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Ordenações de presbíteros, nos Jerónimos
Vidas disponíveis para o que Deus pedir
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A celebração das Ordenações no Patriarcado de Lisboa decorre este Domingo, 1 de julho, às 16h00, no Mosteiro dos Jerónimos, e vai ser presidida pelo Cardeal-Patriarca, D. Manuel Clemente. O Jornal VOZ DA VERDADE dá-lhe a conhecer os cinco futuros sacerdotes da diocese.

 

“Vale a pena deixar que o Senhor conduza a nossa vida!”

Daniele Bernacchia

34 anos

Arquidiocese de Fermo, Itália

Para Daniele Bernacchia, a caminhada em Igreja começou, na adolescência, no preciso momento em que se reconciliou com o pai. Filho de um professor de Matemática, teve como grande luta o facto de “nunca ter tido sequer um ‘Suficiente’” àquela disciplina. Mesmo assim, o pai quis ajudá-lo e transmitiu-lhe que “não podia viver uma vida burguesa”. “Isso salvou-me de ter apanhado ‘estradas’ muito más. Descobri que o Senhor me amava assim, como eu era. Deus mostrou-me que podia confiar n’Ele”, sublinha Daniele, de 34 anos, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Daniele é o primeiro de cinco filhos. Nasceu no centro litoral de Itália, numa família cristã que lhe transmitiu a fé. “Comecei, com 13 anos, no Caminho Neocatecumenal. Interrogava-me muito sobre o que fazer no futuro, que estrada tinha de percorrer. Vi que o Senhor tinha um projeto de felicidade para mim”, afirma este diácono, que vai ser ordenado sacerdote neste Domingo, 1 de julho, no Mosteiro dos Jerónimos.

Depois de passar por uma “adolescência turbulenta”, Daniele deparou-se com uma inquietação vocacional. Quando projetou casar e ter filhos, surgiu a vocação ao sacerdócio. “Foi uma luta”, mas “Ele prevaleceu e realizou o projeto de felicidade que tinha para mim”, conta. Na Jornada Mundial da Juventude, em 2002, em Toronto, houve uma frase, de um catequista, que o tocou: “Se tu abres o coração, se estás disposto, de verdade, a fazer a vontade de Deus, o Senhor te diz o que quer de ti”. Daniele sentiu-se “contente” por ver que Deus “estava a atuar” – tal como lhe tinha pedido –, mas assume que ficou “chateado” com Ele, porque lhe estava a dar “o contrário daquilo que queria”. Mesmo assim, continuou o curso de Psicologia e o namoro, até o Senhor o “chamar outra vez”.

Aos 24 anos, o Seminário ‘Redemptoris Mater’ de Lisboa foi o seu destino, mas este jovem seminarista estava “disposto ir a todo o lado, mesmo para longe”. No seminário, em Caneças, Daniele viu dissiparem-se as ideias de que o tempo de formação seria como “uma caserna” e de que o facto de não poder casar lhe tirava a liberdade. “Descobri que não é assim. Quando pões a tua vontade nas suas mãos, descobres que te podes sentir livre, que a liberdade não é decidires o que fazes ou não. Liberdade é dar a tua vida”, garante este jovem, que fez um tempo de itinerância em Israel e na Argentina, na periferia da cidade de Buenos Aires. Nos últimos tempos, como diácono, Daniele Bernacchia fez o trabalho pastoral nas paróquias de Alcoentre e Manique do Intendente. “Vale a pena deixar que o Senhor conduza a nossa vida! Temos um Pai e uma Mãe que nos guiam”, conclui.

 

 

“Fui vendo que a Igreja não era bem como eu achava”

Gaetano Catalano

41 anos

Diocese de Nápoles, Itália

Viveu num bairro dominado pela Máfia, em Nápoles, considerado um dos mais violentos da cidade. Por isso, rapidamente aprendeu que “só existiam duas opções: ser lobo ou ser ovelha”. A opção pela primeira fê-lo cortar “bem cedo” a ligação à Igreja, que considerava também “uma máfia”. Foi conseguindo realizar o sonho que lhe “garantia uma estabilidade económica”, trabalhando na empresa de família, na gestão do negócio de distribuição de bebidas e produtos alimentares. “Ganhava bem, mas faltava alguma coisa. Não sabia o que era”, revela, ao Jornal VOZ DA VERDADE, este futuro sacerdote de 41 anos.

