Entrevistas |
Movimento dos Convívios Fraternos celebra 50 anos
“Proporcionar um encontro de anúncio querigmático”
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Não é um movimento de acompanhamento, mas de anúncio. O Movimento dos Convívios Fraternos celebra 50 anos e ambiciona voltar a organizar um Convívio no Patriarcado. O jovem Rui Teixeira, da organização em Lisboa da presença da Cruz Jubilar deste movimento, apresenta ao Jornal VOZ DA VERDADE esta experiência de fé.


O Movimento dos Convívios Fraternos está a celebrar 50 anos. Que realidade cristã é esta?

O movimento nasceu no Norte, em 1968, pelas mãos do padre António Valente de Matos, que é de Avanca. Na altura, este sacerdote era capelão militar e tentou criar uma experiência forte de encontro com Deus, para jovens. O padre Valente de Matos tinha muitas atividades com os militares, particularmente com os jovens, e teve essa primeira experiência que depois se foi alargando, chegando a várias dioceses e mesmo lá fora. Como sabemos, há muitas comunidades portuguesas no estrangeiro, em França, no Luxemburgo, no Brasil e em Moçambique, e o movimento foi crescendo. Sempre nesta perspetiva de proporcionar um encontro de anúncio querigmático. O Movimento dos Convívios Fraternos não é propriamente um movimento de acompanhamento, como fazem outros movimentos, é antes um movimento de anúncio.

 

De que forma fazem esse anúncio?

O movimento organiza o chamado ‘Convívio Fraterno’, um encontro de três dias, de jovens para jovens. Portanto, jovens a partir dos 17-18 anos, até aos 30-35. É uma equipa de jovens, que já fez esta experiência e que está ligada ao movimento, que proporciona a outros jovens esta experiência. A estrutura, ao longo dos três dias, é um pouco mantida em segredo, nós nunca sabemos bem quais são os percursos, mas no fundo o objetivo é conduzir os participantes a reencontrarem-se com Cristo. Muitas vezes já se encontraram, alguns são batizados, outros não, mas pretende-se suscitar a consciência do que é a sua vocação cristã, que é uma vocação universal à santidade. A partir daí, desenrolam-se todos as outras descobertas e caminhos.

 

Como decorrem os Convívios Fraternos?

O Convívio tem sempre uma estrutura muito bem definida, não é apenas um encontro. Claro que a pessoa que vai participar pela primeira vez não tem ideia, mas são três dias muito intensos em que o jovem faz um caminho de olhar para si, para a sua história de vida (‘1º dia’), depois temos um olhar para Deus e para as conceções que tem de Deus (‘2º dia’) e finalmente o convite a olhar para os outros, para a comunidade e para a Igreja (‘3º dia’), que é o Corpo de Cristo. Com esta proposta de três dias, o jovem vai fazendo estas descobertas ou redescobertas. De referir que nestes 50 anos foram organizados quase dois mil Convívios Fraternos, que proporcionaram esta experiência a cerca de 50 mil jovens.

 

O último Convívio Fraterno no Patriarcado decorreu há vários anos. Porquê festejar o 50º aniversário do movimento em Lisboa?

A Cruz Jubilar do movimento, que é uma cruz peregrina, está a percorrer todas as dioceses do país e também as dioceses no estrangeiro onde o movimento está presente. Há muitos convivas que fizeram a experiência de Convívio fora de Lisboa, noutras dioceses, mas que atualmente estudam ou residem na diocese. Por isso, quisemos que a Cruz Jubilar não deixasse de passar também em Lisboa e não deixasse de recordar que o Patriarcado também já tinha recebido Convívios Fraternos, embora já não receba há cerca de 12 anos. Tentámos, assim, reanimar um pouco o espírito dos Convívios Fraternos em Lisboa.

 

Congregaram os jovens em Lisboa?

