Domingo |
À procura da Palavra
“Tu és Jesus?”
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DOMINGO V DE PÁSCOA

“Há tanto tempo que estou convosco e não Me conheces, Filipe? 

Quem Me vê, vê o Pai?”

Jo 14, 9

É simples a história e podia acontecer com um de nós. Um grupo de turistas corre apressado para o autocarro que levava ao aeroporto onde já iam chegar atrasados ao voo marcado. Na correria tombam alguns cestos de maçãs que uma jovem vendia no passeio. Aflitos, pedem desculpa e continuam a correr por entre as maçãs que se espalham no chão. Só um pára e, ao ver a aflição da jovem, grita aos outros que irá num voo a seguir. Começa a recolher as maçãs por entre as pernas dos transeuntes que não param e passam indiferentes. Repara então que a jovem é cega, e dos seus olhos mortos caem lágrimas, enquanto as mãos procuram, infrutíferas, recolher algumas maçãs. Diz-lhe: “Eu ajudo”, enquanto apanha todas as maçãs. Ao ver que muitas ficaram pisadas e estragadas tira uma nota do bolso e diz à jovem: “Toma este dinheiro pelo dano que te causámos. Estás bem?” Ela, chorando, disse que sim com a cabeça. Já se afastava quando a ouvir chamar: “Senhor...”. Parou e voltou a olhar os seus olhos cegos. Ela continuou: “Desculpa...Tu és Jesus?”

Os diálogos de Jesus com os discípulos na Ceia estão cheios de uma enorme tensão. É noite e há um ambiente de despedida dramática que os discípulos sentem e guardam para si. Jesus conforta-os, fala mais intensamente do Pai e de como é bom viver a comunhão com Ele. Tomé e Filipe questionam-n’O, querem saber e saborear mais. “Mostrar o Pai?” “Mas é o Pai que actua em Mim, e quer actuar em vós; os meus gestos de amor e salvação vão multiplicar-se nos vossos, até vos confundirem comigo, e todos viverem a alegria que dá sentido à vida." Desculpem, pus-me a imaginar o que Jesus podia dizer-nos. Sim, a maior alegria seria sermos confundidos com Jesus. E vê-l’O melhor nos “pequeninos” a quem fazemos (ou não!) chegar o amor. Não é essa a existência Pascal do Ressuscitado nos seus amigos, a sua presença a dar vida, e...até a recolher maçãs que a pressa de uns derrubou pelo chão?

Gostava de partilhar convosco a presença entre nós do Papa Francisco que, na terça em que escrevo, ainda não chegou, e no Domingo, dia desta “Voz”, já se foi. Imagino o final de caminhada de tantos até Fátima, a emoção dos encontros e das celebrações, e agora, o regresso ao quotidiano. Tanto para contar e para guardar, e não acreditamos mais num futuro que pode ser novo e mais luminoso? A vida vai guardar memórias ou sonhar mudanças felizes? Houve esforço em preparar tudo: os caminhos, os alojamentos (escandalosamente inflacionados, é verdade, que se a religião puder trazer riqueza, seria “pecado” desperdiçá-la!), a segurança, as comunicações (para mostrar aos que não puderam vir), os mil e um comentários, os ritos, a tolerância de ponto, as inúmeras curiosidades que fazem do religioso um espectáculo. Não sei se o Papa Francisco, por aquilo que é e pelo que tem dito, gostaria de tanto espavento, mas somos humanos e precisamos de festa. A alegria do Evangelho, em que Francisco tanto insiste, passa também por aqui. Mas vai mais além, exigindo compromisso em favor da humanidade que Deus ama, em propostas concretas que o próprio Papa todos os dias inventa e propõe. Daí imaginar que muitos gostariam de lhe perguntar, parafraseando a jovem cega: “Jesus é assim como tu?”

Do grande momento histórico desta festa beneficiará a nossa vida apressada daquela esperança que o Espírito Santo garante de “sermos mais Jesus”?

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