Missão |
Susana Querido, Grupo Missionário Ondjoyetu
Viver no coração da missão
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Susana Querido nasceu a 22 de janeiro de 1984 e é natural da freguesia de Santa Catarina, nas Caldas da Rainha. É licenciada em 1º ciclo do Ensino Básico, pós graduada em Educação Especial e mestre em Ciências Religiosas na via de Ensino de EMRC, pela Universidade Católica de Lisboa. É membro do Grupo Missionário Ondjoyetu e esteve, este ano, em missão em Angola.

“O mais importante são os atos que temos com os outros”

A sua família é “a típica família humilde da aldeia” onde teve uma educação cristã. Frequentou a catequese até ao Crisma. “Sempre vivi num ambiente de amor, alegria, confiança e de luta pelos sonhos. Tenho dois irmãos mais velhos e seis sobrinhos que são o meu orgulho. São o bem mais precioso que os meus irmãos me podiam ter dado”, diz. Considera que sempre foi uma aluna “banal, ativa na escola e que gostava de participar em todas as atividades”. “Sempre gostei de me relacionar com as pessoas e de ter muitos amigos, ainda hoje mantenho os meus amigos de infância e da escola”, lembra. Em relação ao seu percurso religioso, diz-nos que sempre viu a ida à Missa e à catequese “como algo natural”. “Contudo, sempre me questionei sobre alguns tipos de ensinamentos em relação à doutrina, mas retive, desde sempre, a mensagem de amor que Jesus nos passou e para mim isso era o mais importante: amar-nos uns aos outros como Deus nos amou. O que mais me agarrou na fé foi poder ver que existiam pessoas que colocavam em prática os valores que transmitem. Além da oração existia a obra. Para mim, mais importante do que rezar e todos os ritos, são os atos que temos com os outros”, partilha.

 

“Mais do que dar, é ensinar a fazer”

O seu desejo de partir em missão nasceu quando tinha 10 anos de idade. “No casamento do meu irmão mais velho, o padre fez a cerimónia de chinelos porque tinha acabado vir de missão e vinha com um problema no pé. Aquela forma de estar chamou-me a atenção. Durante a cerimónia ele falou sobre a sua experiência, apresentou-se de forma simples, com entrega e proximidade com as pessoas, o que me fez tirar um pouco a imagem distante que eu tinha dos padres. Naquele momento, senti que gostava também de um dia partir em missão”, conta. Em 2003 conheceu o Grupo Missionário Ondjoyetu onde se apaixonou logo “pelo projeto e pela forma como atua”. “Gosto da filosofia do grupo, pois o principal objetivo, além da formação espiritual, é ajudar ao desenvolvimento da população. Mais do que dar, é ensinar a fazer. Ensinar a que vivam melhor e para que seja o próprio povo o agente da evolução”. O projeto atua em Angola, nas montanhas do Gungo, Sumbe, Kuanza Sul, e em Portugal, no Alentejo.

Em 2004 partiu em missão, pela primeira vez, no projeto ASA (Ação Solidária com Angola), no qual esteve 2 meses. “Foi uma experiência muito forte, dei de mim e recebi muito também. Nessa altura senti que “no meio do nada, onde falta quase tudo, encontrei Deus. É algo que não consigo explicar, só sentir. É como se fosse possível observar que no meio de tantos problemas aos nossos olhos ocidentais, existe alguém que ajuda o povo a viver o seu dia-a-dia de forma tão feliz e com tão pouco. E isso sente-se na forma como nos relacionamos com as pessoas”, partilha. Em 2015 fez missão no Alentejo, nas férias de verão, e diz que foi uma experiência muito gratificante onde se criou uma ligação muito forte com a população.

