Jornal Voz da Verdade

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18.03.2018

Domingo |

� procura da Palavra

A hora

DOMINGO V QUARESMA Ano B

“Chegou a hora

em que o Filho do homem vai ser glorificado.”

Jo 12, 23

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Falamos de “horas boas” e de “horas m�s”, enervamo-nos porque “nunca mais chega a hora”, ou come�amos a preparar o cora��o “muito tempo antes da hora” (tal qual a raposa diz ao Principezinho de Saint-Exup�ry). Jo�o mostra-nos no seu evangelho como Jesus vai preparando tudo e todos para a sua “hora”: a da cruz gloriosa, da vida dada totalmente (e n�o tirada), do amor at� ao fim que inaugura o tempo novo da gra�a abundante de Deus, d’Ele mesmo, elevado da terra, a atrair todos a si. Antes de entrar no relato da ceia de Jesus, que abre para a p�scoa da cruz e da ressurrei��o, aprendemos a li��o do gr�o de trigo que s� morrendo pode dar vida.�

Ver e conhecer Jesus � o desejo dos gregos que v�o ter com Filipe. Desejo que partilhamos com eles, na descoberta do amor radical. O �nico que vence o ego�smo de guardar a vida, e a autossufici�ncia de servir-se e querer ser servido. A hora de julgar o mundo e expulsar o seu pr�ncipe � a hora do amor total de Deus na entrega de amor de Jesus. No bel�ssimo conto “Retrato de M�nica”, Sophia de Mello Breyner Andresen desenha o que pode ser uma vida de ren�ncia “� poesia, ao amor e � santidade”. Contudo, “a santidade � oferecida a cada pessoa de novo cada dia, e por isso aqueles que renunciam � santidade s�o obrigados a repetir a nega��o todos os dias.” Pois “M�nica est� nas melhores rela��es com o Pr�ncipe deste Mundo. (…) N�o � o desejo do amor que os une. O que os une e justamente uma vontade sem amor.” Quando o amor fortalece a vontade, a toda a hora fazemos milagres!

Com um olhar marcadamente sarc�stico e cr�tico, Yasmina Reza escreveu a pe�a “O Deus da Carnificina”, que est� em cena no Teatro da Trindade, em Lisboa. Partindo de um encontro entre dois casais, para resolver um incidente entre os seus filhos menores, assistimos a um cair de m�scaras e quebrar do verniz, numa viol�ncia crescente em que se p�e a nu a hipocrisia, os valores que se adaptam aos interesses pr�prios, a vida ego�sta em “que se ama sem verdadeiro amor”. � uma hora de confronto (e n�o de conforto, ainda que em tom de com�dia) para olhar ao espelho os alicerces das nossas rela��es e comportamentos. Onde encontrar ali a vida que se d� por amor?

A gl�ria de Jesus completa-se na doa��o m�xima na cruz. Toda a sua vida e todo o seu amor � concentrado nessa hora de p�scoa (passagem da morte � vida). Nem os triunfos f�ceis nem a sedu��o das apar�ncias trazem vida que se multiplica. O que nos faz felizes n�o � o que possu�mos e guardamos, mas o que oferecemos e distribu�mos. Deixar para outro dia o bem que � poss�vel hoje, esperar o tudo desvalorizando o pouco, “adiar o cora��o” nas palavras de Ant�nio Ramos Rosa, � desvalorizar a for�a da semente semeada. “Quem sabe faz a hora, n�o espera acontecer”, cantava o brasileiro Geraldo Vandr�. Podemos ter mais horas de p�scoa no tempo que nos � dado?

P. V�tor Gon�alves