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P. Manuel Barbosa, scj
Cantar a ternura
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A noite deste quarto Domingo do Advento é já Santa Noite de Natal. Com o precioso testemunho de João Baptista e de Maria de Nazaré, vivemos três semanas de constante oração, atentos ao Senhor que vem, às atitudes que em nós precisam de purificação para retomar o rumo de Deus e aos irmãos que connosco peregrinam. Esta noite já é Natal, tempo para celebrar e cantar a ternura de Deus plenamente revelada em Jesus Cristo.

Importa ainda olhar e questionarmos como vivemos estes dias. Foram mesmo de encontro com o Senhor ou cansámo-nos a correr em inúmeras festas e ceias apelidadas de Natal nas escolas, nas empresas, nos grupos de amigos, ou ainda em excessivas compras para as ditas prendas também de Natal? Claro que tudo isso faz parte das nossas relações humanas e familiares. Mas será que tivemos tempo, do relógio e do coração, para ir ao essencial, ao sóbrio, ao que vale mesmo a pena e não estorva, para fazer silêncio que fala, como tanto nos ensina o exemplo de vida de João Baptista e Maria?

E como vai ser a noite de Natal? Em família, em comunidade, com amigos, é óbvio, para quem disso puder usufruir. Somos capazes de convidar para as nossas ceias alguém que não tem lugar nas hospedarias da nossa sociedade e até mesmo nas nossas comunidades cristãs? Somos capazes de fazer com que ninguém fique de lado, descartado de ternura e carinho?

É tempo para celebrar e cantar a ternura, nesta noite e sempre! A ternura de Deus, a ternura de Maria e José, a ternura das nossas vidas, famílias e comunidades! No meio das comidas, bebidas e troca de prendas, somos capazes de contemplar e saborear a terna presença do Menino Jesus? Ou continuamos a olhar só para nós e entre nós, deixando-o abandonado e sozinho nas palhinhas? Que prenda lhe vamos oferecer? Ele não precisa que lhe demos coisas, mas que recebamos a prenda de amor e ternura que Ele é em nós. Sem mais! Acolher Jesus no nosso ser, em família e em comunidade, é a grande prenda que lhe podemos oferecer.

E porque não cantar os parabéns a Jesus? Pode ser quase com a mesma letra da celebração dos nossos aniversários: «parabéns a Jesus nesta noite querida, muitas felicidades na sua plena vida. Hoje é noite de festa, cantam as nossas almas, para o Menino Jesus uma salva de palmas». E, ao contrário do gesto habitual, não apaguemos as velas, mas acendamos sete velas antecipadamente preparadas, símbolo da infinita vida de Jesus, para que a Luz de ternura fique acesa a soprar nos nossos corações. E deixemos essas velas acesas durante a ceia e para sempre nas nossas vidas.

Ou porque não rezar ou cantar uma oração de ternura nesta noite? Lembro-me de uma em especial, de Frei Fabretti mas cantada por tantos, entre eles o meu confrade dehoniano Padre Zezinho, de que transcrevo uma parte: «A ti, meu Deus, elevo o meu coração, elevo as minhas mãos, meu olhar, minha voz. A ti, meu Deus, eu quero oferecer meus passos e meu viver, meus caminhos, meu sofrer. A tua ternura, Senhor, vem abraçar-me e a tua bondade infinita vem perdoar-me. Vou ser o teu seguidor e dar-te o meu coração, eu quero sentir o calor das tuas mãos». Para quem não conhece e quiser cantar, basta escrever no Google «a tua ternura, Senhor, vem abraçar-me», que logo aparece uma variedade de gravações.

Nesta Noite Santa, cantemos a ternura de Deus no Menino Jesus! Procuremos não só degustar com prazer as comidas, iguarias e bebidas, mas também saborear com júbilo o alimento que é o terno amor de Deus que em Jesus e no seu Espírito se derrama no nosso coração.