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P. Duarte da Cunha
O que interessa hoje em dia ao cidadão europeu?
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O que interessa hoje em dia ao cidadão europeu? Faço esta pergunta não por um simples exercício intelectual, e menos ainda por uma questão comercial, como se estivesse à procura de saber como vender algum produto, mas porque vejo com preocupação que se difunde a percepção de que a Igreja só tem para oferecer aos europeus algo que, de facto, não lhes interessa. Isto levanta muitas perguntas.

A primeira grande questão prende-se com a secularização. São visíveis os esforços para afastar Deus da vida concreta das pessoas. É cada vez mais claro que se pretende que o laicismo penetre no sistema jurídico, na ética e na educação, e se tente reinventar o ser humano e a sociedade sem Deus. O que fazer para contrariar este movimento? Há muitas coisas a acontecer que vão em sentido contrário, e é possível ir pela Europa fora e encontrar tantas experiências de vida diferentes da massa e que reconhecem a presença de Deus nas suas vidas. Mas ninguém duvida do aumento do número de pessoas para quem as verdades da fé parecem irrelevantes. Mesmo que nos seus corações haja uma sede de Deus e mesmo que nos momentos decisivos das suas vidas venham a concordar que a vida não está confinada às quatro paredes deste mundo, a pressão social e a cultura dominante acabam por dificultar a relação entre Deus e as questões decisivas da vida.

A segunda grande questão tem a ver com a verdade da pessoa humana. Não é só a questão religiosa; também a consciência do que seja o ser humano está em crise. Basta pensar na relação entre corpo e alma. Para além de discussões filosóficas que procuram a melhor maneira de explicar o ser humano como uma unidade que tem corpo mas é mais do que um corpo, o que parece evidente é que no nosso tempo não é fácil de compreender a harmonia entre a corporeidade, a psicologia e a espiritualidade do ser humano. Pensemos na ideologia de género - que se baseia numa completa separação entre o interior e o exterior da pessoa -, mas também na relação com as tecnologias, que muitos explicam como sendo não apenas instrumentos que os seres humanos usam, mas um autêntico prolongamento da pessoa humana. Mas afinal o que é o ser humano? Jesus revela Deus ao homem, mas também revela o que é o homem. Se a sociedade sem Deus impõe dogmas que não podem ser contestados, como pode a Igreja falar ainda do ser humano? E como pode ela ajudar os homens e as mulheres a serem cada vez mais humanos?

A terceira grande questão, que se liga às duas anteriores, tem a ver com as relações humanas. Cada um de nós para se realizar plenamente tem de estar em relação com outros. Mas o que é estar em relação? Basta estar na lista dos amigos de uma rede social? Não é preciso o encontro e o convívio? Não será que o europeu de hoje, que até pode falar muito de amor, quer na vida íntima quer nas campanhas de solidariedade, também está necessitado de aprender a amar? Temos aqui um grande desafio: como explicar que o amor verdadeiro pressupõe a cruz e se destina não apenas ao meu bem-estar, mas a uma comunhão de vida fiel e estável onde cada um está ao serviço do outro?

Estas e outras questões fazem-nos perguntar, como é que a Igreja pode voltar a ser uma presença significativa nas vidas dos europeus. A minha convicção é que a Igreja para ser interessante não pode ficar dependente do que as pessoas dizem interessar-lhes! Isso pode ajudar a saber como ir ao encontro das pessoas, mas não nos indica o conteúdo do que temos para dar. Parece um paradoxo, mas estou convencido que os europeus não nos pedem o que dizem interessar-lhes, mas que sejamos capazes de propor, de modo claro e sem vergonha, a fé. Se esta é uma experiência que vivemos com entusiasmo não temos nada a temer, pensando que se calhar não interessa. Se nos interessa a nós, é sempre interessante!

O segredo, portanto, é perguntar a Deus o que interessa aos homens! Ele sabe melhor! Não precisamos e não devemos desvirtuar o nosso caminho, adocicar o Evangelho e evitar os temas complicados para atrairmos mais pessoas! A história mostra que os santos são atraentes e que há sempre quem os oiça e até os siga, mas vemos que eles não convidam a um seguimento superficial, eles, como Jesus, dizem que é necessária uma conversão. E a Europa, para fazer frente aos grandes desafios, e sobretudo para ter esperança e sentido de vida precisa de se converter. Não é possível crescer se continuar a só estar interessada no dinheiro e no prazer! Precisa de converter os seus interesses, e adequá-los a uma verdade mais humana, que só nos é revelada em Jesus Cristo.