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Pe. Alexandre Palma
Novidade da Páscoa
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A novidade desperta entre nós reacções contrastantes. Nalguns gera um entusiasmo espontâneo, ora assente numa atitude de optimismo perante a vida ora alimentado por uma ingenuidade pueril. Noutros gera uma reacção temerosa, ora decorrente de resistência a toda a mudança ora justificada pela prudência informada. O novo faz assim emergir as esperanças e os medos que trazemos em nós. Por um lado, ele desperta a grandeza a que aspiramos e para que fomos criados. Por outro, ele expõe a precariedade do que somos e daquilo que vivemos.

A Páscoa oferece-se, precisamente, como novidade. Assim a apresenta o próprio Ressuscitado: «Eis que faço novas todas as coisas» (Ap 21, 5)! Sendo passagem, ela é-o para uma «nova Jerusalém», para «odres novos», para uma «nova Aliança», para uma «nova humanidade», para uma «vida nova». Ela é profecia plena de uma novidade possível, porque simultaneamente seu anúncio e realidade. E é-o, ainda, na forma como o novo não é nela uma revolução, mas recriação. Nela se consolida, sim, essa confiança de que algo novo é desejável, de que algo de bom é possível. Mas também que tal se alcança pela transformação do que existe e não pela sua destruição ou, sequer, pela sua substituição. A vida nova do Ressuscitado é a transformação em Deus de toda a sua história precedente. Não é a sua anulação, mas a sua definitiva renovação.

Em tempos abalados por sombras e desconfianças, parecemos, com demasiada frequência, descrer da possibilidade de novidade na vida. Valerá a pena perguntar: Ainda esperamos algo de novo? Ainda acreditamos que uma novidade é possível? Por causa disto, dou comigo a revisitar o antigo diálogo de Jesus com Nicodemos. Já então, bem nos inícios da sua vida pública, Jesus orientava para necessidade de arriscar tudo por uma novidade: «quem não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus». Perante tal indicação, a perplexidade de Nicodemos será humanamente compreensível: «Como pode um homem nascer [de novo], sendo velho» (Jo 3, 3.4)? Mas problemática se torna quando essa justa perplexidade degenera em desânimo e fatalismo. Porque, onde se instala a convicção de que «nascer de novo» não é mais possível, nega-se a força renovadora da Páscoa. Talvez seja precisamente aí que a luz pascal deva começar por incidir. Antes de recriar o que somos, convirá reanimar a alegre certeza de que, na vida, o novo é sempre possível. A primeira novidade da Páscoa talvez seja mesmo essa, que Jesus tão prematuramente já antecipara: é sempre possível «nascer de novo»!