É engraçado verificar que Lisboa tem jovens convivas de várias dioceses que organizam reuniões, semanalmente ou quinzenalmente, para rezar, para conversar e para falar um pouco do percurso daquilo que é o seu ‘4º dia’. É que depois dos três dias de Convívio Fraterno, temos este ‘4º dia’ mais longo, que dura até à eternidade, e é bom conversar e partilhar sobre como vai correndo esta etapa. Estes encontros decorrem em vários locais de Lisboa e reúnem jovens convivas, abrindo-se sempre a jovens não convivas. Por isso, durante a permanência da Cruz Jubilar em Lisboa, procurámos levá-la a alguns desses sítios onde os jovens se encontram, para rezarmos com eles junto à Cruz.

 

A Cruz Jubilar esteve em Lisboa entre os dias 8 e 17 de junho. Que encontros foram organizados?

Tivemos três encontros em Lisboa. Um primeiro encontro de receção da Cruz Jubilar, na capela do centro comercial das Amoreiras, onde estiveram presentes os convivas mais antigos, portanto aqueles que fizeram o Convívio há mais anos. Depois fizemos, na Capela de Nossa Senhora das Dores, em Entrecampos, um encontro onde tivemos o senhor D. Nuno Brás connosco e onde rezámos o Terço. Foi bom, porque o senhor Bispo também não conhecia muito bem o movimento e foi uma forma de dar a conhecer aos Pastores da Igreja de Lisboa o movimento. Finalmente, tivemos o encontro de encerramento, em São Jorge de Arroios, com o testemunho do João Delicado e onde fizemos a renovação dos nossos compromissos.

 

Esteve na organização da presença em Lisboa da Cruz Jubilar do Movimentos dos Convívios Fraternos. Que balanço fazem desta iniciativa?

Fazemos um balanço positivo. Os programas nas outras dioceses foram mais alargados – e a Cruz Jubilar tem estado mais tempo –, mas em Lisboa quisemos sobretudo trazer a experiência que ainda vive na diocese. Conseguimos reunir muitos convivas de outras dioceses que vivem em Lisboa, para que as pessoas se conheçam e saibam que há mais convivas como elas. Por outro lado, participaram também outras pessoas, não convivas, o que proporcionou uma oportunidade de conhecerem o movimento. Para os estudantes, foi muito útil, porque são pessoas que, muitas vezes, estão transitoriamente em Lisboa e é bom sentirem-se em casa com outros convivas.

 

Neste processo de reimplantação do movimento em Lisboa está prevista a criação de alguma estrutura?

Atualmente, não é possível fazer um Convívio Fraterno em Lisboa. Temos uma grande expectativa de voltar a ter essa possibilidade, mas é necessária uma estrutura para conseguir organizar isso. É necessário um grupo que o possa fazer, é necessário depois também um diretor espiritual, sacerdote, que idealmente terá já feito também a experiência do Convívio. Este grupo que preparou a visita da Cruz Jubilar tem vindo a trabalhar nesse sentido e tivemos a hipótese de colaborar com um sacerdote, que era de uma congregação e acabou por sair da diocese… O nosso objetivo agora é trabalhar com alguma estrutura, principalmente de pastoral juvenil em Lisboa, para nos ajudar levar a cabo um próximo Convívio Fraterno.

O movimento tem um secretariado nacional, algumas dioceses têm também secretariados diocesanos, e a primeira ambição é voltar a acontecer um Convívio Fraterno no Patriarcado e ter jovens de paróquias e movimentos de Lisboa a participar. A estrutura diocesana depois logo se vê, mas muitos de nós, convivas, sentimo-nos lisboetas e tentamos, apenas, dar vida ao movimento.

 

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Perfil

Rui Teixeira, de 31 anos, esteve envolvido na organização da presença em Lisboa da Cruz Jubilar do Movimento dos Convívios Fraternos. Este jovem da Paróquia de São Paulo, na Diocese de Setúbal, participou no Convívio Fraterno nº 1135, realizado em novembro de 2010 – curiosamente, o ano em que a Conferência Episcopal Portuguesa aprovou os estatutos do movimento –, no Lar de Férias da Casa do Gaiato de Setúbal, na Serra da Arrábida, com mais cerca de 40 jovens. “Fiz o Convívio Fraterno há 8 anos, na caminhada escutista, convidado por uma amiga, também escuteira. Já tinha sido várias vezes convidado e a verdade é que, muitas vezes, o Convívio começa exatamente assim, com um convite de outra pessoa. Não quer dizer que os jovens não possam encontrar o movimento noutras circunstâncias, através de um cartaz, por exemplo, mas normalmente há este convite pessoal de alguém que já fez um Convívio”, explica este jovem, lembrando-se, “em particular, do testemunho de uma senhora da Diocese de Setúbal que fez o Convívio nº 4”.

