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Cristãos de Lisboa que contactaram de perto com o Papa Francisco
As surpresas de Deus
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Dois futuros padres de Lisboa foram diáconos do Papa na Missa do 13 de maio; Florbela esteve na Base Aérea de Monte Real e viu o Papa Francisco beijar por três vezes a sua filha; e o padre Nuno colaborou com o Santuário de Fátima na comunicação e pôde conversar com o Sucessor de Pedro. Serviço, gratidão, esperança e misericórdia nos quatro testemunhos de cristãos do Patriarcado de Lisboa que estiveram, por breves momentos, a ‘sós’ com o Papa Francisco.

 

O diácono Pedro Tavares foi quem incensou o Papa na Missa no Santuário de Fátima, a 13 de maio. “Foi um momento muito tranquilo. Quando estamos na assembleia, à espera de ver o Papa, estamos naquele frenesim de poder ver o Papa mais de perto. Estar no altar foi muito sereno, porque era Pedro que estava ali e era um como nós”, descreve ao Jornal VOZ DA VERDADE. Aluno do 6º ano do Seminário dos Olivais, este jovem foi convidado pelo Santuário de Fátima para estar no altar com o Papa Francisco. “Foi de facto uma grande alegria porque não estava à espera que pudesse ‘calhar’ a mim. Eu estava ao lado do Papa e foi muito bom poder, no centenário das aparições, viver este momento, em união com os pastorinhos, de rezar pelo Santo Padre. Porque uma das coisas que os mestres-de-cerimónias do Vaticano nos disseram, antes de começar a Missa, foi que o primeiro serviço que nós podemos fazer é rezar pelo Papa e ajudar as pessoas também a rezarem pelo Papa”, refere o diácono Pedro, que está a cerca de um mês e meio de ser ordenado sacerdote, destacando ainda que se sente “agradecido por ter servido a Igreja como ela se apresenta”. “Em Fátima, servi a Igreja com o Santo Padre e aqueles milhares de pessoas, mas amanhã será numa paróquia, obviamente com menos pessoas”, salienta.

O diácono Pedro Tavares explica que “na liturgia papal há os diáconos assistentes e depois os diáconos ministrantes, que estão ao serviço”. No seu caso, a sua presença no altar foi como diácono ministrante. “Na celebração do dia 13 de maio, eu era o diácono do cálice do Papa – e tudo o que dissesse respeito ao cálice do Papa era eu que fazia. Além disso, ainda incensei o Papa e também as relíquias dos pastorinhos, os novos santos”, frisa, sublinhando ter sentido que foi sobretudo “uma celebração muito orante”. “Foi Pedro, o sucessor dos apóstolos, que esteve ali, no altar de Fátima, e que veio confirmar-nos na fé”, aponta.

Nos bastidores, este jovem diácono da Paróquia de Peniche teve a oportunidade de cumprimentar o Papa… por duas vezes! “A primeira foi na sacristia, antes da paramentação, num momento que foi muito forte mas em que me faltaram as palavras. E eu tinha muitas coisas para dizer ao Papa Francisco! Mas quando ele chega, e cumprimenta toda a gente, só tive tempo de lhe agarrar a mão com muita força, beijar o anel, olhar para ele e dizer ‘Obrigado, Santo Padre’. Depois pedi-lhe para me benzer os dois terços que tinha na mão e não consegui dizer mais nada”, descreve Pedro Tavares, recordando-se do segundo momento, no dia 13 de maio, em que pôde contactar com o Papa: “No final da celebração, depois de o cortejo sair para a Capelinha das Aparições, desparamentámo-nos com o Santo Padre no piso por baixo do altar. E o Papa, uma vez mais, veio ter connosco, cumprimentou-nos, disse umas piadas, mas o que sublinhou várias vezes foi ‘prega per me’, ou seja, ‘reza por mim’. Foi um pedido muito forte”.

O diácono Pedro Tavares entrou no seminário em 2010, depois da vinda do Papa a Portugal. “A visita de Bento XVI foi muito importante, nomeadamente as palavras que dirigiu aos jovens na homilia do Terreiro do Paço, em Lisboa: ‘Queridos jovens não tenham medo de seguir Jesus. Dizei que é belo seguir Jesus e que só seguindo-O se encontra o sentido da vida’”, recorda este jovem, lembrando-se da sua vocação. Sete anos depois, o Santo Padre volta a Portugal e Pedro Tavares está no último ano de seminário. “Entro e saio do seminário com as visitas do Papa”, graceja.

