Lisboa |
20º Interescolas da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC)
“A alegria é um saber importante, tão importante como os outros”
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Cerca de 1300 alunos de EMRC da Diocese de Lisboa reuniram-se, na Amora, para o 20º Interescolas, com os professores a destacar as “mais-valias” da disciplina. O diretor do Secretariado Diocesano do Ensino Religioso, padre Paulo Malícia, aponta como desafios um maior reconhecimento da disciplina no espaço escolar e uma sensibilização maior das famílias cristãs.

 

O Parque do Serrado, na Amora, recebeu, no passado dia 20 de março, pela primeira vez, o Interescolas dos alunos dos 2º e 3º ciclos da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) da Diocese de Lisboa. A 20ª edição desta iniciativa, organizada pelo Secretariado Diocesano do Ensino Religioso (SDER), reuniu cerca de 1300 crianças e adolescentes que, ao longo do dia, participaram em diversas atividades lúdicas, tais como jogos tradicionais e insufláveis.

De Lisboa à Benedita, foram vários os agrupamentos escolares que responderam afirmativamente ao desafio e rumaram até à margem sul do Tejo. Para a professora de EMRC Cátia Tuna, a recente experiência de lecionação no agrupamento das Laranjeiras, em Lisboa, tem contribuído para trazer “mais alegria” para a sua vida. “Esta disciplina ajuda-me a descer à terra, no concreto, e ajuda-me também a ter maior capacidade de me adaptar ao mundo deles. A alegria das crianças e dos adolescentes ajuda-me a viver a minha própria vida com mais alegria. É muito bom!”, partilha.

A zona residencial da cidade de Lisboa onde se insere o agrupamento de escolas das Laranjeiras tem-se mostrado uma “experiência interessante” para esta docente que tem alunos cujas famílias não são religiosas. Há até o caso de “uma parte das famílias ter inscrito os seus filhos em EMRC para lhes oferecerem a formação que, de outra maneira, não conseguem dar em casa”, afirma Cátia, destacando o “acompanhamento mais pessoal e direto” que resulta do facto de ter apenas 10 alunos.

Sobre a disciplina de EMRC, Cátia Tuna destaca três fatores que promovem a valorização das crianças que a frequentam. O primeiro, é o fator de humanização na escola que resulta da “valorização que é feita da relação entre as crianças e os outros, do crescimento em valores humanos, de partilha, de solidariedade” e que, atualmente, está “muito intelectualizado, muito virado para o cognitivo e para o sucesso escolar”. Como contributo para esse desafio, Cátia aponta o Interescolas como um desses momentos que são necessários promover. “Não se trata de uma visita de estudo convencional. Aqui, as crianças aprendem a estar uns com os outros, a divertirem-se e a estarem alegres e a partilhar coisas boas. Alegria é um saber importante, tão importante como os outros”, refere. O segundo fator diz respeito à preocupação pelo conhecimento cultural. “Eu temo que as próximas gerações não saibam decifrar aquilo que existe, em termos culturais, de religioso, nas igrejas. Por exemplo, o que é um crucifixo ou um quadro que relata a vida de Jesus”, explica. O terceiro e “incontornável” desafio da disciplina de EMRC “é a possibilidade de haver uma relação com Deus, uma relação com Jesus”. “Como professora, encontro crianças que têm muitas dificuldades na vida, na família, e é muito bom, para mim, ter a experiência de os ajudar a conhecerem Jesus e mostrar-lhes como é que Ele está sempre ao seu lado nos momentos mais difíceis e dizer-lhes que podem sempre contar com Ele, independentemente de tudo! Esta mensagem de que podem sempre contar com Alguém que não nos abandona é uma mensagem que me fascina e que me dá imensa felicidade em transmitir aos meus alunos”, afirma Cátia Tuna.

 

Surpresa

Margarida, aluna do 3º ciclo, saiu bem cedo do Externato Cooperativo da Benedita, uma das duas instituições de ensino privadas presentes no 20º Interescolas. É a primeira vez que participa nesta atividade e o facto de poder conhecer pessoas novas, da sua idade, contribuiu para a “surpreender”. Apesar de ser uma estreante no encontro, esta aluna frequenta EMRC “há alguns anos”. “Foi sempre uma disciplina mais leve, não é preciso estudar tanto, mas é bom e mesmo quem não tenha religião pode assistir às aulas, porque pode sempre aprender sobre as outras e aprender a respeitar”, sugere Margarida, revelando que na disciplina “se fala de tudo um pouco”. O que a marca mais são estes encontros, como o Interescolas, e as mensagens que passam. “Se pudesse incentivar um amigo meu a participar na disciplina, falava-lhe destes encontros”, aponta Margarida.

 

Sem receitas

Um dos maiores grupos presentes no 20º Interescolas veio do agrupamento de Atouguia da Baleia. A responsável, Susana Pereira, revela “não ter receitas” para ter levado mais de 200 alunos, mas aponta o facto de existir, na sua escola, um “perfil muito vincado” ao nível da disciplina de EMRC. “Quando uma criança entra na escola, sente-se motivada a ir à aula de Moral para ver como é, porque caso contrário sente-se quase a única a não estar matriculada. Depois, ajuda também o facto de termos um professor sempre presente na escola”, aponta a professora Susana Pereira, sublinhando também o “trabalho conjunto” que é feito entre todo o corpo docente.

