Doutrina social |
Exortação Apostólica ‘Gaudete et Exultate’
Todos chamados e responsabilizados
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“Ao mesmo tempo a santidade é parresia: é audácia, é impulso evangelizador que deixa uma marca neste mundo. Para isso ser possível, o próprio Jesus vem ao nosso encontro, repetindo-nos com coragem e firmeza: ‘Não temais! (Mc 6,50). ‘Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos’ (Mt 28,20)”. (Gaudete et Exultate, 129)

 

Homens sede homens

Quando, em 1967, Paulo VI visitou Fátima deixou uma mensagem espantosa: “Homens, sede homens. Homens, sede bons, sede cordatos, abri-vos à consideração do bem total do mundo”. Dirigia-se a todos os homens, numa fase em que o diálogo da Igreja com o Mundo abria portas, ou não estivéssemos a sair do abanão que o Concílio tinha provocado na Igreja. Hoje, passados cinquenta anos, o Papa Francisco acaba de apresentar a Exortação Apostólica “Gaudete et Exsultate” (“Alegrai-vos e Exultai”) com o mesmo objetivo: “O Senhor pede tudo e, em troca, oferece a vida verdadeira, a felicidade para a qual fomos criados. Quer-nos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa” (1). A mesma mensagem, mas explicitada em relação ao mundo atual; se quisermos, o anúncio da verdade perene para um mundo em constante e profunda transformação, também angustiado com o espetro de uma guerra global. Procura afastar as poeiras e manchas que foram escondendo o esplendor do dom de Deus, deixando-o à mercê de distorções introduzidas pela fragilidade e mesquinhez. Assim aponta duas falsificações, dois inimigos subtis da santidade: o gnosticismo e o pelagianismo, doutrinas condenadas pela Igreja, mas cujas sequelas ainda persistem.

 

Atenção ao conteúdo, não à embalagem

O título da Exortação aponta para o cerne da mensagem: alegria e exultação, que são o sinal de uma vida acolhida como dom e vivida como resposta agradecida a esse dom: uma vida envolvida pela presença de Deus e incompatibilizada com a mediocridade, a superficialidade e a indecisão. Uma exortação a voltar ao que é importante e que Jesus equaciona com uma pergunta: “Que interessa ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua vida?” (Mt 17,26). E essa vida é para todos, como o exprime Santo Agostinho nas Confissões: “Criaste-nos para Vós, Senhor, e o nosso coração está inquieto enquanto não descansa em Vós”.

O Papa fala explicitamente em santidade. Não é uma questão do nome, mas da realidade. Não se trata de renovar a etiqueta, mas sim o conteúdo. Por isso as palavras que usamos exigem atenção ao interlocutor que as vai interpretar; é conveniente utilizar as que melhor transmitem a mensagem. Há tempos uma deputada europeia, num programa televisivo, referia que a partir de certa altura se foi afastando da fé, porque não encontrava correspondência entre o que diziam os textos sagrados e o que ela via acontecer. Será preciso uma longa caminhada para ir restituindo à palavra santidade a riqueza inesgotável que ela encerra; por muitos motivos ela foi ofuscada e encoberta por gestos e atitudes que introduziram as suspeitas no seu significado.

 

A vida é uma missão

Afirma a Exortação no nº 27: “Não é que a vida tenha uma missão, mas a vida é uma missão”; e regista a tentação de “relegar para posição secundária a dedicação pastoral e o compromisso no mundo”. Ao dualismo e à dicotomia que se introduziram na espiritualidade o Papa contrapõe a unidade da pessoa humana.
Durante muitos anos a minha missão moveu-se nas periferias da sociedade; a dimensão da justiça e da paz impunha-se como exigência da fé. E isto por uma questão de coerência entre o que acreditava e o que fazia. “A tua identificação com Cristo e os seus desígnios requer o compromisso de construíres, com Ele, este Reino de amor, de justiça e paz para todos” (25). Bem tentava eu, sem sucesso, dizer às pessoas que este era o meu trabalho como missionário: que não estava a fazer “trabalho social”, eventualmente ocupando o lugar que aos técnicos é devido; que não era um revolucionário ocupado em partir loiça; que não era um ingénuo sonhador movendo-me à margem da realidade. Mas, pelo contrário, porque era livre, sem constrangimentos institucionais, político-partidários ou laborais, eu devia partilhar com os outros, nomeadamente com os carenciados de tantas coisas, algo do que me foi dado, dando-lhes vez e voz. Acreditava nisso; agora as palavras do Papa vêm confirmar essa convicção: “Não te santificarás sem te entregares de corpo e alma, dando o melhor de ti neste compromisso” (25).

texto pelo P. Valentim Gonçalves, CJP-CIRP
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