Lisboa |
Visita Pastoral à Paróquia de São Sebastião da Pedreira
“Ser fermento de Cristo no meio da humanidade”
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É também uma das paróquias mais antigas da cidade de Lisboa. A Paróquia de São Sebastião da Pedreira foi criada há 360 anos e recebeu a Visita Pastoral, com D. Joaquim Mendes, Bispo Auxiliar de Lisboa, a deixar um pedido neste tempo de Advento: “Fazer acontecer Natal em nós e à nossa volta, para que Cristo ocupe o centro da nossa vida e da História”.


Na Missa de encerramento da Visita Pastoral à Paróquia de São Sebastião da Pedreira, D. Joaquim Mendes lamentou a “desertificação da paisagem religiosa”, com “a adulteração da História” que “substitui o Natal de Jesus” pelas “luzes, as árvores, os enfeites, a euforia das compras, o velho de trenó a distribuir presentes”. “O Natal de Jesus foi substituído pela ‘festa do comércio’, pelo brilho das lâmpadas, pelo homem das barbas que conquistou o lugar do presépio. É neste deserto paganizado que hoje ressoa a voz de João Batista a chamar ao sentido do acontecimento do Natal, da vinda de Cristo ao mundo. João Batista chama-nos ao essencial. Procuremos escutar a sua voz, mesmo no meio da gritaria confusa e turbulenta dos meios de comunicação social, dos ruídos da nossa cidade, e celebremos o verdadeiro acontecimento do Natal: o Natal cristão, o Natal de Cristo, e preparemo-lo, como nos propõe João Batista”, convidou o Bispo Auxiliar de Lisboa.

Na Missa do passado dia 10 de dezembro, Domingo II do Advento, com que terminou a Visita Pastoral a esta paróquia, D. Joaquim Mendes sublinhou que o tempo litúrgico de preparação para o Natal deve preparar os cristãos “para a paz”. “O caminho para a paz é o caminho para o encontro com Cristo, da conversão a Cristo e ao caminho que Ele nos abriu com o mistério da sua encarnação. Procuremos prepará-lo e percorrê-lo neste tempo litúrgico do Advento, guiados pela Palavra de Deus, para fazer acontecer Natal em nós e à nossa volta, para que Cristo ocupe o centro da nossa vida e da História. Esta é a nossa missão de cristãos: ser fermento de Cristo no meio da humanidade, anunciar e levar a salvação que Deus nos concedeu em Cristo ao nosso mundo, fazer acontecer o Natal”, manifestou.

 

Relação centro social-comunidade

Chegado à Paróquia de São Sebastião da Pedreira há menos de três meses, o pároco, padre António Faustino, admite ao Jornal VOZ DA VERDADE que a Visita Pastoral “superou” as suas expectativas, uma vez que “tinha ainda tido pouco contacto com a comunidade” e “não sabia até que ponto conseguiria mobilizar as pessoas para a presença do senhor D. Joaquim”. “Fiquei surpreendido com a maneira tão simpática e tão espontânea como as pessoas aderiram à proposta”, realça. Entre 6 e 10 de dezembro, o Bispo Auxiliar de Lisboa conheceu esta paróquia da Vigararia Lisboa IV e ficou, nas palavras do pároco, “surpreendido com a vitalidade da comunidade”.

Dos cinco dias de Visita Pastoral, o padre Faustino destaca o contacto com a realidade do Centro Social Paroquial de São Sebastião da Pedreira. “Tal como acontece em algumas comunidades cristãs, nota-se um alheamento mútuo entre a paróquia e o centro social, que pode ficar fechado sobre si próprio, muito organizado naquele serviço que presta, e em que a comunidade cristã nem sempre tem a perceção da obra que realiza”, assume. Referindo que “nem sempre se consegue fazer facilmente essa ponte”, o pároco enaltece a reunião de D. Joaquim Mendes com a direção e o conselho fiscal da instituição. “Foi um encontro que nos proporcionou a realidade do que se passa no centro social e permitiu-nos perceber que temos de ir mais longe, sobretudo para que haja uma identidade do serviço que se presta, em termos de ele estar permeado por valores e por um espírito verdadeiramente evangélico. Isto tem de ser levado ao plano de um ideário pedagógico, para o centro social ter uma proposta que os pais percebam quando lá inscrevem as crianças. A comunidade também tem de perceber que há no centro uma realidade que ela não se pode alhear”, aponta.

