No dia em que os últimos cristãos estavam a ser expulsos de Qaraqosh, uma menina de apenas 3 anos de idade foi retirada à força dos braços de sua mãe. Foi a 22 de Agosto de 2014. Desde então, nada mais se soube dela. Agora, já com seis anos, Cristina foi devolvida à família. Muitos falam em milagre. Durante estes anos, centenas, milhares de terços foram rezados pela libertação da menina…
Houve festa em Erbil, no campo dos refugiados, quando no passado dia 9 de Junho, Cristina, uma menina cristã de seis anos de idade, foi devolvida à sua família. Houve festa, mas também lágrimas, muitas lágrimas, e muitas orações. O regresso da criança foi saudado por todos como se de um verdadeiro milagre se tratasse. O regresso de Cristina ao seio da sua família mostra bem como tem sido terrível, trágica mesmo, a vida dos cristãos no Iraque nos últimos anos. A mãe de Cristina, Aida Hanna, de 46 anos, conseguiu finalmente sorrir. Foram três anos em que o seu rosto se transformou numa máscara de dor, de sofrimento. Foram três anos em que o seu rosto apenas conheceu o sabor amargo das lágrimas. Agora, porém, tudo mudou. Nesse dia 9 de Junho, Aida não conseguiu mais esconder a felicidade do reencontro com a sua filha, que um jihadista arrancou dos seus braços no dia 22 de Agosto de 2014. Foram três anos de angústia. Onde estaria a sua menina? O que lhe estariam a fazer? Eram tantas as perguntas e nenhuma resposta… Em Erbil, no campo de refugiados onde vive a família de Cristina – assim como a maior parte da comunidade cristã expulsa de sua casas em Qaraqosh, nesse mês fatídico de Agosto de 2014 –, estes três anos valeram por uma eternidade. “Todos os dias o pai de Cristina rezava o Rosário pelo seu regresso”, atesta o Padre siro-católico Ignatius Offy, que acompanha a comunidade cristã refugiada na região de Erbil. Também ele considera, em declarações à Fundação AIS, que a libertação da menina “é um milagre divino”. E diz mais: “Na minha modesta opinião, este é o quarto nascimento de Cristina. O primeiro foi quando a sua mãe a deu à luz; o segundo foi com o baptismo; o terceiro foi quando uma família muçulmana a acolheu e adoptou durante estes três anos em que todos a consideravam perdida; e, finalmente, o quarto nascimento ocorreu quando ela foi recuperada pela família e pela comunidade cristã…” Também Aida fala em milagre. Pudera! Desde Agosto de 2014 nunca mais soube nada da sua filha. Até agora.
O reencontro
O regresso da menina, já com 6 anos, provocou uma enorme comoção no campo de refugiados de Ashti, perto da cidade iraquiana de Erbil, no norte do país, onde vivem muitos dos cristãos obrigados a fugir de suas casas perante a ofensiva jihadista nesse ano de 2014. A notícia de que a menina tinha sido encontrada e libertada chegou na quinta-feira, dia 8 de Junho, quando Elias, o irmão mais velho da menina, recebeu uma chamada telefónica em que pediam para ir buscar Cristina a um determinado lugar. “Ver a minha filha é um milagre”, disse Aida, poucos instantes depois de ter estado com ela de novo ao fim destes três anos de sofrimento. “Mas fiquei assustada ao vê-la, porque ela mudou muito e não a reconheci.” Mas regressemos a esse dia trágico de 22 de Agosto de 2014. Mãe e filha estavam já a abandonar a cidade de Qaraqosh. Com elas estava também o marido de Aida, Jadder, e os outros filhos. A região ia ficar, a partir dali, sem cristãos. À saída da cidade, havia uma barreira militar imposta pelos jihadistas. Todos tinham de passar por ali. Foi então que aconteceu. Eram nove e meia da manhã. Aida levava ao colo a menina quando um jihadista olhou para ela e, simplesmente, arrancou-a dos seus braços. De nada valeram os gritos, os protestos, as lágrimas já enrouquecidas. A menina ficava. Eles tinham de partir.
E agora?
O reencontro permitiu agora refazer o resto da história. A criança foi encontrada, perdida, sozinha e em lágrimas junto a uma mesquita em Mossul em Agosto desse ano de 2014. Uma família muçulmana acolheu-a e tratou dela até agora. Entretanto, com grande parte de Mossul libertada das mãos dos jihadistas, milhares de pessoas que estavam literalmente aprisionadas na cidade aproveitaram a oportunidade e fugiram também. Foi assim que a família que acolheu a menina saiu de Mossul, do bairro de Tanak onde vivia, e conseguiu entregá-la, sã e salva, aos seus pais e irmãos. A comunidade cristã de Erbil juntou-se a Aida e a toda a sua família numa verdadeira festa, com cânticos e danças de felicidade pela libertação de Cristina. Um dos seus irmãos, Yaz Khedher, fez questão de agradecer, “a todos aqueles que rezaram pelo seu regresso seguro”. Cristina regressou a casa. Agora é tempo de se reencontrar com a sua própria família. Ela perdeu grande parte das suas memórias. Até a própria língua materna tem agora de ser recuperada. Mas no regresso a casa – chamemos “casa” a um contentor transformado numa habitação –, Cristina por certo que terá notado na sua fotografia, três anos mais nova, colada nas paredes, juntamente com terços, imagens de santos, como se de um altar se tratasse.
Cristina regressou mas sabe-se que haverá ainda muitos cristãos – crianças, mulheres e homens – cativos nas mãos dos jihadistas. E agora, que vai acontecer? Tal como a família de Cristina, mais de 120 mil cristãos foram forçados a abandonar as suas casas e todos os seus haveres quando os jihadistas conquistaram um vasto território no norte do Iraque no Verão de 2014. A casa de Cristina, na aldeia de Bajdida, em Qaraqosh, foi destruída. E agora? A sua família vive em Erbil, num contentor transformado em habitação. Sem trabalho, sem recursos, qual vai ser o futuro desta menina, o futuro desta família? Aida continua a chorar. Agora, são lágrimas de felicidade. Mas, se nada mudar, depressa se transformarão em lágrimas de desespero…
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