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A revolução tranquila da Irmã Tarawali, na Serra Leoa
Sorriso desarmante
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A Serra Leoa viveu tempos tão duros, entre 1991 e 2002, que ainda hoje há pessoas que se comovem até às lágrimas quando recordam as atrocidades cometidas durante essa guerra civil. Depois da violência, de crueldades inimagináveis, haverá melhor antídoto do que o sorriso humilde e sincero de uma irmã? Na Serra Leoa, as Missionárias Clarissas do Santíssimo Sacramento estão a fazer uma verdadeira revolução. A Irmã Colum Tarawali é uma delas…


Nos longos 11 anos em que a Serra Leoa mergulhou numa das mais violentas guerras que o continente africano já conheceu, ninguém esteve a salvo. Ninguém. Nem idosos ou mulheres. Nem crianças. Ainda hoje, esses anos terríveis ecoam nas conversas e nas memórias. E sobressaltam. Ainda hoje, essas ameaças assustam como fantasmas que teimam em não desaparecer. “Braços longos ou curtos?”, perguntavam os rebeldes quando irrompiam nas aldeias.  “Braços longos ou curtos?” Imagine-se o terror daquelas pessoas, naqueles instantes em que as catanas estavam já erguidas prestes a cumprir a sentença. Dezenas de milhares de pessoas morreram durante esses anos de violência. Mais de 2 milhões foram obrigados a fugir de suas casas. Além dos massacres e das amputações, nessa guerra registou-se um uso massivo de crianças-soldado. Muitas dessas crianças, desses meninos, foram obrigados a pegar em armas. Outros foram deslocadas para as zonas de diamantes, onde, como verdadeiros escravos, tiveram de esgravatar a terra em busca de diamantes, das riquezas que serviam para financiar grupos armados, para a compra de mais armas, de mais munições. Diamantes de sangue, portanto, como ficaram conhecidos. As raparigas não tiveram melhor sorte. Provavelmente nunca se saberá o número real das raparigas e jovens mulheres violadas, como troféus, nesses iníquos anos de guerra na Serra Leoa.

 

Adoração

Muito antes de os homens armados terem espalhado a violência sexual como arma na guerra civil na Serra Leoa, muito antes disso já as raparigas eram violentadas num país que entendia que as meninas não podiam ir para a escola. Mal nasciam estavam já desclassificadas, estavam já condenadas a uma vida difícil, secundária, miserável. Apenas porque eram meninas. A guerra não só não alterou esta realidade como a sublinhou ainda mais. A Irmã Colum Tarawali ainda é jovem. O seu sorriso luminoso contagia todos os que estão à sua volta. Quando era ainda criança, a aldeia onde vivia foi visitada por um grupo de Missionárias: as Clarissas do Santíssimo Sacramento. A Irmã Mary foi uma dessas irmãs. Começou aí, nesse improvável encontro, uma vida nova para Colum Tarawali. “Gosto da missão das irmãs. Elas sacrificam-se por muitas pessoas, trabalham nas escolas, com crianças e doentes.” Numa sociedade onde a mulher tem sido tão desprezada, aquelas religiosas impõem respeito e não foi difícil que Colum Tarawali fosse adoptada como mais uma irmã clarissa. “Eu disse que queria ser irmã, que queria a vida de oração! No início, foi muito difícil, porque o carisma das irmãs baseia-se em Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento e fazem adoração todos os dias. Vamos para a capela e ajoelhamo-nos perante o Santíssimo Sacramento…” Entre sorrisos, a Irmã Colum reconhece que nem sempre é fácil esta nova vida. Mas não se arrepende de nada. “Às vezes, estamos apenas em frente do Santíssimo Sacramento, a olhar para Ele, e sentamo-nos quando estamos cansadas… Mas acabei por gostar de fazer adoração. E hoje sinto-me abençoada, sim, por Deus me ter chamado a ser irmã. Não me arrependo nada.”

 

Tempo novo

A vida de Colum Tarawali mudou quando as Irmãs Clarissas visitaram a sua aldeia. Mas nem todos os pais disseram que sim, nem todas as meninas se deixaram deslumbrar pelas irmãs. No entanto, bastaria o seu caso, a sua história, para justificar todo o esforço, todas as caminhadas de aldeia em aldeia, todas as vezes que as irmãs bateram às portas, todas as vezes que foram recebidas com sorrisos ou escorraçadas com desdém. “Na Serra Leoa trabalhamos com as raparigas e mulheres”, explica a Irmã Colum Tarawali. “Ao todo são já 3 mil raparigas em todas as escolas.” Nessas escolas, estas raparigas resgatadas ao infortúnio aprendem ofícios como jardinagem, costura, cosmética e informática. Também aprendem a cozinhar. Mas não só. Sempre embrulhando as palavras em sorrisos, a Irmã Tarawali explica que as Clarissas espalham a sua missão igualmente pelas paróquias, dando catequese, por exemplo. O resultado não podia ser mais promissor: “As vocações estão a aumentar na nossa congregação!” Num país marcado pela guerra, pela violência extrema, onde as mulheres são secundarizadas logo à nascença, estas irmãs estão a lançar sementes para um tempo novo. Na Serra Leoa, as Missionárias Clarissas do Santíssimo Sacramento estão a fazer, com o apoio da Fundação AIS, uma verdadeira revolução. A Irmã Tarawali é uma delas…

 

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As Irmãs Clarissas da Serra Leoa são apoiadas pela Fundação AIS. Não gostaria de adoptar uma destas irmãs? Não gostaria de ajudar, por exemplo, a Irmã Tarawali? Descubra como pode fazê-lo em www.fundacao-ais.pt

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