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Índia. Campanha da Quaresma da Fundação AIS. Apoiar os “dalits”.
A Santa dos últimos
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Onde a sociedade não via ninguém, ela descobria pessoas a quem estendia as mãos. Por onde os outros passavam, na impaciência e importância das suas vidas, ignorando os moribundos, ela parava, sorria e, com toda a ternura, abeirava-se deles. Antes de a Igreja ter canonizado Madre Teresa, já os mais pobres dos pobres de Calcutá sabiam que ela era santa.


Era pequena, mas tinha uma energia que nunca acabava. Toda a sua vida se resumiu no serviço aos outros, e foi junto dos outros, dos mais pobres dos pobres, dos absolutamente excluídos pela sociedade, dos que morriam nas ruas de Calcutá como se fossem invisíveis, que Madre Teresa viveu e trabalhou muitos dos anos da sua vida. Todos os que a conheceram ficaram seduzidos pela forma determinada como mobilizava vontades, como distribuía tarefas, como transformava, com os seus gestos de amor, a vida de tantas pessoas que o mundo simplesmente desprezava. No ano de 1956, o Padre Werenfried Van Straaten – o fundador da AIS – visitou a “Casa dos Moribundos Abandonados”, em Calcutá, na Índia. Foi aí, nessa casa, nesse ano, que se encontrou pela primeira vez com a Madre Teresa, num tempo em que muito poucos teriam ainda ouvido falar na religiosa albanesa.

 

A Casa dos Moribundos

Naquele tempo, muitas das ruas da cidade eram como esgotos a céu aberto e uma pobreza escandalosa atingia milhares e milhares de pessoas. A sociedade parecia querer ignorar todos aqueles homens, mulheres e crianças que viviam, morriam e se confundiam com o lixo. A “Casa dos Moribundos” foi a resposta de Madre Teresa perante os agonizantes das ruas de Calcutá. Era necessário tratar deles, limpar as suas feridas, dar-lhes o carinho que nunca tiveram em vida. Era preciso sorrir-lhes. Era fundamental dar-lhes amor. O Padre Werenfried entrou nessa casa pela primeira vez nesse já longínquo ano de 1956 e nunca mais se esqueceu, em toda a sua vida, do que viu, nunca mais se esqueceu de Madre Teresa de Calcutá. A anotou-o em livro. “Ela cuida dos abandonados, conseguindo dar-lhes, todas as manhãs, algo sem ser do caixote de lixo; cuida também dos doentes e moribundos…”

 

Gigantesco cemitério

O Padre Werenfried ficou impressionado, nesse primeiro encontro, com a dimensão da tragédia que se estendia pelas ruas daquela já então grande cidade indiana. Impressionou-o a dimensão da tragédia humana e a indiferença de tantas pessoas. Se não fosse a coragem e a ousadia da Madre Teresa e de um punhado de outras irmãs que, com ela, iam de rua em rua a resgatar os moribundos, procurando dar-lhes um mínimo de dignidade, a cidade de Calcutá confundir-se-ia com um gigantesco cemitério. Muitas vezes, provavelmente na maior parte das vezes, pouco haveria já a fazer junto dos que agonizavam nas ruas. Mas Madre Teresa não abandonava ninguém.

 

Amor desinteressado

O Padre Werenfried escreveu as memórias desse ano de 1956, quando visitou a Índia, quando “descobriu” Madre Teresa. “Religiosas e ajudantes de Madre Teresa percorrem as ruas procurando os moribundos, e carregam-nos em macas para a sua casa.” No dia da visita do fundador da AIS à “Casa dos Moribundos”, cerca de 130 pessoas repousavam nessas macas, em longas filas, umas ao lado das outras. “Murchos esqueletos ali estavam esperando a morte: olhos febris escuros olhavam para mim. Mas Madre Teresa e as suas ajudantes ficavam com eles, e, talvez pela primeira vez nas suas vidas, essas pessoas, à beira da morte, experimentavam um amor desinteressado.”

 

Campanha da Quaresma

Sessenta e dois anos depois, a obra lançada por Madre Teresa continua a revelar-se essencial no apoio aos mais desfavorecidos da sociedade indiana, na ajuda aos ‘dalits’, aos sem-abrigo, aos moribundos, aos deserdados da sorte. Aos que continuam a ser invisíveis aos olhos da sociedade. Nesta Quaresma, a Fundação AIS lançou uma Campanha em favor destes homens, mulheres e crianças que não têm direitos na Índia, tal como já acontecia com a multidão de excluídos nos dias em que o Padre Werenfried visitou a “Casa dos Moribundos” em Calcutá. Muitos destes excluídos são cristãos. São milhões mas, apesar disso, não têm direitos e continuam de mãos estendidas à espera da misericórdia dos outros.

 

Imitar Madre Teresa

Seguindo o exemplo de Madre Teresa, não é possível ficarmos de braços cruzados perante tantos rostos em lágrimas, perante tantos milhões de pessoas que lutam todos os dias desesperadamente pela sobrevivência e pela sua dignidade. É aqui que entra a Igreja, procurando dar resposta a todos eles. Procurando ir ao seu encontro, abraçá-los, dar-lhes o conforto de que precisam. Devolver-lhes a dignidade de seres humanos iguais a todos os outros. É aqui que entra a Fundação AIS. E é por aqui que começa a Campanha da Quaresma. Todos nós somos chamados a imitar o exemplo de Madre Teresa de Calcutá. A Santa dos últimos.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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