Artigos |
P. Duarte da Cunha
As raízes cristãs da Europa 3
<<
1/
>>
Imagem

Já em artigos anteriores falei das raízes cristãs da Europa. Num primeiro para evidenciar que há uma espiritualidade cristã que determina a vida dos europeus e que se distingue de outras formas de vida espiritual. Num segundo, tentei ver como os princípios e valores que dão forma à cultura europeia estão marcados pelo encontro com a fé cristã. Tendo isso presente, é impossível não ver, quase como consequência, que a cultura europeia cristã se sente como um bem para todo o mundo. Esta abertura ao mundo determinou toda a história da Europa e define a sua identidade.

Pode-se dizer que nem sempre o que os europeus fizeram no mundo foi santo e que houve muitos abusos. Sabemos que muitas vezes, mais do que a levar a fé, se pensava em trazer riquezas. Não vou dizer que isso é mentira. Certamente nem tudo foi bem feito, e tantas guerras tiveram e têm atrás de si a responsabilidade de europeus. Mas basta olhar para o mundo de hoje e ver que a fé está viva e é importante em África, na América e na Ásia para constatar que a missão que partiu da Europa levou algo que ficou e tem frutificado. Mas a tarefa não acabou. É urgente prosseguir a missão evangelizadora.

Indo para lá do eurocentrismo, penso que é um facto que a Europa teve e terá ainda uma missão no mundo globalizado como o nosso. Se a graça não destrói nem a natureza nem a cultura, mas leva tudo o que é verdadeiro e bom à sua plenitude, então o Evangelho continua a ser a única forma de unir povos com culturas diferentes capaz de valorizar o que é próprio de cada um, e unir o que é diferente. Podemos dizer que a Europa cristã foi decisiva para a instituição de relações entre pessoas e povos muito diferentes.

A missão de propagar o Evangelho tem associado a si, desde logo, o facto de gerar um novo modo de olhar para a vida e para a sociedade. A Europa cristã levou ao mundo uma maneira de pensar a pessoa humana, as relações sociais e a justiça radicada na verdade da natureza e é isso que permite um desenvolvimento humano integral. O simples facto de que o mundo hoje reconhece o valor dos direitos humanos é possível porque a Europa cristã soube descobrir esta síntese e a partilhou.

Este aspecto recorda o método justo da missão, que valoriza todo o bem que encontra e purifica tudo o que está errado ou doente. A missão gera diálogo, mas não indiferença ou relativismo. O que aconteceu na Europa e o que os missionários santos levaram a todo o mundo foi algo que melhorou a vida e exaltou tudo o que de bom existia.

Ainda hoje precisamos de ser missionários para sermos nós mesmos! Uma Europa não missionária é uma Europa doente, triste e deprimida. Como diz o Papa Francisco é como uma anciã, incapaz de gerar nova vida! Creio que isto mostra que a dimensão missionária da Igreja está intimamente associada à caridade. Se amamos todos os homens e mulheres, como Jesus nos ensinou, queremos o bem de todos e, por isso, queremos anunciar o Evangelho a todo o mundo. Não seremos nós mesmos se abafarmos este impulso do coração!

Perceber esta dimensão missionária da Europa como algo que faz parte da sua identidade e, por isso, dizer que esta abertura evangelizadora é uma raiz, mostra duas coias: que a Europa só se reforça como unidade se se abre ao mundo; que esta abertura deve ser orientada pela fé.

Não basta o dinamismo de ir ao encontro dos outros. Se a mover só estão interesses económicos, a Europa não ganha nada e não se encontra. Pelo contrário, isola-se e começa a sofrer tensões externas e internas muito sérias. Se a cultura europeia começa a difundir a ideia de um mundo sem Deus e sem respeito pela vida humana, que despreza a natureza e difunde ideologias materialistas, como marxismo, ou como a do género, não só fará mal aos outros como se desmembrará. A desejada coesão deixa de estar enraizada e cai. É isso que vemos acontecer em tantos países europeus. Também em Portugal!

Daqui a conclusão: não podemos perder a paixão missionária, porque perderíamos a coesão e a identidade! Mas é preciso perceber que a missão tenha um conteúdo e uma referência: Jesus Cristo. Na base da missão está a certeza de que qualquer que seja o lugar ou a época em que as pessoas nascem, todas têm a mesma sede de Deus e experimentam o mesmo entusiasmo ao encontrar Jesus Cristo. É importante abrir-nos aos outros, mas que seja para levar o bem. Se estamos doentes e queremos contagiar todos com a nossa doença não fazemos bem. A missão acontece quando estamos bem e queremos, por amor, que os outros também estejam bem! Só assim a Europa tem futuro!