Por trabalhar em Lisboa, mais concretamente no Hospital de Santa Maria e na Faculdade de Medicina, Rui frequenta atualmente a Paróquia de São Tomás de Aquino.

 

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“Convívios Fraternos foram uma experiência intensíssima”

Hoje com 40 anos, João Delicado fez o Convívio Fraterno há 20 anos. “O Convívio ‘apanhou-me’ como estudante universitário, em Lisboa. Sou de Oeiras e, na altura, morava no Dafundo, perto de Algés, e andava na Faculdade de Arquitetura, no Alto da Ajuda. A minha família é de um contexto tradicionalmente católico, portanto a descoberta da fé não teve assim nenhuma novidade especial. Fiz toda a catequese, simplesmente era uma fé daquelas que, aos 16-17 anos, não tem propriamente muita chama. Na faculdade, conheci uma pessoa, a Estela Cameirão, que foi minha colega de curso, que me ia falando das coisas de Deus. Achei aquilo muito original, porque ela falava de uma maneira que eu não conhecia. Já tinha ouvido falar muitas vezes de Deus, mas não daquela maneira”, contextualizou João Delicado, num encontro organizado pelo Movimento dos Convívios Fraternos, que decorreu na noite do passado dia 17 de junho, na Paróquia de São Jorge de Arroios, em Lisboa.

Neste testemunho sobre a sua vida de conviva, João recordou que foi esta colega de Évora quem lhe apresentou o Movimento dos Convívios Fraternos. “Só no 3º ano do curso, a Estela me convidou para fazer o Convívio. Fui fazer o Convívio a Évora, ao Seminário de Vila Viçosa, nos dias 27, 28 e 29 de dezembro de 1997. Apesar do ambiente frio do seminário, havia o contraste com uma experiência quente. Porque o que mais me impressionou no Convívio foi o calor humano, primeiro, de sermos acolhidos como se fizéssemos parte de uma família; depois, entrar naquela alegria de efusividade dos cânticos; e, finalmente, os testemunhos, que era assim o mais substancial”, partilhou, recordando que “foi na parte dos testemunhos” que encontrou mais pessoas como a sua amiga da faculdade: “De repente, tinha jovens da minha idade a falar da fé como nunca tinha ouvido, e que me souberam explicar coisas que eu ainda andava a pensar. Foi uma experiência intensíssima. Foi de tal maneira intenso, que percebemos, eu e os outros convivas, que não podíamos ficar parados. O Convívio deu-me um ‘empurrão’ sério para me empenhar pessoalmente na Igreja”.

 

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“Experiência muito forte de Deus”

O Bispo Auxiliar de Lisboa D. Nuno Brás considera que o Movimento dos Convívios Fraternos são “uma experiência muito forte de Deus” e “uma experiência comunitária muito importante”. “Os Convívios formam pessoas, mas endereçando-as sempre para a realidade paroquial. Certamente, são uma experiência muito forte de Deus, uma experiência comunitária muito importante e depois conduzem a uma outra experiência comunitária que é a experiência do dia a dia, do quotidiano. Podemos fazer esta experiência forte de Deus, mas se depois não existir este quotidiano, este perceber que Deus se mete connosco em cada momento do nosso dia, aqueles dias esvanecem-se com alguma rapidez”, salientou, à Agência Ecclesia, o prelado, que presidiu à oração do Terço, na Capela de Nossa Senhora das Dores, no bairro do Rego, em Lisboa.

 

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No Patriarcado de Lisboa, entre 1980 e 2006, realizaram-se 27 Convívios Fraternos, tendo participado 1248 jovens.

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