 

Gratidão a Deus

O diácono Miguel Cabedo e Vasconcelos é colega de curso do diácono Pedro Tavares e, na Missa do Papa em Fátima, teve a missão de levar o Evangeliário e, mais tarde, proclamar o Evangelho da celebração. Depois, deu o Evangelho a beijar ao Papa. “Não tenho uma grande capacidade de descrever... havia muitas coisas a passar, ao mesmo tempo, na minha cabeça, entre sentimentos e emoções, mas também com muita gratidão a Deus por ter servido, dessa maneira, o Santo Padre”, conta ao Jornal VOZ DA VERDADE. Convidado também pelo Santuário de Fátima, Miguel refere que, antes da celebração, contactou diretamente com o Papa, na sacristia. “O Papa cumprimentou-nos a todos”, lembra. “Este serviço que pude prestar à Igreja, a pouco mais de um mês da minha ordenação, lembra-me que o ser diácono não passa e não é, digamos, substituído pelo facto de vir a ser padre. O ter tido a oportunidade de servir como diácono o Papa lembra-me que servirei sempre como diácono a Igreja inteira, na pessoa do Papa”, manifesta o diácono Miguel, da Paróquia do Estoril.

Nestas cerca de duas semanas que passaram da celebração do 13 de maio em Fátima, Miguel Cabedo e Vasconcelos salienta que, entre familiares e amigos, as reações “têm sido unânimes em reconhecer a honra, e o privilégio, que foi ter estado no altar com o Papa”.

 

Surpresa e esperança

A fotografia do Papa Francisco com Florbela Queiroz e a filha, a pequena Madalena, de 6 anos, na Base Aérea de Monte Real, correu mundo. “Guardo o momento em que o Papa beijou a minha filha, exatamente do lado esquerdo, onde a doença da Madalena mais se manifestou. É indescritível… as pessoas perguntam-me muito, mas é difícil explicar este encontro que só pode aumentar a nossa fé e a esperança”, conta Florbela, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Sublinhando que o olhar do Papa “foi tocante” e transmitiu-lhe “calma”, Flor, como é tratada por familiares e amigos, diz ter sido “uma experiência única”. “Estou muito grata, para o resto da vida. Espero que esta fotografia, que apareceu em muitos jornais de todo o mundo, traga esperança e fé a todas as crianças que estão doentes”, deseja esta leiga, de 43 anos.

A doença oncológica da filha, diagnosticada há dois anos, fez com que, ao ser confirmada a visita papal ao nosso país, Florbela fizesse, desde logo, “tudo, até mover montanhas, para estar com o Papa Francisco”. “Recorri a tudo, desde voluntários em Fátima, a médicos, enfermeiros, amigos, familiares, para que a Madalena pudesse estar com o Papa. Quando se confirmou que o Papa iria aterrar em Monte Real, através de um primo que é piloto de F16 na base aérea, foi possível estar lá para o receber”, conta.

No dia 12 de maio, quando chegaram à base aérea, Florbela e a pequena Madalena sabiam apenas que iriam formar “um cordão humano e que o Papa Francisco iria passar, a pé, pelo meio da multidão composta pelos militares e seus familiares”. Florbela não sabia, contudo, o momento que iria viver com a filha. “O Papa já tinha aterrado e, a cerca de 50 minutos da sua passagem por nós, pelo tal cordão humano, um comandante da Base Aérea de Monte Real veio ter connosco e disse-nos para nos dirigirmos para a Capela de Nossa Senhora do Ar, onde estariam pais e mães com os seus filhos, para a bênção dos doentes”, recorda Flor, lembrando que, “a partir desse momento só chorava, lágrimas de emoção, de alegria e de agradecimento, e não conseguia dizer qualquer palavra”. Quando o Papa Francisco se aproxima, Florbela não pensou que iria ter um contacto tão próximo. “Nesse momento, só rezava, pela minha filha, pelos doentes, pelos que já partiram… quando o Papa chegou até nós, a minha vontade era dar-lhe um beijo na face, mas sabia que isso não era de todo possível e que tinha de ser na mão. O Papa pegou nos bonecos Nenucos da minha filha, toquei-lhe nas vestes brancas sedosas e eu, que nem falo italiano, disse-lhe: ‘gemellos’, ou seja, ‘gémeos’, porque os bonecos eram um menino e uma menina e eu tenho filhos gémeos”, partilha Flor, lembrando-se, nesse momento, do irmão gémeo de Madalena, de seu nome… Francisco! “O Papa sorriu, beijou quase todas as crianças doentes, algumas mais que uma vez – à minha filha, por exemplo, foram três beijos – mas não sei se percebeu o que eu lhe falei”, assume.