As valências do Centro Social Paroquial de São Sebastião da Pedreira, situado nas traseiras da igreja paroquial, são dirigidas aos mais pequenos, com berçário, creche e pré-escolar para cerca de 140 crianças, segundo o padre Faustino.

 

Cuidar dos sem-abrigo

Criada em 1657, a Paróquia de São Sebastião da Pedreira fica situada na freguesia das Avenidas Novas, em Lisboa, tem cerca de oito mil habitantes e divide-se em três zonas: o Bairro Azul, o núcleo perto da igreja paroquial e a zona desde o Parque Eduardo VII até à Artilharia Um. “Uma realidade importante na freguesia, e mais ainda na paróquia, são os sem-abrigo”, salienta o pároco. “Nos anos 30 do século passado, nasceu na comunidade um serviço social, chamado ‘Patronato de São José’, que depois evoluiu para o centro social paroquial. O fundador foi um antigo pároco, o padre António Oliveira Alves, salvo erro, que colocou desde logo uma comunidade religiosa para apoio desta atividade”, conta o padre Faustino. Além do cuidado aos sem-abrigo, esta obra da Igreja “era muito direcionada para a promoção social, a alfabetização e o enriquecimento ‘curricular’ das moças que vinham servir para Lisboa, muitas delas vindas da província”. “O padre sempre quis que elas ficassem com a escolaridade e estivessem apetrechadas para a vida, com os conhecimentos próprios para que depois fossem umas boas donas de casa”, refere.

O pároco de São Sebastião lembra ainda que este seu antecessor “desde sempre percebeu que era uma comunidade de religiosas que poderia ajudá-lo a fazer esse trabalho”. “Essa congregação, que ainda hoje está na paróquia, é da comunidade de São José de Cluny. As gerações vão passando, mas as irmãs têm organizado um serviço de caridade direto e imediato, de apoio aos sem-abrigo, confecionando refeições no centro social paroquial, indo colher aquilo que são as sobras do Pingo Doce, na rua ao lado da igreja, e da pastelaria Versailles, que também ajuda com os bolos. Diariamente são atendidos entre 80 a 100 sem-abrigo na parte da manhã, sendo servida uma sopa e umas sanduíches e, à tarde, um grupo de cerca de 30 também lá aparece. Quinzenalmente, as religiosas fazem a distribuição de cabazes do Banco Alimentar a 35 famílias, o que representa mais de 80 pessoas. Tudo isto são as irmãs de São José de Cluny que organizam e realizam, juntamente com três voluntários da comunidade”, descreve o padre Faustino. A paróquia tem ainda, no seu espaço geográfico, a presença de outras casas religiosas: as irmãs do Sagrado Coração de Maria, que têm um lar para estudantes, situado na Avenida Sidónio Pais, junto à Cáritas Diocesana de Lisboa, e o Instituto Teresiano, no Bairro Azul.

Bem perto da igreja paroquial, a menos de 200 metros, fica situada a Nunciatura Apostólica, a representação diplomática do Vaticano no país. “É tradição dos monsenhores secretários do Núncio colaborarem na paróquia, celebrando Eucaristia diariamente, por norma a primeira Missa da manhã. É uma referência importante para a paróquia e é também uma forma de a comunidade estar mais próxima da Nunciatura”, salienta o pároco.

 

Renovação

Antecedido pelo padre José António Cordeiro, atualmente com 82 anos, e que esteve na paróquia, como pároco, entre 1993 e o passado mês de setembro, o padre António Faustino refere que São Sebastião da Pedreira “é uma paróquia onde as pessoas têm uma boa formação”. Contudo, esta paróquia da cidade tem como “desafio mais premente renovar alguns serviços”. Exemplificando, este sacerdote lembra os vicentinos, “que têm um problema de continuidade”. “Vou tentar ajudá-los para fazermos contactos com as camadas mais jovens da paróquia. A paróquia precisa de descobrir a intergeracionalidade como uma riqueza e fazê-la funcionar, para não se criarem camadas distantes”, observa, destacando que “os jovens, muitas vezes, ficam excluídos porque ninguém os inclui”.

O padre Faustino lembra ainda a necessidade de “criar mais consciência de comunidade”. “A igreja enche nas Missas de Domingo, nomeadamente na Missa das 19h00, mas também na das 13h00, mas falta fazer trabalho para que a comunidade tenha formas de auto perceção de que ela é realmente uma comunidade”, assume o pároco de São Sebastião da Pedreira, uma das mais antigas de Lisboa, fundada no século XVII.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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