Lisboa |
‘Conversas em Família’, na Festa da Família
“Não nos podemos esconder”
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A transmissão da fé aos filhos deve ser feita de uma forma “natural”, pelo “exemplo” e “vivência”, mas “sem teatro”. Nas ‘Conversas em Família’, durante a Festa da Família organizada pelo Patriarcado de Lisboa, no passado dia 27 de maio, três casais deram testemunho, destacando a importância de “nunca deixar de propor a fé aos filhos”, participar “na Missa em família” e ser “sinal cristão” para o mundo.

 

Casados há 32 anos, Teresa e Francisco Ribeiro têm quatro filhas, entre os 30 e os 14 anos, e dois netos, com 18 e 6 meses. Cresceram “em famílias católicas”, em que “era habitual a escuta da Palavra”, e conheceram-se na Paróquia de Santa Maria de Belém, onde davam catequese. “Sempre lemos o Evangelho e o partilhámos aos jovens”, referiram, salientando o desejo que sempre tiveram de ter filhos para lhes poder transmitir a fé. “A maior graça que podíamos pedir é que as nossas filhas tivessem fé e a demonstrassem, e acredito que estão bem empenhadas em viver, o mais próximo possível, o que aprendem no Evangelho”, partilhou Teresa, destacando a importância de “fazer o esforço para ler sempre a Palavra de Deus em casa e ir à Missa em família e depois comentar as leituras e a homilia”. A pertença a uma Equipa de Casais de Nossa Senhora marca este casal, mas “marca também” as filhas. “Elas perceberam que há outros casais que vivem de forma semelhante à nossa e habituaram-se a ver-nos rezar e a partilhar a Palavra”, frisaram. Teresa e Francisco Ribeiro sublinharam também a criatividade. “Temos de aproveitar o que vai acontecendo ao longo do dia e irmos nós, pais, fazendo as pontes com o Evangelho”, destacaram.

Leonel Oliveira está casado há 14 anos com Elisa, com quem tem cinco filhos, e assegurou que “a transmissão da fé não acontece por acaso”. “É fruto de uma caminhada. Rezamos antes de comer, antes de dormir, quando vamos a caminho da escola. Tentamos fazer isto diariamente e aos Domingos temos também a oração de Laudes, em que rezamos em família”, partilhou, destacando também a “participação, em família, na Eucaristia”. “Eles caminham connosco, numa comunidade de irmãos”, salientou este leigo, que pertence ao Caminho Neocatecumenal, lembrando a “importância do exemplo”. “Tentamos viver a fé na nossa vida, enquanto casal, que depois, naturalmente, passa para os filhos”, contou.

Também com cinco filhos, entre os 22 e os 8 anos, Maria e Filipe Núncio casaram há 23 anos, pertencem ao Movimento Apostólico de Schoenstatt e procuram sempre “ler com os filhos as leituras antes de ir para a Eucaristia”. “Nem sempre o conseguimos, mas procuramos que eles nos digam o que aquele Evangelho lhes quer dizer, em cada uma das suas realidades. É muito engraçado verificar como cada personalidade interpreta as leituras de uma forma diferente, em relação à circunstância e à vida de cada um”, contou o pai desta família da Paróquia de Paço de Arcos. “É muito interessante partilhar isto, à refeição, onde estamos todos juntos, rirmo-nos com os comentários e ver as diferenças tão interessantes que podem haver, de quem adere ao Evangelho de uma forma mais racional ou de uma forma mais vinculativa ou mais emocional, mais afetuosa”, acrescentou. A mãe, Maria, observou “a diferença” entre as raparigas e os rapazes. “Com elas é simples, porque se questionam, os rapazes disfarçam um pouco e por vezes a reflexão surge mais tarde”, contou.