 

Fazer com que o mundo seja um pouco melhor

Em 2016 decidiu partir em missão, por um ano, para Angola, mas acabou por ir por apenas seis meses, devido à condição de saúde do seu pai. Partiu novamente, em fevereiro deste ano, e partilha: “foi com muita alegria e muita emoção que voltei a abraçar o povo do Gungo, pois quem vai ao Gungo não volta mais igual e nunca mais esquece. É um lugar mágico onde as pessoas se apegam com facilidade devido ao calor humano que se faz sentir. O que mais me atrai neste projeto é que nunca existe um projeto delineado para cada missionário. Aqui faz-se o que é preciso, com o que tivermos, onde estivermos”. A responsabilidade por toda a parte pastoral e pelo bem-estar da comunidade passou a ser, desde 2006, do grupo missionário. O Gungo é uma comuna com cerca de 2100 Km2, perto de 33.000 habitantes.

“Temos uma casa na cidade do Sumbe ‘Ondjoyetu’ que é a casa de apoio e de reforço, mas a missão desenvolve-se por toda a área montanhosa do Gungo, o que faz com que tenhamos que andar sempre entre a cidade e as montanhas, demorando cerca de 8 horas a percorrer 150Km de picada (estradas de terra com muitos buracos)”, explica Susana Querido, descrevendo outras atividades. “No Gungo estamos a desenvolver um polo de desenvolvimento (cantina, oficina, serralharia, local de formação) junto da Donga, centro principal da missão, mas como é uma área muito vasta circulamos também pelos 8 centros de forma a chegar a toda a população, ficando assim algumas semanas a viver com a população e a apoiá-la nos projetos que são necessários”. “Estas semanas de campo, foram as mais intensas, pois é aqui que vivemos mais próximo das pessoas, onde conseguimos viver de perto os seus problemas. Vivemos assim, no coração da missão, onde conseguimos chegar ao coração puro do povo com uma fé inexplicável, onde ficamos a pensar como é possível no meio de tantos problemas terem tanta fé… E é aqui que existe uma enorme partilha. Eu apoio no que consigo, mas ao mesmo tempo aprendo como se vive tão bem, com tão pouco, onde as pessoas doam de coração o pouco que tem, onde se aprende que a vida é uma passagem tão rápida pelo mundo que não vale a pena apegarmo-nos aos bens materiais, que Deus está lá e providencia tudo, basta escutar”, partilha a missionária. “A área do Gungo sofre de uma extrema carência de cuidados de saúde, ensino, serviços, bens de primeira necessidade, de tudo o que se possa imaginar aos olhos do nosso mundo ocidental. O povo vive à base de uma agricultura muito rudimentar, alimentando-se apenas do que a terra dá, embebidos ainda pelas crenças e questões culturais tradicionais”, descreve.

Para Susana, “estes meses foram muito intensos, cheios de aprendizagem, de episódios e emoções. Muita alegria mas também de algumas tristezas, principalmente quando nem sempre conseguíamos ajudar o povo e este só nos tem a nós como solução dos seus problemas. Aí percebemos as limitações, que não somos assim tão heróis. Percebemos o quanto a vida e a morte estão tão próximas, o quanto se morre por questões tão básicas, aí sentimo-nos impotentes…”. “Durante estes meses, embora a minha formação seja em ensino, desenvolvi diversos trabalhos, principalmente na área da saúde, porque quando se está em missão é fazer-se o que é preciso, de acordo com as necessidades do terreno. Prestei apoio nas consultas e no atendimento aos doentes, reanimei o projeto da Pastoral da Criança no apoio às gestantes e crianças até aos 5 anos, formação aos jovens, formação de catequistas, animação às crianças, encontros de casais, explicações, aulas de informática, apoio na lavra da missão, apoio na logística da casa”, enumera. “Acabei por me sentir um instrumento de Deus, pois consegui desenvolver trabalhos e encontrar os meios onde menos esperava. É com o trabalho que todos os missionários e voluntários vão fazendo que, aos poucos, algumas pessoas vão mudando os seus hábitos, de forma a melhorar as suas condições. O objetivo não é mudar o mundo, mas fazer com que o mundo daquela família do Gungo seja um pouco melhor”, sintetiza Susana Querido.

texto por Catarina António, FEC | Fundação Fé e Cooperação
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