre o afastamento de muitos da prática dominical. “Permito-me concretizar e interrogar sobre o ritmo eucarístico das nossas vidas e da assim chamada ‘prática dominical’. Não será a ausência de muitos, o pouco escrúpulo em faltar, a sobrevalorização de circunstâncias – como se é perto ou longe, se é mais cedo ou mais tarde –, não será tudo isto manifestação de descaso em relação à vida de Cristo, sacramentalmente oferecida e eclesialmente compartilhada?”, questionou, apontando como fonte do ‘problema eucarístico’, “o da nossa conversão à simplicidade de Deus, ao serviço de Cristo no modo em que foi e continua a ser, sacramental e eclesialmente prestado”.

 

_________________


Missa Crismal: “Não nos podemos acomodar”

 

Na Missa Crismal, em Quinta-feira Santa, na Sé de Lisboa, o Cardeal-Patriarca  apresentou as ‘sugestões programáticas’ para o próximo triénio e lembrou “formas agudas de fragilidade e pobreza” que persistem e que “não podemos desistir de superar”. “Muitos continuam sem abrigo: há quem o não tenha e há quem deixe de o ter, sem alternativa capaz. Há quem não encontre trabalho, quem o tenha precário e quem o perca, para si e para sustento dos seus. Há quem tenha teto e comida, mas não tenha vizinhança nem companhia… Estas e outras são carências à espera de Evangelho. Não nos podemos acomodar, pois, se persistem, não é por Deus se esquecer delas. É a sua resposta em nós, desdobrando a de Cristo, que podemos adiantar ou atrasar. Não nos falta o seu Espírito, ao povo dos batizados, mas por vezes demora a nossa correspondência. O que houver a melhorar, melhoremos; o que houver a corrigir, corrijamos; onde ainda tardar, comecemos”, exortou D. Manuel Clemente.

Na celebração onde os sacerdotes de toda a diocese se reúnem para fazer a renovação das suas promessas sacerdotais, o Cardeal-Patriarca citou a Exortação Apostólica ‘Amoris laetitia’, do Papa Francisco, e sublinhou a importância da preparação e acompanhamento dos matrimónios. “Tudo isto nos há de levar a desenvolver sempre mais e melhor a formação matrimonial nas nossas comunidades, em termos propriamente cristãos. Por aqui passa, também e muito, o anúncio da Boa Nova aos pobres. Na verdade, a fragilidade e a rotura de tantos casamentos é hoje em dia uma inegável causa de empobrecimento afetivo e material, para os próprios, os filhos e os parentes, além de enfraquecer a sociedade em geral”, realçou.

 

‘Sugestões programáticas’ para os próximos anos pastorais

Na homilia da Missa Crismal, a primeira após o encerramento do Sínodo Diocesano, o Cardeal-Patriarca de Lisboa apresentou, à diocese, as ‘sugestões programáticas’ para o próximo triénio. Os próximos três anos pastorais, tempo de “receção ativa da Constituição Sinodal de Lisboa (CSL)”, vão continuar a ter presentes o mesmo “propósito” que marcou o início do caminho sinodal, em 2014: “Que a todos chegue a alegria do Evangelho, através de comunidades cada vez mais atentas e missionárias em relação ao que as rodeia”, lembrou D. Manuel Clemente, apontando as ‘sugestões programáticas’ para os próximos anos: “Depois da consulta feita nas vigararias, institutos e outras instâncias pastorais, o triénio 2017-2020 incidirá, ano por ano, nas dimensões profética, sacerdotal e real da vida cristã, com redobrada projeção dentro e fora das comunidades. 2017-2018 em torno da Palavra de Deus, como “lugar” onde nasce a fé (CSL, nº 38). 2018-2019 sobre a vivência litúrgica como lugar de encontro com Deus e com os outros (CSL, nº 47). 2019-2020 para sair com Cristo ao encontro de todas as periferias (CSL, nº 53). Ao longo do triénio procuraremos que as nossas comunidades se tornem cada vez mais uma rede de relações fraternas (CSL, nº 60)”.

O Cardeal-Patriarca de Lisboa revelou ainda estar a decorrer uma “nova recolha de sugestões programáticas”, “em cada comunidade, no decorrer da respetiva vida e missão”. “Aí se continuará a missão de Jesus, anunciando o Evangelho a todas as pobrezas que o aguardam, materiais e espirituais como forem”, salientou D. Manuel Clemente.

texto por Filipe Teixeira; fotos por Arlindo Homem e Filipe Teixeira
A OPINIÃO DE
Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]

Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]

Tony Neves
O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central.
ver [+]

Pedro Vaz Patto
Impressiona como foi festejada a aprovação, por larga e transversal maioria de deputados e senadores,...
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES