Doutrina social |
A vida
Cultivar a esperança
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Somos surpreendidos por acontecimentos que ainda no dia anterior eram imprevisíveis. Este tempo é fértil nessas surpresas que nos revelam o mais belo da vida e do seu contexto, mas também o mais baixo e mesquinho que a ensombra. No meio de tudo somos chamados a ser “alegres na esperança” seguindo a exortação de Paulo aos Romanos (Rom 12,12).

 

O despertar de um sonho e a utopia da paz

Depois de uma guerra feroz não terminada e com décadas de ameaças, barreiras e azedume nas palavras no seio de um mesmo povo, cortando as asas à utopia da paz, vimos com alegria a realização dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2018, em PyeongChang, transformados em símbolo da aproximação das duas Coreias, que desfilaram sob uma mesma bandeira, com a presença da irmã do líder norte-coreano e do presidente honorário Kim Young-nam.

Encerrados no dia 25 de Fevereiro, tivemos logo no dia 27 o encontro entre os líderes Kim Jong-un e Moon Jae-in, na Zona Desmilitarizada, finalizado com a assinatura de um tratado em que os eles se comprometem com “uma nova era de paz”. Embora esse futuro se encontre envolvido numa nebulosa, poder-se-á dizer que foi uma janela que se abriu com uma lufada de ar fresco.

Um novo passo se foi perfilando no horizonte com a hipótese de um encontro entre o líder norte-coreano e o presidente do Estados Unidos, país inimigo de estimação, agora representado por alguém que meses atrás afirmara alto e bom som que iria tratar da questão coreana com “fogo e fúria”. Esse concretizou-se no dia 12 de Junho, em Singapura, com a assinatura de um acordo em que sobressai a preocupação pela “desnuclearização completa da Península da Coreia”. Ainda que nada seja dado como garantido, foi pelo menos levantada a bandeira branca do bom senso e da esperança.

 

O drama repetido

Mais uma vez somos alertados para o drama dos refugiados abandonados no Mediterrâneo. O navio “Aquarius” leva 629 imigrantes a bordo, entre os quais 123 menores sem acompanhantes e sete mulheres grávidas, que deixaram as costas da Turquia e da Tunísia em barcos de traficantes. Malta e a Itália recusaram-se a acolhê-los. O Comité Internacional da Cruz Vermelha pediu o fim do “massacre”, justificando esse termo com a morte no mar de mais de uma centena de pessoas só nesse fim de semana.

Em tempos de globalização já não podemos invocar ignorância do que se passa. Numa Europa rica e com possibilidades, não se consegue digerir a posição dos seus líderes: discutem outras coisas, mas não aquilo que poderia manifestar os valores sobre os quais ela se tornou grande e digna de respeito. No início dos anos 90, Rocard encarava essa questão com a afirmação de que “a Europa não pode acolher toda a miséria do mundo”. A perplexidade daqueles que o substituíram no governo não é menor, nem os problemas têm diminuído. O difícil relacionamento da França (e de outros países europeus) com os refugiados e os imigrantes demonstra que o caminho seguido não conduz a bom porto. A Europa não conseguiu equacionar o problema e agendas ocultas o complicarão ainda mais.

O Papa Francisco, preocupado desde sempre com esta causa, não se tem cansado de repetir, a tempo e fora de tempo, que é preciso acolher os que para fugirem da morte, da fome, ou da vida sem dignidade são capazes de arriscar tanto.

 

O desporto no seu melhor e no seu pior

Ninguém pode viver isolado como se fosse um meteorito projetado no espaço. O desporto constitui, por muitas razões, a expressão de uma humanidade que se encontra e celebra o encontro. Por isso Francisco por várias vezes se deixou encontrar com desportistas, recordando-lhes a importância do seu papel na sociedade e no mundo. No passado 14 de Junho enviou desde o Vaticano, “uma saudação cordial aos jogadores e àqueles que acompanharão o Campeonato Mundial de Futebol. Espero que este evento desportivo seja uma oportunidade válida de encontro e de fraternidade”.

Também é verdade que tal instrumento de comunhão e alegria pode ser instrumentalizado para o pior. Quando o desporto deixa de o ser, transformando-se numa mera gestão empresarial de negócios em que as regras são o lucro e a posição no jogo, tudo pode acontecer. Os incidentes de Alcochete, protagonizados por uma horda (tutelada por alguém e com uma agenda secreta), ou os comportamentos das claques que transformam as oportunidades de encontro em situações de risco, só nos mostram que o melhor da humanidade é trocado pelo mais indigno para o seu lugar. E tudo crescendo perante a passividade geral.

 

texto pelo P. Valentim Gonçalves, CJP-CIRP
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