Certo dia, uma boleia trocou-lhe as voltas. Então com 20 anos, um dos seus amigos motard pediu-lhe para levar uma rapariga até à igreja. “Não a achei uma rapariga normal”, confessa. As boleias repetiram-se e Gaetano questionou-a sobre o que ia ali fazer. “Disse-me que aquilo que ela ia receber naquela paróquia mais ninguém teria possibilidade de oferecer. Deu-me uma pagela com um convite para assistir a umas catequeses”, recorda, afirmando que só por insistência de um primo é que aceitou ir. Na primeira, adormeceu; mas na segunda catequese foi-lhe perguntado o que estava a achar daqueles encontros. “Foi nessa ocasião que desabafei todo o meu pensamento sobre a Igreja e sobre o amor de Jesus Cristo, que eles anunciavam, mas que eu nunca tinha visto no meu bairro. Tinha visto uma família, um pai e uma mãe a drogarem-se, com o bebé atrás. Perguntei: ‘Onde está Jesus Cristo aqui?’ Fui bastante violento com aqueles catequistas”, reconhece Gaetano Catalano, seminarista do Seminário ‘Redemptoris Mater’ de Lisboa. Apesar das críticas, Gaetano foi a um retiro e “foi por aí que começou” a mudança de vida. “Comecei a pertencer a uma Comunidade Neocatecumenal sem saber bem o que era. Fui vendo que a Igreja não era bem como eu achava e que os padres não eram todos uma máfia”, assume, sorridente.

O caminho deste seminarista italiano também motivou uma aproximação da sua família à Igreja. Depois de “um choque terrível” com a notícia da entrada do seminário, o pai garantiu-lhe que aquele acontecimento “era o mais bonito que podia acontecer” à família. “Perante estas palavras, todas as dúvidas que eu tinha desapareceram. Senti-me livre”, partilha.

Já em Lisboa, Gaetano Catalano recorda o percurso de seminário que começou, com 33 anos, e que teve um tempo de itinerância durante dois, em Copenhaga, na Dinamarca, e na Paróquia de Lamas, no Cadaval. “Foi um caminho onde fui descobrindo quem sou e como é verdade que Deus é um Pai, que me ama. Ser padre é uma graça. Espero ser humilde e servir a diocese”, deseja.

 

 

“O seminário ajudou a reconhecer-me como sou”

João Quintas

29 anos

Paróquia de Queluz

A entrada num dos três ramos das Forças Armadas foi, para João Quintas, o percurso que “esteve no horizonte”. Educado durante 8 anos, do 5º ao 12º ano, no Colégio Militar, o pai dizia-lhe que, um dia, ainda lhe ia bater a continência. “Embora eu tenha posto a minha candidatura para entrar na academia, não fiz muita força”, admite João Quintas, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Mais tarde, ponderou a área da Saúde e acabou por entrar no curso de Análises Clínicas, onde chegou a trabalhar durante um ano.

Mas a inquietação vocacional de João Quintas começou antes, quando foi “pescado” para um serviço na Igreja. “Quando entrei na faculdade, em 2008, num dia, fui com a minha mãe para inscrever a minha irmã mais nova na catequese, na Paróquia de Queluz. Eles estavam com falta de catequistas e pediram-nos se não queríamos ser observadores de grupos e entrei para o grupo do 10º ano. Achei curiosíssimo porque eles tinham muito mais catequese do que eu. Aquilo interpelou-me bastante e fez-me recuperar a vida de oração, fez-me voltar a colocar questões já enterradas”, assume o seminarista do Seminário dos Olivais, de 29 anos.

Depois da catequese, seguiu-se o grupo de acólitos. “Lembro-me de, num dia, o então pároco de Queluz, padre Jorge Dias, me ter interpelado, na sacristia, com a pergunta se eu alguma vez tinha pensado na possibilidade de entrar no seminário. Aquilo bateu ‘cá dentro’ e lembro-me que a pergunta entrou e nunca mais saiu. Depois, foi continuar a vivência cristã e a questão foi-se adensando. A pergunta estava presente e precisava de maturar mais”, conta.

Em casa, a mãe ficou “muito atrapalhada” com a notícia de que João, então com 22 anos, iria entrar no seminário. “Preocupava-a, sobretudo, a questão da solidão da vida de padre e o não ir ter filhos”. Chegado ao Seminário de Caparide, João Quintas imaginava o seu percurso como “um idealismo muito romântico, de que vai correr tudo bem e que todos se iam dar bem”. Por isso, o primeiro ano foi fundamental para desmontar essa ideia. “Houve um choque muito grande, mas o Ano Propedêutico foi uma experiência muito especial, muito bonita. O seminário foi sempre uma desconstrução, uma aprendizagem, de me reconhecer como sou, para reconhecer a minha fragilidade”, aponta este jovem, que realizou o trabalho pastoral no Pré-Seminário e, enquanto diácono, na Paróquia da Portela.

Para a sua nova missão, enquanto sacerdote, João Quintas leva o desejo de “obedecer” e “ser sinal de Jesus para aqueles a quem for enviado”. “Servir, na consciência de que estou a caminho com aqueles que estão à minha volta”, ambiciona.

