Lisboa |
Padre Henrique de Noronha Galvão (1937-2017)
“Um teólogo de grande densidade”
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A lecionação do padre Henrique de Noronha Galvão marcou a formação de centenas de sacerdotes em Portugal, mas não só. O padre Alexandre Palma recorda a “projeção internacional” de um sacerdote “muito bem fundamentado numa cultura teológica”, que se dedicou ao estudo de Santo Agostinho e que faleceu no passado dia 24 de outubro, aos 80 anos.

 

O padre Henrique de Noronha Galvão dedicou grande parte da sua vida ao ensino e acabou, por isso, por estar ligado à formação de centenas de sacerdotes que passaram pelos seminários e pela Universidade Católica Portuguesa (UCP). Natural de Lisboa, onde nasceu em 1937, o sacerdote frequentou os seminários do Patriarcado e foi ordenado sacerdote a 23 de outubro de 1960. Desde então, o ensino foi a sua missão. Entre 1964/65 e 1965/66 frequentou, como ouvinte, o curso de Filosofia, em Lisboa, e a partir de 1969/70 teve a oportunidade de completar os seus estudos ingressando na Universidade de Regensburg, na Alemanha, onde veio a conhecer pessoalmente o então professor Joseph Ratzinger, hoje Papa emérito Bento XVI, que foi seu orientador do doutoramento em Teologia Dogmática sobre ‘O conhecimento existencial de Deus em Santo Agostinho. Uma leitura hermenêutica das Confissões’.

O padre Noronha Galvão foi também diretor da edição portuguesa da Revista ‘Communio’ – uma das publicações teológicas de maior relevância, idealizada por Hans Urs von Balthasar, um dos grandes teólogos do século XX e também uma referência para o sacerdote.

 

Referências

Foi precisamente o meio académico que aproximou o padre Noronha Galvão do padre Alexandre Palma, atualmente professor na UCP e membro da equipa formadora do Seminário dos Olivais. Enquanto aluno de Teologia, o padre Alexandre conheceu o professor Noronha Galvão no terceiro ano do curso sendo, mais tarde, o orientador da sua segunda tese. “Foi ficando uma amizade entre nós que perdurou até agora. Foi uma experiência grata. Através da maneira de gerir as aulas, comecei a perceber melhor que ele era, de facto, um teólogo de grande densidade, um homem muito ponderado, muito bem fundamentado numa cultura teológica, patrística, mas não só, com uma belíssima síntese”, descreve este sacerdote.

No discurso do padre Noronha Galvão, “explicitamente ou implicitamente”, destacavam-se sempre duas referências. “Uma era, obviamente, a referência que ele tinha tido na Alemanha: Joseph Ratzinger. Mas havia um padre da Diocese de Lisboa, falecido precocemente, que tinha sido seu professor de filosofia e que o tinha marcado também: era o padre Honorato Rosa, que às gerações mais novas já não diz nada, mas foi um pensador muito fulgurante no Seminário dos Olivais”, aponta o padre Alexandre Palma, sublinhando a proximidade que o padre Henrique de Noronha Galvão mantinha com os alunos: “Era alguém que tinha uma boa base dentro da Teologia. Dedicou-se muito ao estudo de Santo Agostinho e isso deu-lhe uma base sólida que também se sentiu no trabalho com os alunos. Era uma pessoa ponderada e com quem se dialogava muito bem”, descreve o sacerdote, de 39 anos, lembrando-se também da atitude “não paternalista” que o professor Noronha Galvão tinha com os seus alunos. “Ele não achava que a sua opinião é que estava correta. Por vezes dizia para pensar melhor a questão ou aconselhava uma maior investigação. Por exemplo, no trabalho de dissertação que eu fiz com ele, levava algumas ideias que ele não deitou fora, mas o produto final não foi exatamente aquilo que eu pensei. Ele ajudou-me a encontrar o meu próprio caminho”, lembra o padre Alexandre Palma.

 

Legado

Ao longo de 30 anos a lecionar, o padre Henrique de Noronha Galvão deixou, em primeiro lugar, um legado de gerações de alunos a quem iniciou na Teologia. “Alguns são padres, outros Bispos, mas não só”, sublinha o padre Alexandre Palma. Para além disso, deixou um trabalho de investigação e pesquisa. “Durante estes anos, no campo da Teologia em Portugal, ele foi um grande conhecedor de Santo Agostinho. Era uma voz credível, acreditada, mesmo fora da Teologia, para falar sobre o Doutor da Igreja”, aponta. Por último, um dos pontos destacados pelo padre Alexandre Palma é a projeção internacional que, em Portugal, “não costumamos ter”. “É evidente que os mandatos que ele teve na Comissão Teológica Internacional [órgão de conselho da Congregação para a Doutrina da Fé que reúne académicos de todo o mundo] fê-lo ter que produzir e investigar, com essa ‘elite’, alguns dos temas teológicos da ordem do dia”, refere, apontando como exemplo o documento ‘Diaconado - Evolução e perspetivas’ (2002), da autoria da Comissão Teológica Internacional, organismo ao qual presidiu. “Apesar de ser uma pessoa muito discreta, era alguém que tinha muito reconhecimento lá fora”, frisa o padre Alexandre, acerca do padre Noronha Galvão, sacerdote que faleceu, no dia 24 de outubro, em Lisboa, um dia após completar 58 anos de ordenação sacerdotal.

 

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Universidade Católica homenageou professor Noronha Galvão

Em 2008, a ‘Didaskalia’ – Revista da Faculdade de Teologia – Lisboa publicou um fascículo de homenagem a Henrique de Noronha Galvão. Nas primeiras páginas, que contêm o esboço bibliográfico do teólogo, é sublinhada a inspiração agostiniana que conduziu a lecionação e investigação do padre Noronha Galvão, ao longo de trinta anos. “Fez-se sentir, sobremaneira, naquelas temáticas em que, progressivamente, o Prof. Noronha Galvão se foi especializando — penso sobretudo no aprofundamento do Mistério de Deus Trindade. De facto, neste campo o Doutor da Graça é um manancial inesgotável. As múltiplas vozes de que ele se serve para pensar e abordar a Trindade divina constituíram sempre um dos eixos fundamentais da forma como o Prof. Noronha Galvão introduziu os alunos neste universo específico da teologia”, lê-se no texto da autoria do padre Alexandre Palma.

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