O Cardeal-Patriarca de Lisboa presidiu, no passado dia 16 de junho, à 1ª Festa em Honra de São João Batista, na Ilha da Berlenga, e benzeu um nicho e a nova imagem do padroeiro. A iniciativa gerou “união e comunhão”, fez “ultrapassar barreiras e divisões” na comunidade piscatória local e fortaleceu a “vontade de acreditar”, salienta o pároco de Peniche.
‘Queres ver os homens unidos, põe-nos juntos a construir uma catedral’. A expressão centenária, lembrada pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, aplicou-se à povoação da Ilha da Berlenga, em Peniche. No caso, não se tratou de uma catedral, mas de um nicho. A bênção daquele espaço e da imagem de São João Batista, padroeiro do pequeno bairro e ligado historicamente à construção do forte da ilha, foi um fator de união e comunhão entre a reduzida – mas empenhada – população sazonal local. “O desejo que sentiram de ultrapassar barreiras e divisões e o desejo de reconhecerem uma presença nas suas vidas” foi o grande impulso da primeira festa religiosa daquela ilha, garante, ao Jornal VOZ DA VERDADE, o pároco de Peniche, padre Diogo Correia.
Tudo começou há 3 anos, com o envolvimento da comunidade piscatória e suas famílias nas festas da cidade de Peniche, dedicadas a Nossa Senhora da Boa Viagem. Levar o mesmo “espírito de comunhão” para a Ilha da Berlenga foi o objetivo dos pescadores que povoam a ilha. “No ano passado, surgiu a ideia de fazermos uma festa religiosa na Ilha da Berlenga, com a construção de um pequeno oratório ou nicho, onde ficasse a imagem do santo padroeiro guardada durante todo o ano”, explica o padre Diogo, que garantiu, desde logo, o apoio da paróquia a este desejo. Os trabalhos de preparação conseguiram até um feito “inédito”: “No último Natal, conseguiu-se juntar, à mesma mesa, todos os pescadores”.
O passo seguinte foi chegar a acordo quanto à escolha do santo. A tarefa revelou-se fácil e teve em conta o “elo com o passado”, que passou por gerações. A partir da imagem de São João Batista, encontrada no forte da ilha e hoje entregue ao cuidado do museu da Câmara Municipal de Peniche, foi construída uma réplica, de forma a preservar a imagem das condições atmosféricas mais adversas e, ao mesmo tempo, ser uma presença visível para toda a comunidade piscatória daquela ilha, bem como para os visitantes.
Envolvência
Para Pedro Nunes, pescador e um dos residentes na Ilha da Berlenga, uma das maiores dificuldades para a construção do nicho e a realização da festa foi a obtenção de licenças. “Isto é uma reserva e não é nada fácil conseguir tudo isto. Foi muito difícil, mas estão agora, aqui, os frutos”, comenta, satisfeito, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Este membro da comissão que organizou a festividade, sublinha a devoção que é muito própria dos homens que trabalham no mar. “São João Batista é o santo protetor da ilha e dos pescadores. Há que acreditar nessa devoção e envolvência. Nós, com a pesca, e com os dias maus de mar que apanhamos, temos que ter essa crença e essa vontade de acreditar nessas situações”, refere Pedro, lembrando os três fins-de-semana seguidos que os pescadores daquela ilha ficaram sem trabalhar para garantir todos os preparos do acontecimento. “O objetivo era poder juntar a malta toda da pesca. Não foi fácil, mas conseguimos. Estamos todos de parabéns”, afirma.
Rejuvenescimento
A travessia entre o porto de Peniche a ilha da Berlenga raramente é tranquila. As ondas de dois metros atravessam a rota, mas não afastam as embarcações do seu destino. Habituado ao trabalho de transportar passageiros entre o continente e o arquipélago das Berlengas, David Completo, de 28 anos, explica ao Jornal VOZ DA VERDADE porque se tem notado, desde 2011, um aumento de pescadores residentes, mesmo que sazonalmente, na Ilha da Berlenga. “Com a crise, houve um crescendo de pessoal que gostava de pescar que era de Peniche ou arredores, e que foram perdendo os seus trabalhos. Então, houve um aumento do número de pescadores de lanchas que pescam na zona da Berlenga. Nessa altura, a comunidade que estava um bocadinho adormecida e desapegada voltou a unir-se, resolvendo também alguns problemas e conflitos que haviam com a atribuição dos abrigos dos pescadores”, refere. Atualmente, a Ilha da Berlenga conta com 16 abrigos para os pescadores e respetivas famílias. No total, somam pouco mais de 30 pessoas.
Contentamento
Apoiante, “desde a primeira hora”, desta iniciativa, o Cardeal-Patriarca de Lisboa presidiu às celebrações da 1ª Festa em Honra de São João Batista, na Berlenga, Peniche. Mesmo no centro da “povoação” da ilha, que já visita desde os anos 50, D. Manuel Clemente começou por parabenizar a comunidade local pelo trabalho realizado e demonstrou o “contentamento de Deus” por aquela iniciativa. “Como é bom estarmos aqui, neste local maravilhoso e neste sítio tão bem arranjado. Isto é algo que dá muito contentamento a Deus. É para isto que Deus nos cria. Deus criou-nos como humanidade, salva-nos como um povo. É isto que dá muita alegria a Deus!”, afirmou.
Na celebração da Palavra que antecedeu a bênção da imagem de São João Batista e do nicho onde vai permanecer durante todo o ano, o Bispo da única diocese portuguesa que tem, no seu território, um arquipélago, pediu a todos os pescadores que o episódio evangélico onde Jesus fala na barca de Pedro possa acontecer nas barcas de cada um dos pescadores ali residentes. “Cada um, através da sua faina, da sua embarcação, continue a levar Jesus e, através de quem lá vai, Ele continue a falar. Nós, os cristãos, acreditamos que aquilo que Deus nos disse na vida de Jesus Cristo, agora é repetido por todos quantos, no Espírito de Jesus, continuam a repeti-lo também: palavras de paz, fraternidade. Que isto continue agora nas vossas barcas, para que a obra de Jesus, a aventura do Evangelho, a fraternidade universal, o mundo como Deus o sonha, aquilo a que Jesus chamava de ‘o Reino do Pai’, continue a acontecer”, desejou D. Manuel Clemente.
Depois de benzida a imagem e colocada numa embarcação, as restantes embarcações engalanadas seguiram em procissão ao largo da ilha.
No rescaldo desta festa, o padre Diogo Correia aponta como desafio “continuar a acompanhar esta iniciativa e levar este sinal de alegria e entusiasmo para a vida de toda a comunidade paroquial”. Este sacerdote destaca ainda a “proximidade e o acompanhamento pessoal” que tem procurado realizar junto da comunidade piscatória da Berlenga. “Eles acolhem-me como um dos seus. Faz-me muito bem. Só me falta ir pescar com eles”, refere, sorridente.
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As fotos da 1ª Festa em Honra de São João Batista, na Berlenga, estão disponíveis em www.flickr.com/patriarcadodelisboa/sets
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