Há dias ouvi uma partilha que achei muito bonita: no 50º aniversário de matrimónio dos seus avós, a neta perguntou à avó qual o segredo para a longevidade desta relação, ao que a avó respondeu com simplicidade -“o teu avô é o meu melhor amigo!”. Para mim esta história é um estímulo, pois expressa bem que o matrimónio é a “decisão consciente e livre [dos cônjuges] de se pertencerem e amarem até ao fim” (AL, 217). E esta decisão tem que ser aprofundada e renovada dia após dia! É, por isso, indispensável o acompanhamento dos esposos nos primeiros anos de vida matrimonial. Aqui a Igreja tem um papel fundamental. Não basta encaminhar os casais para os CPM (cursos ou centros de preparação para o matrimónio). Há que dar continuidade ao trabalho e assegurar que estamos presentes e apoiamos os esposos nos primeiros anos da sua vida matrimonial, para os recordar continuamente da importância de permanecer fiel à decisão de se amarem.
Diz-nos o Papa Francisco que o caminho do matrimónio “implica passar por diferentes etapas, que convidam a doar-se com generosidade: do impacto inicial caracterizado por uma atracão decididamente sensível, passa-se à necessidade do outro sentido como parte da vida própria. Daqui passa-se ao gosto da pertença mútua, seguido pela compreensão da vida inteira como um projeto de ambos, pela capacidade de colocar a felicidade do outro acima das necessidades próprias, e pela alegria de ver o próprio matrimónio como um bem para a sociedade.” (AL 220)
Assim, o matrimónio não se pode entender como algo acabado, como um dia muito feliz que ficou no passado. O matrimónio é um percurso que se constrói dia-a-dia com a graça de Deus. E é muito mais fácil quando caminhamos em conjunto!
Desafiamos as comunidades cristãs a criarem espaços de acompanhamento e integração de casais, idealmente numa dinâmica integrada, que se inicia no namoro e preparação do matrimónio e que continua por toda a vida do casal. Para além do acompanhamento individual ao casal, uma das modalidades de acompanhamento que se tem revelado muito profícua é a constituição de grupos de casais, para partilha de vida e auxílio mútuo.
Que este acompanhamento seja uma realidade nas nossas comunidades para que cada vez mais casais tenham a graça de celebrar, em conjunto, 50 e mais anos de casamento, descobrindo no cônjuge o companheiro no caminho para a santidade, tal como falava a avó da minha amiga.
texto por Catarina Fortes
A família no centro da esperança cristã
Durante as últimas audiências gerais, o Papa Francisco tem-nos falado sobre a Esperança. No passado dia 27 de setembro, dirigiu-se aos grupos de peregrinos de língua portuguesa afirmando que “a esperança cristã leva-nos a olhar para o futuro como homens e mulheres que não se cansam de sonhar com um mundo melhor”.
Perante as palavras de incentivo do papa Francisco para persistirmos na esperança e não desistirmos de sonhar, olhamos para as famílias cristãs, cujo bem “é decisivo para o futuro do mundo e da Igreja” (Cf. Papa Francisco, A alegria do amor, n.º 31). Olhemos para quatro motivos pelos quais encontramos a família no centro da esperança cristã para a edificação do Reino de Deus.
Em primeiro lugar, na família de Nazaré, modelo para as famílias cristãs, onde pelo ‘sim’ de Maria recebemos a alegria da nossa maior esperança, o nascimento do Salvador. Ao receberem o anúncio do nascimento do Messias, os pastores apressaram-se para encontrar Maria, José e o menino deitado na manjedoura. Depois deste encontro, os pastores louvaram e anunciaram o que tinham visto, maravilhando todos os que os ouviam (cf. Lc 2, 8-20). Esta imagem evangélica anuncia-nos esta enorme alegria decorrente da esperança que é a vinda do Salvador, encarnada no seio da família de Nazaré.
Mas também na relação entre os esposos encontramos a imagem do Amor. No livro do Génesis, lemos que “Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher.” (Gn 1, 27). Esta sagrada intuição remete-nos para a relação entre o homem e a mulher como uma imagem da plena comunhão de amor presente em Deus. Em Cristo, Deus revelou-se plenamente como Pai, Filho e Espírito Santo, uma comunhão de amor entre três pessoas numa só natureza, que vive em plena doação de amor de cada um. Assim também a humanidade se realiza nesta comunhão de amor entre os esposos, que à imagem da entrega de Cristo pela Igreja, pelo matrimónio se torna entrega fiel, total e fecunda. Assim, em cada matrimónio cristão pleno, fiel e fecundo, pela total doação no acolhimento integral do cônjuge, nos realizamos nesta permanente doação pelo bem do outro, que começa entre o casal e extravasa pelo resto da humanidade.
A fecundidade que brota do matrimónio reflete-se também no dom dos filhos, sinal de esperança em cada nova vida e que nos remete para a maravilha da renovação da humanidade, numa união permanente do Homem ao dom da criação de Deus. Perante cada criança, vemos a continuação da humanidade assegurada e reconhecemos quem irá construir em cima da história da qual fazemos parte. Ao ver uma criança, sonhamos, esperançosos com um mundo melhor.
Por fim, a família é também lugar de esperança na exata medida em que a alegria do amor que nela se vive trasborda para o resto da sociedade, transformando os corações do mundo. Neste sentido, “a família cristã, sobretudo hoje, tem uma especial vocação para ser testemunha da aliança pascal de Cristo, mediante a irradiação constante da alegria do amor e da certeza da esperança, da qual deve tornar-se reflexo: «A família cristã proclama em alta voz as virtudes presentes do Reino de Deus e a esperança na vida bem-aventurada»” (Papa João Paulo II, A família Cristã, 52).
