Doutrina social |
Papa anuncia canonização do antigo Arcebispo de El Salvador
O testemunho de D. Óscar Romero
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No dia 23 de Maio de 2015, o Papa Francisco, através do seu representante, declarou que a partir de agora Monsenhor Óscar Romero “se chame Beato e se celebre a sua festa no dia 24 de Março, dia em que nasceu para o céu”. Apresentou-o como “Bispo e mártir, pastor segundo o coração de Cristo, evangelizador e pai dos pobres, testemunha heróico do Reino de Deus.”

 

A caminhada do Pastor

Quando foi nomeado Pároco em 1943 o recém-ordenado manifestou grande dedicação ao múnus pastoral, promovendo associações e movimentos espirituais, incluindo o atendimento aos pobres e aos órfãos. Em 1967 foi nomeado secretário da Conferência Episcopal de El Salvador e em 1970 ordenado bispo por Paulo VI. Viviam-se os tempos agitados do pós-Vaticano II. Mas o seu espírito não manifestava grande abertura aos novos ventos; o seu pendor mais tradicionalista levou-o por vezes a alguma crispação com Bispos e instituições eclesiásticas. Não menos agitada era a situação política e social do país. Quando em 1977 foi designado Arcebispo de El Salvador viu a fogueira das injustiças, da violência do governo militar e dos grupos que combatiam os sonhos de um povo faminto de justiça e de vida digna. Nessa altura já estava sensibilizado para a iniquidade do sistema. Tinha sido marcante o assassinato, em 1975, de vários camponeses que regressavam de uma celebração religiosa. As sucessivas expulsões e mortes de leigos e de padres, nomeadamente do jesuíta P. Rutílio Grande, mostravam ao Pastor cada vez com maior nitidez qual era o caminho a seguir. Decididamente pediu ao presidente do Governo uma investigação, excomungou os culpados, celebrou com cem mil pessoas uma única missa no dia 10 de Março e decidiu não participar em nenhuma reunião com o Governo enquanto não se esclarecesse o assassinato. Além disso promoveu a criação de uma Comissão Permanente para velar pela situação dos Direitos Humanos.

Os três anos como Arcebispo, enfrentando matanças, perseguições, desaparecimentos, ameaças e violação dos direitos fundamentais, constituíram um autêntico testemunho de fé (martírio), dando voz aos que não eram ouvidos e denunciando a violência e a injustiça. No dia 23 de Março de 1980, Domingo de Ramos, fez uma incisiva e vigorosa homilia dirigida ao Exército e à Polícia.

No dia seguinte, pelas seis e meia da tarde, enquanto celebrava a Eucaristia na capela do Hospital da Divina Providência, foi assassinado no altar por um atirador, que logo desapareceu.

 

De Moisés até Romero

O percurso mental e político de D. Óscar Romero pode-se entender mais facilmente quando relemos a nossa história na experiência de fé do Povo de Deus. Há um momento marcante nessa história do passado: Moisés no Horeb, enquanto guarda os rebanhos, apercebe-se da sarça ardente e assume a ordem: “Moisés, tira as sandálias dos teus pés, porque o lugar em que estás é uma terra santa”(Ex 3,5). Terra santa? Sem templo e sem sacerdotes? Sim, “o anjo do Senhor” (o mensageiro) apareceu-lhe na chama de fogo; ele olhou e descobriu o que ignorava: um Deus verdadeiramente arrebatador, que se revela, como Aquele que “vi a opressão do meu povo, ouvi o seu clamor, conheço os seus sofrimentos e – espante-se - desci para o libertar e o fazer subir para uma terra boa” (Ex 3,7). Por um lado é um Deus que se revela próximo; por outro é Alguém que lhe confia uma missão libertadora: “Agora vai; eu te envio ao Faraó” (Ex 3,10).

 

Não basta evitar o mal

A conversão não consiste só, nem em primeiro lugar, em deixar de fazer o mal. Tem um significado muito mais belo e cativante: ver com um olhar novo, mais identificado com o olhar de Deus e, nessa visão, encontrar o sentido motivador para os seus atos. D. Óscar, à medida em que se foi aproximando da situação das pessoas, foi descobrindo que aí pisava terra sagrada, onde Deus mostra quem é Ele e quem é cada um dos seus filhos e filhas, terminando sempre por lançar o desafio: “Agora vai; eu te envio ao Faraó”. Aproximando-se daquela fogueira, na dinâmica daquilo que mais tarde o Papa Francisco chamaria de contrair o “cheiro das ovelhas”, não mais hesitou em seguir essa direção, ainda que tal implicasse o derramamento de sangue, como ele o previu quando afirmou: “Se me matarem ressuscitarei na vida do meu povo”. Já o Mestre tinha percorrido idêntico caminho.

texto por P. Valentim Gonçalves, CJP-CIRP
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