 

As novas tecnologias

No pavilhão do Externato de Penafirme decorreu, no passado Domingo, 27 de maio, a Festa da Família, organizada pela Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa. Após a oração da manhã, com o Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, as ‘Conversas em Família’ foram moderadas por Paulo Rocha, jornalista da Agência Ecclesia, tendo sido salientado, pelas três famílias presentes, a importância das novas tecnologias para a oração. A família Núncio, por exemplo, tem um grupo na rede social WhatsApp onde “são trocadas mensagens, partilhadas orações, dias de santos ou as datas de batismo da família”, revelou a mãe Maria.

Elisa e Leonel, que enquanto casal rezam diariamente as Laudes, utilizam agora “o telemóvel”, “em vez do livro da Liturgia das Horas”, por ser “muito mais prático e fácil”. “As novas tecnologias vêm facilitar a oração em família”, assegurou Elisa.

Teresa evidenciou a “ferramenta fundamental” que é “o Evangelho Quotidiano”, acessível nos telemóveis e no computador. “Chegamos ao trabalho e temos, no email, o Evangelho Quotidiano. Essa leitura orienta o dia”, garantiu.

 

Transmitir a fé

Neste diálogo sobre ‘A Família: da escuta da Palavra à transmissão da Fé’, Francisco Ribeiro sublinhou a importância do exemplo, mas alertou: “Nós temos de dar o exemplo, mas se estivermos preocupados com dar o exemplo vai sair disparate e acabamos a fazer teatro. A dificuldade disto é que seja uma coisa que é vivida. Temos de ser sérios e honestos nas coisas que fazemos”.

Elisa frisa que na sua família “não se rezava nem ia à Missa”, enquanto a família do marido vivia “um ambiente cristão”. “Foi o Leonel que me deu a conhecer a Igreja”, salientou. Hoje, para o casal Oliveira, “a transmissão da fé acaba por ser natural”, de forma particular “quando as coisas começam a fazer sentido”.

Para Filipe Núncio, a transmissão da fé “passa por várias fases”. “Quando os filhos são mais novos, é pelo exemplo e pelas vivências, mas quando eles começam a ganhar a sua razão é importante que se explique que Deus está acima de tudo e é o mais importante da vida deles”, explicou, lembrando que, como pais, propõem “caminhos” e fazem “propostas”, mas “sem forçar”, porque “quem tem de tomar decisões são os filhos”. “Graças a Deus, temos filhos que são catequistas, que participam em missões, em grupos de jovens”, enalteceu. A esposa, Maria, exemplificou com o Terço: “Nós, casal, procuramos rezar o Terço todas as noites e dizemos somente aos filhos: ‘Quem quiser ficar, fica’. Há quem reze connosco muitas vezes, há quem reze menos, há dias em que alguém reza somente um mistério… mas nunca deixamos de propor”.

 

Missa em família

No pavilhão do Externato de Penafirme, a importância de “ir à Missa em família” foi também destacada pelas famílias convidadas pela Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa para dar testemunho. Maria Núncio diz “não ser fácil conciliar agendas e amigos”, mas assume que, nos fins-de-semana, “primeiro decidimos a que Missa vamos”. “Eles acham um bocado ridículo e dizem que não temos de ir todos juntos à Missa, mas é importante irmos todos juntos”. Também Leonel diz que a sua família procura que “a Eucaristia, a celebração da comunidade, seja um momento em família”. “Sempre com os filhos”, manifestou.

Teresa lembrou que “quando os filhos são pequenos é mais fácil organizar a ida à Missa em família”. O marido, Francisco, refere que, pelas idades das filhas, “elas já estão numa idade de dispersão – uma até já se casou”. “Importante é saber que vão, que estão e que pertencem”, garantiu.

