Coração santo, humilde e manso é o de Jesus Cristo, o Bom Pastor. Assim deve ser o nosso à semelhança do Coração de Jesus. Vem isto a propósito do que é celebrado neste mês de junho, especialmente dedicado ao Coração de Jesus, em que todos somos convidados a uma vivência mais intensa da sua centralidade perene na vida cristã.
Tradicionalmente cantamos “Coração santo, Tu reinarás, Tu nosso encanto sempre serás”; versos muito antigos, mas que devem ecoar de modo sempre novo no nosso coração, oxalá que sempre encantado no Coração de Cristo que é santo.
Quase em final deste mês – e quiçá em final de tantas atividades do chamado ano pastoral nas nossas comunidades – questionemo-nos: o que somos e fazemos está realmente marcado por estes dinamismos de santidade, de mansidão e de humildade?
A sexta-feira de 8 de junho foi Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Como se ouve por vezes, e bem, “solenidade é mais do que festa”. Tirando os institutos religiosos dedicados ao Coração de Jesus, em que me incluo, e algumas comunidades cristãs mais devotadas nessa dimensão, será que esta Solenidade foi assumida nas nossas vidas e comunidades?
Esse mesmo dia, por feliz iniciativa de São João Paulo II, desde há alguns anos é vivido em toda a Igreja na Oração pela Santificação dos Sacerdotes, uma intenção que se tem intensificado nas vários Dioceses. No Patriarcado de Lisboa, um grande número de sacerdotes juntou-se neste dia em retiro espiritual, com tempos fortes de meditação, de reconciliação e de Eucaristia adorada e celebrada. Mas será que esta intenção orante é assumida no conjunto das nossas comunidades cristãs e religiosas?
Tudo faz sentido se nos deixamos mergulhar no Coração de Deus, que é santo, humilde e manso, ou melhor, se deixamos que ele permaneça em nós e transforme os nossos corações à sua semelhança.
Sobre este forte convite à mansidão, em profunda ligação com a humildade e a paciência, interpela-nos o Papa Francisco na exortação apostólica Alegrai-vos e Exultai sobre a santidade, quando comenta a bem-aventurança que recebemos do Mestre da Santidade: “Felizes os mansos, porque possuirão a terra”. É uma frase forte, neste mundo que, desde o início, é um lugar de inimizade, onde se litiga por todo o lado, onde há ódio em toda a parte, onde constantemente classificamos os outros pelas suas ideias, os seus costumes e até a sua forma de falar ou de vestir. Em suma, é o reino do orgulho e da vaidade, onde cada um se julga no direito de elevar-se acima dos outros” (n. 71).
Em contracorrente é proposta a mansidão de Jesus: «Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito». Ao estilo de vida de Jesus, “quando olhamos os limites e defeitos dos outros com ternura e mansidão, sem nos sentirmos superiores, podemos dar-lhes uma mão e evitamos gastar energias em lamentações inúteis” (n. 72).
Depois de nos recordar ainda o fundamento bíblico da mansidão como fruto do Espírito e do espírito de mansidão de quem deposita a sua confiança apenas em Deus, o Papa conclui: “reagir com humilde mansidão: isto é santidade”.
Ser manso e humilde de coração caracteriza todos aqueles que seguem no caminho da santidade. Precisamos de pessoas que vivam este espírito na nossa sociedade, tão marcada por violências, vinganças e ódios. Precisamos de profetas da humilde mansidão, à semelhança de Jesus Cristo, humilde e manso de coração. Também nós, todos e cada um, o devemos ser nos mundos que habitamos!