Nesta profissão há mais de 20 anos, Susana Pereira tem acompanhado o percurso da própria disciplina de EMRC, na tentativa de aproximar os currículos, as próprias interações com as outras disciplinas, com as reformulações que foram acontecendo com os novos manuais e programas. “Tudo isso foi uma mais-valia muitíssimo importante para o reconhecimento da nossa disciplina, equiparando-a com outras”. Da sua experiência pessoal, Susana realça o facto de a legislação atual ter permitido definir melhor qual o papel do professor de EMRC. “Existe uma visão da disciplina como uma disciplina igual às outras e não como uma disciplina menor, ou, sendo facultativa, colocada nas pontas dos horários. Tem sido um trabalho feito pelo secretariado e muito importante para quem está no terreno”, sublinha. Para esta professora, outro dos desafios da disciplina está em afastar a ideia de que o corpo docente está “muito envelhecido” e que, por isso, possa existir “menos disponibilidade para estar com os alunos”. “Penso que este é um desafio muito grande que o professor de Educação Moral continua a ter, entre os alunos: a opção pela disciplina ou pelo recreio, apesar de eu, na minha realidade, ainda não sentir isso”, aponta Susana. “Aquilo que é central é o que, muitas vezes, fica para o fim: os valores. Que personalidades estamos a formar? Que tipo de pessoas nós queremos para o nosso futuro?”, questiona.

 

Dar e receber

Os 203 alunos que Susana Pereira acompanha são “apenas” do 7º e 8º ano. “Nós nunca podemos abrir as inscrições para o Interescolas a todos os alunos da escola porque senão a minha escola ficaria fechada”, observa, revelando que contou com a ajuda de 14 professores para acompanharem os alunos, ao longo do dia, no Parque do Serrado. Os seus colegas, professores, “sentem esta responsabilidade de mostrar que os alunos EMRC são iguais aos outros, divertem-se com os outros, e estas atividades com muitas escolas demonstram precisamente isso”.

Da sua missão de professora, Susana Pereira conta que leva para casa “muito mais” do que deixa aos seus alunos. “O papel do professor é mesmo esse: dar mas receber, porque só assim faz sentido. E eu levo muito... levo muitos ensinamentos dos próprios miúdos que muito generosamente partilham comigo a sua própria vida, os seus problemas, as suas dificuldades. A minha casa recebe muito o fruto daquilo que eu vivo com os meus alunos”, revela Susana.

 

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EMRC: “Uma visão cristã do mundo, uma leitura cristã da realidade”

O diretor do SDER (Secretariado Diocesano do Ensino Religioso) de Lisboa, padre Paulo Malícia, faz um balanço positivo do 20º Interescolas e aponta como desafios o maior reconhecimento da disciplina EMRC e uma maior sensibilização das famílias cristãs para as mais-valias de inscreverem os seus filhos. “Como se trata da 20ª edição, quisemos fazer uma coisa diferente e surgiu esta oportunidade de vir para o ar livre. Acho que estamos a conseguir os objetivos de sempre, que são os alunos estarem juntos, saberem que há mais alunos inscritos na disciplina, brincarem uns com os outros e passarem um dia feliz como comunidade escolar com outros alunos de outras escolas. Se perdermos este sentido de que a escola tem de ser uma comunidade capaz de proporcionar dias felizes, o que é que resta à escola?”, questiona, ao Jornal VOZ DA VERDADE, o sacerdote.

Sobre os desafios que a disciplina de EMRC enfrenta nos próximos anos, o diretor do SDER aponta como prioritário o reconhecimento da disciplina, “com direitos e deveres, como qualquer outra”, e uma maior sensibilização das famílias cristãs que leve a um crescimento das inscrições.

Segundo o padre Paulo Malícia, o reconhecimento da disciplina passa “não só por ter um quadro legislativo – que na sua grande maioria existe –, mas implica também que, na prática escolar, esse quadro legislativo seja tido em conta e isso ainda não acontece”, lamenta o responsável, fundamentando que a disciplina “ainda é vista como um apêndice na escola, como uma disciplina menor”.

Sobre a maior sensibilização das famílias cristãs para as mais-valias de inscreverem os seus filhos na disciplina de EMRC, o diretor do SDER destaca também o trabalho que tem de ser feito internamente para que a disciplina “seja capaz de ser uma oferta apetecível e os pais cristãos reconheçam que isso vale a pena”. “A educação de um filho não passa só pelas disciplinas tradicionais. Passa também, e muito, por proporcionar aos filhos uma visão cristã do mundo, uma leitura cristã da realidade”, aponta o padre Paulo Malícia, indicando também a diferença entre catequese e EMRC que, tantas vezes, não é do conhecimento dos pais na altura da inscrição: “A verdade é que, nos últimos anos, não temos sido capazes de mostrar a diferença. A catequese é uma formação na fé, é uma iniciação cristã; a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica tenta mostrar aos alunos o mundo dos valores e uma leitura cristã da realidade, à medida que eles vão crescendo. É uma cosmovisão feita a partir do olhar do Evangelho”.

texto e fotos por Filipe Teixeira
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