Pela primeira vez em quase nove anos, Asia Bibi, a cristã condenada à morte por blasfémia, foi autorizada a possuir um objecto religioso na sua cela. Trata-se de um Terço oferecido pelo Santo Padre. Para ela é um verdadeiro “milagre”, apesar de poucos acreditarem que alguma vez as autoridades a venham a libertar…
Dia 12 de Março. As guardas femininas da prisão de Multan avisaram Aasiya Noreen Bibi para se preparar, pois tinha visitas. É muito raro esta cristã, mãe de cinco filhos, receber visitas na cadeia. Por lá todos a conhecem apenas por Asia Bibi. É também assim que ela é conhecida desde que, em Junho de 2009, foi presa depois de ter sido acusada por um grupo de mulheres de ter conspurcado um poço de onde tinha bebido apenas um copo de água. Foi acusada de blasfémia e condenada à morte por enforcamento. A sua história correu mundo. Escreveram-se livros, publicaram-se artigos, houve jornadas de oração, abaixo-assinados e manifestações. Tudo isso parece insuficiente para que os juízes do Supremo Tribunal do Paquistão devolvam esta mulher, de 53 anos, à liberdade, aos braços da sua família.
Perseguição aos Cristãos
Asia Bibi reencontrou-se no dia 12 de Março com o seu marido Ashiq e uma filha, Eisham, que tinham acabado de regressar de Roma, onde tinham participado numa iniciativa organizada pela Fundação AIS. Ela sabia dessa iniciativa, em que o Coliseu foi iluminado de vermelho para lembrar ao mundo os Cristãos perseguidos, os mártires do nosso tempo. Para lembrar ao mundo que, em tantos países, não existe liberdade religiosa e que há milhares e milhares de pessoas presas, maltratadas e tantas vezes assassinadas apenas por causa da sua fé, apenas por serem cristãs. É o caso do Paquistão. É o caso de Asia Bibi. Ela sabia da iniciativa da Fundação AIS e aguardava com expectativa o dia em que lhe contassem como tudo correu. Quando Eisham lhe estendeu o Terço oferecido pelo Papa Francisco, e lhe contou o comovente encontro com o Santo Padre, as suas palavras e a certeza das suas orações, foi difícil reprimir toda a emoção. “Um milagre”, disse Asia Bibi. “É pela primeira vez em nove anos que posso ter comigo na cela um objecto religioso”.
“Atirada para a prisão…”
Nove anos de cadeia. Quase nove anos. A vida desta cristã “deu um trambolhão” – como confessou à jornalista Anne-Isabel Tollet (autora do livro “Blasfémia: condenada à morte por um copo de água”) – num dia de Junho. Mais precisamente, no dia 14 de Junho de 2009. Foi nesse dia, em que o sol estava particularmente inclemente, quando decidiu beber um copo de água, que a sua sorte ficou traçada. De nada lhe valeram todas as juras de inocência. De nada lhe valeu explicar a evidência, de que apenas tinha bebido um pouco de água de um poço. “Cinco dias mais tarde, fui atirada para a prisão”. Toda a sua vida, desde então, tem sido atrás das grades. “Desde o dia 19 de Junho de 2009 que vivo amputada das coisas essenciais da vida, coisas em que não se pensa quando não se está sequestrado num calabouço durante muito tempo”.
“Grande consolo…”
O Terço oferecido pelo Santo Padre foi mais do que um simples terço, mesmo sendo oferecido por um Papa. Foi um gesto imenso de solidariedade, a garantia de que nunca estará sozinha durante o tempo em que estiver ainda em cativeiro. “Recebo este dom com emoção e gratidão”, disse Asia Bibi. “Para mim este Terço será um grande consolo, assim como me conforta saber que o Santo Padre reza por mim e pensa em mim nestas difíceis condições que me encontro”. O marido e a filha explicaram com todos os pormenores como foi a jornada de oração internacional organizada pela Fundação AIS e que fez iluminar de vermelho não só o Coliseu em Roma, mas também igrejas em Mossul, no Iraque, em Alepo, na Síria, a Basílica dos Congregados, em Braga e o Santuário do Cristo Rei, em Almada. Asia Bibi agradeceu o empenho de tantas e tantas pessoas pela sua libertação e pela causa da liberdade religiosa no mundo. Uma causa que não pode esmorecer. “A atenção internacional sobre o meu caso é fundamental para mim”, disse Asia Bibi. “De facto, é por isso que ainda estou viva. Agradeço à Ajuda à Igreja que Sofre por tudo o que fazem, não somente por mim, mas por todas as outras vítimas desta lei anti-blasfémia, cujo abuso atinge principalmente as minorias religiosas.”
O veredicto…
Dia 8 de Novembro de 2010. Quase um ano e cinco meses depois de ter entrado na cadeia pela primeira vez, Asia Bibi está frente a frente ao juiz que vai ler a sentença do seu caso. Está sozinha. O ambiente é terrível. Ao fim de cinco minutos para deliberar, o juiz Naveed Iqbal proclama o veredicto “como um trovão”. “Asia Noreen Bibi, em virtude do artigo 295º C do código paquistanês, o tribunal condena-vos à pena capital por enforcamento e a uma multa de 300 mil rupias.” A multidão, que enchia por completo a sala de audiências, irrompeu num forte aplauso. Asia Bibi está a chorar e é a chorar que os guardas a levam para o carro cela, algemada. Quando, no passado dia 12 de Março, se despediu do marido e da filha, provavelmente estaria também em lágrimas. No entanto, tinha consigo e guardava com todas as suas forças, um verdadeiro tesouro: o Terço que o Santo Padre lhe ofereceu e que, a partir de agora, lhe vai recordar todos os dias que não está só, que há milhares de pessoas em todo o mundo que, como ele, rezam e lutam também pela sua libertação.
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