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Fórum ‘My Precious - Uso das coisas’, da Cáritas Diocesana de Lisboa
A oportunidade de realizar o seu potencial
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Resolver a situação de total abandono a que foi relegado o Bairro da Torre (Camarate - Loures) é o compromisso que resulta do fórum ‘My Precious - Uso das coisas, quando o mundo não pode ser de ninguém’, que assinalou, em Lisboa, mais uma Jornada Internacional pela Erradicação da Pobreza, no dia 17 de outubro.

 

A nossa maior pobreza é a de chegarmos ao final da nossa vida sem termos conseguido realizar o que sempre sonhámos ser. “Em São Tomé, uma pessoa pede boleia a quem se desloca de motorizada e obtém-na; o carro pára-lhe avariado na estrada, e todos param para ajudar; cai doente numa praça e toda a gente vai em seu socorro. Por cá,” dizia o psiquiatra António Sampaio, “alguém caído na praça do Rossio, de boca aberta, vai permanecer ali noite e dia, até que talvez alguém, curioso, se abeire para saber o que se passa…”

Perdemos coesão, sentido de vínculo, de pertença, e por isso os outros não nos dizem respeito, não nos interessam. No dia em que assinalámos mais uma Jornada Internacional pela Erradicação da Pobreza, o que António Sampaio sublinhava, como sendo o mais dramático estado na vida de alguém, não era o de alguma vez ter sofrido a fome, a nudez, a carência de bens… mas o de não ter tido a oportunidade de realizar o seu potencial. Esta, no entender do psiquiatra, é a verdadeira pobreza, e o que faz com que inúmeras pessoas não morram em paz.

 

Frases

Organizado pela IMPOSSIBLE – Passionate Happenings e a Cáritas Diocesana de Lisboa, o fórum decorreu no auditório do Montepio, em Lisboa, e contou com a participação de diversos oradores:

“Só uma comunidade que cuida dos seus, sem exceção, fará um bom e comum uso das coisas, para lá de qualquer direito de propriedade.” (José de Frias Gomes)

“O desenvolvimento integral dos nossos filhos não pode fazer-se sem que estes se introduzam e se eduquem no universo dos valores” (Francisco Leite)

“O Monteio apoiará sempre iniciativas importantes como esta. A Erradicação da Pobreza é uma tarefa de todos, uma missão que deve ser cuidada por todos”. (Tomás Correia)

“A responsabilidade social das empresas é hoje fundamental no combate à pobreza e a Caixa Geral de Depósitos tem um conjunto de iniciativas de apoio ao trabalho de organizações, representando vários milhões de euros.” (Paulo Macedo)

“Resistir, pensar criticamente, não ser carneirada, lutar contra todo tipo de subserviência… E este grupo de pessoas, aqui dentro deste auditório, representa esse inconformismo, e de que é desejada e possível a mudança” (António Garcia Pereira)

“Erradicar a pobreza. Ilegalizá-la é possível. Quero acreditar que será possível. Sou realista.” (João Cardoso Rosas)

“Falamos sempre muito dos direitos dos adultos, mas pouco ou nada dos direitos das crianças, da sua segurança, da importância da sua educação.” (Leonor Beleza)

“Não sou tão negativa quanto o Garcia Pereira e por isso não podemos esquecer que Portugal recebeu muitas ajudas da EU desde que começou a fazer parte dela; não podemos esquecer o mundo globalizado. Por isso a erradicação da pobreza em Portugal está também ela dependente deste fenómeno da globalização; eu não tenho Facebook e há hoje algo de perverso que facilmente circula nestas redes: a mentira como se fosse verdade.” (Manuela Ferreira Leite)

“Sou utópico, acredito que é possível a liberdade, viver acomodando tudo e todos, todos os estilos de vida…, em oposição a todo o tipo de tirania.” (Jacinto Lucas Pires)

“Toda a gente deve ter o direito a não ser pobre e não o direito a sê-lo. Ninguém deseja ser pobre. Apenas uma ínfima minoria, por razões de filosofia de vida, escolhem viver na pobreza…” (Graça Franco)

 

Recuperar a vida em comunidade

A conversa entre convidados e participantes foi sempre muito densa, profunda e concreta nos seus exemplos. O USO das COISAS, num mundo que não pode ser de ninguém, a própria ideia de propriedade privada, não foram exaustivamente abordas. O tema não é fácil e permanece refém de ideologias que não ousam por nada questionar-se e debatê-lo. Mas a insistência sobre o conhecimento da condição humana, a urgente necessidade de recuperarmos a vida em comunidade e de dentro dela todos viveram vinculados uns aos outros, gerando coesão social, irá certamente revelar, quando tal acontecer, uma total relação com o Bem do Bem chamando-se essa mesma de Justiça, Bondade, Beleza e Verdade.

O fórum terminou ao final da tarde, Junto à laje, perto do arco da Rua Augusta, em Lisboa, com a colocação de 23 rosas brancas sobre a laje preta.

 

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Atender à população do Bairro da Torre, em Camarate

Na sequência do fórum ‘My Precious - Uso das coisas, quando o mundo não pode ser de ninguém’, a Cáritas Diocesana de Lisboa (CDL), representada pelo seu presidente, José de Frias Gomes, e por Henrique Pinto, da Comunicação & Novos Projetos, reuniu no passado dia 20 de outubro com a Comissão de Moradores do Bairro, a Gestual e um irmão missionário Comboniano, no caso, José Salvador. Segundo um comunicado, ficou decidido “reunir com o presidente da Câmara Municipal de Loures”, Bernardino Soares, “restabelecer no imediato o acesso da população do Bairro da Torre à eletricidade”, “reunir o dinheiro necessário para que tal possa acontecer”, sendo que a “CDL está disponível para contribuir com alguma verba também”. A “medio-longo prazo”, de acordo com a nota enviada, o desejo é “o realojamento das famílias”.

texto por Cáritas Diocesana de Lisboa; fotos por Fernando Colaço
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