Na sua infância, Flor esteve a cerca de três, quatro metros do Papa João Paulo II, que ia no papamóvel, na ilha da Madeira, “num momento muito marcante” mas que, garante, “nada tem a ver com esta experiência de agora”. Quando se confirmou a presença de Flor e da filha Madalena na Base Aérea de Monte Real, a “ansiedade foi muito grande”. “Quase nem dormíamos!”, graceja. “Porque era um momento único nas nossas vidas”, frisa. “O Papa Francisco é especial para mim porque, além de ter escolhido o nome Francisco e ser jesuíta, é um Papa que está próximo do povo, quebra qualquer protocolo. É também um Papa que sofreu muito na vida”, aponta.

O marido, Rui, com quem Florbela está casada há seis anos, acompanhou no trabalho, através da internet, a chegada do Papa a Monte Real, sem sequer imaginar o encontro que a mulher e a filha iriam ter. “Ele e os colegas, aquando do nosso encontro com o Papa, só choravam. O Rui não fazia ideia, porque eu só tinha conseguido enviar-lhe uma mensagem a dizer: ‘Vamos ser abençoadas. Vê’, mas nem sabia se iria ser transmitido em direto. À noite, em casa, não conseguimos dizer nada e só nos abraçámos”, termina Flor.

 

‘Sê misericordioso’

Foi menos de um minuto, mas o momento em que pôde conversar com o Papa Francisco, na manhã do dia 13 de maio, jamais será esquecido pelo padre Nuno Rosário Fernandes. “Senti-me acolhido, porque enquanto eu estava a falar o Papa estava atento, muito atento. Havia pessoas em redor e acabei por falar em voz baixa e o Santo Padre ouviu-me, acolheu e interpelou-me com as suas palavras”, começa por descrever, ao Jornal VOZ DA VERDADE, este sacerdote do Patriarcado de Lisboa que colaborou com o Santuário de Fátima na comissão de coordenação para os media, a propósito da visita papal. “O Papa olhou-me nos olhos, com aquele olhar com que ele sempre olha todos aqueles que encontra. Foi um olhar de pastor, de quem ama as suas ovelhas e transmite a alegria do Evangelho, que ele próprio vive”, prossegue o padre Nuno. Da breve conversa, este sacerdote, que é diretor do Departamento de Comunicação da diocese e deste semanário do Patriarcado, guarda palavras que o interpelam para a sua missão de padre. “O Papa deixou um conselho para o meu ministério, que me responsabiliza muito: ‘Ser misericordioso e ter o cheiro das ovelhas’”, revela.

Na comissão, o padre Nuno Rosário Fernandes teve a missão específica de acompanhar os vaticanistas, ou seja, os jornalistas que acompanham em permanência os assuntos relativos ao Vaticano e ao Papa. “Foi um convite feito logo após a confirmação oficial da peregrinação do Papa Francisco ao Santuário de Fátima e a missão era gerar maior proximidade, criar relação com os jornalistas e fazer comunicação à volta daquilo que era a visita do Papa”, descreve. Desta missão, este sacerdote recorda a viagem que realizou ao Vaticano, no dia 5 de maio, exatamente uma semana antes da chegada do Papa a Monte Real, para dar a conhecer aos VAMP (Vatican Accredited Media Personnel), que viriam no voo papal, a mensagem de Fátima e a sua importância para o país e para o mundo, e a canonização dos pastorinhos. “Senti que havia interesse por algo que, a nós, nos diz muito. Porque foi uma feliz possibilidade, uma graça, que pudesse acontecer a canonização, no centenário das aparições, das duas crianças, Francisco e Jacinta, que são modelo de santidade para todos nós”, salienta.

Da presença do Papa no Santuário de Fátima, o padre Nuno Rosário Fernandes lembra “o momento forte dos oito minutos de oração, em silêncio, logo à chegada, no dia 12 de maio”. “Todos ficámos impressionados e foi um momento que passou na própria comunicação social, pelos ecos que dali saíram”, observa.

 

fotos por João Cláudio Fernandes, Filipe Amorim, Lusa e Santuário de Fátima

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