 

Ser sinal no meio profissional

Como acontece a transmissão e o testemunho da fé fora da paróquia, no trabalho ou com os amigos? “É complicado… muitas vezes até dentro da família”, assume, desde logo, Leonel, dando o exemplo da reação das pessoas ao facto de ter cinco filhos. “Muitas vezes, é difícil viver esta realidade. Vou-me apercebendo que tudo isto é muito superior às nossas forças. Quando se tem três, quatro, cinco, doze, trezes filhos rapidamente percebemos que é dom de Deus e que é Deus que tem de fazer a história. Nem toda a gente concorda o facto de termos cinco filhos, mas na razão da fé percebe-se”, realça, dando ainda outros exemplos do dia-a-dia: “As pessoas acham estranho, e ficam muito sérias a olhar, porque quando vamos a um restaurante, rezamos e benzemo-nos antes da refeição. Ou se vamos no carro com um colega e está a dar o Terço, não se desliga o rádio. É fundamental ser este sinal, para os colegas, amigos e familiares, mas também para os filhos”.

O testemunho no ambiente profissional e com amigos, segundo Francisco, acontece “naturalmente”. “No trabalho, não dou catequese, mas se vier a propósito falamos de assuntos da realidade que vai acontecendo, das leis que vão saindo ou estão em preparação, e manifesto a minha opinião de católico”, aponta. A mulher, Teresa, professora universitária numa universidade pública, salienta que “todos sabem” que é católica. “Há certas conversas que alunos ou colegas têm comigo porque sabem das minhas crenças. Procuro não perder a oportunidade para passar a mensagem e os valores em que acredito”, realça.

Para a família Núncio, “o mais importante, sem qualquer tipo de arrogância, é não esconder que somos católicos e quais são as nossas convicções”. “Sempre que nos apelam a uma resposta num tema fraturante, temos de ter o ‘trabalho de casa’ bem feito e, com muita naturalidade e humildade, darmos o nosso testemunho de cristãos no mundo. Não nos podemos esconder”, referiu Filipe, salientando que “o apostolado é feito pelo exemplo, pela palavra e pela oração”. “A palavra deve ser o último recurso, porque o exemplo é muito mais forte”, garantiu.

 

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“A unidade é a comunhão”

O Cardeal-Patriarca de Lisboa desafiou os casais a viverem uma vida partilhada. “A unidade não é a individualidade, um para cada lado. A unidade é a comunhão, porque Deus é comunhão. Deus é amor, quem não ama não conhece a Deus. Pode ter a boca cheia de Deus, mas não conhece a Deus se não vive a vida partilhada”, lembrou D. Manuel Clemente, na Missa de conclusão da Festa da Família. “Nada é tão importante como o testemunho das famílias cristãs para que este mundo seja a família de Deus, através da ação da Igreja, esta Igreja santa dos batizados que aprende em Jesus Cristo para comunicar aos outros”, acrescentou.

No pavilhão do Externato de Penafirme, em A-dos-Cunhados, o Cardeal-Patriarca pediu acompanhamento: “Cada ato de verdadeira solidariedade e partilha que aconteça nas vossas famílias, onde cada um, cada uma, desde a conceção à morte natural, seja realmente acompanhado, isto é família de Deus no mundo”.

Nesta celebração no Domingo da Santíssima Trindade, D. Manuel Clemente sublinhou que “é na família que aprendemos que Deus é em si mesmo uma comunhão, que Deus é em si mesmo uma vida partilhada, que Deus não é um indivíduo celestial que vive sozinho e nos olhe de fora”. “A revelação que Jesus nos faz de Deus como um só em três Pessoas, quer dizer uma vida que se tem, uma vida que se dá, uma vida que se retribui, uma vida que se partilha, e assim é Pai, e assim é Filho e assim é Espírito”, frisou.

 

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A Festa da Família, tal como é tradição, teve início com a oração da manhã, presidida pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente. Ao longo do dia, houve ainda a Feira Familiar, o piquenique, uma sessão cultural e a Eucaristia com a celebração das bodas matrimoniais (para os casais da diocese que, em 2018, celebram 10, 25 e 50 e mais anos de casamento), onde foi batido o recorde do casal cujo matrimónio foi há mais anos: 63.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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