São, pois, quatro os motivos pelos quais colocamos hoje a família no centro da esperança cristã: pela Família de Nazaré, pelo dom de amor entre os esposos, pela alegria dos filhos no renovar do mundo e pelo seu testemunho de fé. Que em família nunca nos cansemos de sonhar com um mundo melhor. “Que Maria, causa da nossa esperança, nos guie nesse caminho” (Papa Francisco, Audiência Geral de 27 de Setembro).
texto por Nuno Fortes
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ComTributo à Igreja: Amor apaixonado
Continuação do Capítulo IV
Relembra-nos o Papa Francisco a Gaudium et spes: «Todos os místicos afirmaram que o amor sobrenatural e o amor celeste encontram os símbolos que procuram mais no amor matrimonial do que na amizade, no sentimento filial ou na dedicação a uma causa. E o motivo encontra-se precisamente na sua totalidade».
O mundo das emoções
Sua Santidade cita São Tomás de Aquino: “Experimentar uma emoção não é, em si mesmo, algo moralmente bom nem mau”. “Começar a sentir o desejo ou repulsa não é pecaminoso nem censurável. O que pode ser bom ou mau é o ato que a pessoa realiza movida ou sustentada por uma paixão”.
Deus ama a alegria dos seus filhos
“É necessária a educação da emotividade e do instinto e, para isso, às vezes torna-se indispensável impormo-nos algum limite”. E isto é fundamental, haver limites. “O excesso, o descontrolo, a obsessão por um único tipo de prazeres acabam por debilitar e combalir o próprio prazer (São Tomás de Aquino) e prejudicam a vida da família”. É brutal que o Papa nos transmita: “Isto não implica renunciar a momentos de intenso prazer, mas assumi-los de certo modo entrelaçados com outros momentos de dedicação generosa, espera paciente, inevitável fadiga, esforço por um ideal. A vida em família é tudo isto e merece ser vivida inteiramente”. O Cristão deve-se alegrar, com os momentos bons da vida: “«Meu filho, se tens com quê, trata-te bem. […] Não te prives da felicidade presente». «No dia da felicidade, sê alegre».
A dimensão erótica do amor
O Papa Francisco cita São João Paulo II ao dizer que: “…o ser humano «é também chamado à plena e matura espontaneidade das relações», que «é o fruto gradual do discernimento dos impulsos do próprio coração»”. “A sexualidade não é um recurso para compensar ou entreter, mas trata-se de uma linguagem interpessoal onde o outro é tomado a sério com o seu valor sagrado e inviolável”. “A dimensão erótica do amor” é “como dom de Deus que embeleza o encontro dos esposos.”
Violência e manipulação
“… não podemos ignorar que muitas vezes a sexualidade se despersonaliza e enche de patologias, de modo que «se torna cada vez mais ocasião e instrumento de afirmação do próprio eu e de satisfação egoísta dos próprios desejos e instintos»” (São João Paulo II). Até “mesmo no matrimónio, a sexualidade pode tornar-se fonte de sofrimento e manipulação”. “São João Paulo II fez uma advertência muito subtil quando disse que o homem e a mulher são «ameaçados pela insaciabilidade». Por outras palavras, são chamados a uma união cada vez mais intensa, mas correm o risco de pretender apagar as diferenças e a distância inevitável que existe entre os dois. Com efeito, cada um possui uma dignidade própria e irrepetível.” “«O amor exclui todo o género de submissão, pelo qual a mulher se tornasse serva ou escrava do marido […]. A comunidade ou unidade, que devem constituir por causa do matrimónio, realiza-se através de uma recíproca doação, que é também submissão mútua».” “Entre os cônjuges, esta reciproca «submissão» adquire um significado especial, devendo-se entender como uma pertença mútua livremente escolhida, com um conjunto de características de fidelidade, respeito e solicitude”. O Papa Bento XVI dizia-nos que: “Se o homem aspira a ser somente espírito e quer rejeitar a carne como uma herança apenas animalesca, então espírito e corpo perdem a sua dignidade”.
texto por Bruno de Jesus
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Vai acontecer
Retiro da Vinha de Raquel - Perdão, esperança e cura pós-aborto
De 20 a 22 de outubro de 2017 realiza-se o próximo retiro Vinha de Raquel. A Vinha de Raquel é uma obra de Compaixão e Misericórdia que a Pastoral da Família oferece visando o acompanhamento e apoio espiritual e psicológico, individual ou em grupo, a quem sofre por ter passado pela dor do aborto. Tudo é realizado no máximo dos sigilos. Criado como um processo para cura pós-aborto, este retiro destina-se às mulheres que o praticaram, mas também aos pais, aos avós, aos técnicos de saúde ou a qualquer pessoa que tenha estado envolvida neste doloroso processo. Pode encontrar mais informações no site www.vinhaderaquel.org, pelo email apoio@vinhaderaquel.org e pelo telefone 917 354 602.
Eucaristia pela Vida não nascida – Esperança de Ana
Realiza-se no dai 15 de outubro, pelas 12h15, na Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Carmo no Alto do Lumiar, uma Eucaristia em memória das crianças perdidas durante a gravidez ou nos primeiros dias de vida. Se é mãe, pai, avó, avô (...) de um destes bebés, e mesmo que não possa estar presente na Eucaristia, inscreva-se para que o possamos lembrar neste dia. Link: https://goo.gl/forms/hiA3zIFMUlgf6yAs1
Caminhada pela Vida 2017
Está agendada para o dia 4 de novembro a Caminhada Pela Vida 2017. Este é o grande momento de testemunho público pela Defesa da Vida, a nível nacional. Tem início pelas 15h00 no Largo Camões, em Lisboa.
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