 

 

“Eu não gostava da Igreja e dos padres”

José Samir Benavides

38 anos

Arquidiocese de Popayan, Colômbia

A ideologia das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) marcou a juventude de José Samir Benavides. O facto de viver num bairro pobre, com problemas de violência e de ver muitas pessoas morrerem, com tiros ou facadas, fez com que se afastasse mais da Igreja. “Eu não gostava da Igreja e dos padres. Era a última coisa em que pensava”, aponta ao Jornal VOZ DA VERDADE José Samir, que tinha como aspiração de vida ser engenheiro agrícola. “Os meus pais são camponeses e toda a minha família está neste contexto. O meu pai sempre me dizia que tinha de ser alguém na vida, tirar o curso e sair de pobre”, conta este seminarista, de 38 anos.

Foi batizado com 3 meses e, por estar em risco de vida, recebeu o nome de José, por sugestão do padre, para que São José fosse o seu protetor. Contudo, a ligação deste colombiano à Igreja deu-se apenas aos 16 anos, quando uma vizinha convidou os pais para uns encontros para jovens e adultos. “Obrigaram-me a ir”, conta. Depois, entrou para uma comunidade do Caminho Neocatecumenal e recorda que esse foi “um tempo de gestação, de conhecer Jesus Cristo”, de se conhecer a si próprio. Com 18 anos, José começa a sentir um chamamento e é enviado para o Seminário de Medellín, na Colômbia, onde lhe disseram que “tinha de esperar um pouco” para poder entrar. “Nesse tempo, comecei a namorar e a tirar um curso de Tecnologia de Máquinas Industriais, na faculdade. Fui esquecendo tudo o que o Senhor estava a fazer comigo”, conta.

O seu novo trabalho fez com que se afaste da sua cidade Natal e, consequentemente, da sua ligação à Igreja, através da comunidade. “Foi aí que o Senhor apareceu, com uma Palavra concreta: ‘Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração’. A resposta a esta Palavra foi fazer a carta de despedimento e voltar à minha cidade, para caminhar na minha comunidade neocatecumenal, sem saber se ia arranjar outro emprego”. Então com 27 anos, José Samir Benavides participou numa peregrinação a Bogotá e regressou a certeza de que o Senhor o chamava para o seminário.

Chegou ao Seminário ‘Redemptoris Mater’ de Lisboa com 29 anos. “Não foi fácil. Foi uma mudança radical de cultura, de tudo. Fui enviado a uma paróquia, Milharado, onde comecei a amar as pessoas, os portugueses, esta terra, mas foi um processo muito lento. Sinto-me acolhido, e por isso é que durante todo o tempo de seminário senti o acolhimento e a fidelidade do Senhor”, conta este seminarista que deseja, “com simplicidade” oferecer ao Senhor a sua vida de padre.

 

 

“É impossível ser-se feliz sozinho”

Tiago Esteves

24 anos

Paróquia de Arroios

“Queria ser um homem de ciência, na área da Biologia Molecular”. No entanto, a “possibilidade” de ser padre também não estava posta de parte. O exemplo “fascinante” de dois sacerdotes marcaram Tiago Esteves na sua adolescência. Nas Caldas da Rainha, onde viveu até aos 15 anos, lembra-se de um convite para ser acólito, feito pelo cónego Joaquim da Conceição Duarte, que “era um homem muito sensível à questão vocacional”. “Foi a primeira vez que eu senti que a Igreja me chamava para algo concreto”, recorda, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Mais tarde, depois de vir morar para Lisboa, Tiago Esteves encontrou, na Paróquia de Arroios, sinais importantes para a definição da sua vocação. O exemplo do pároco foi determinante. “O padre Paulo Araújo foi um homem fascinante. Eu olhava para ele e dizia: este homem é feliz e faz as pessoas felizes, é de uma entrega total, jovem, toda a gente o quer ouvir”. Durante o tempo do Ensino Secundário, este jovem seminarista também foi convidado para ser catequista e acólito, fazendo-o estar “mais por dentro da comunidade”. A confiança de que o seu gosto pela ciência “iria ser, de algum modo, transformado”, não o livrou da “incerteza” e de uma “luta interior muito grande”, ficando resolvida quando, durante a exposição do Santíssimo, lhe calhou uma tira de papel com uma citação bíblica, que o ajudou a desbloquear a situação. Era da profecia de Isaías e dizia: ‘Não temas. Eu estou contigo’, partilha.

Com o apoio da família – “primeiro lugar do chamamento ao sacerdócio” –, Tiago avançou. “Foi aí que comecei a dar os primeiros passos, os passos médios e os passos atuais”, aponta. Os pais “rezam o Terço todos os dias e vão à Missa diariamente”, revela Tiago, que assume ter nascido “nesse meio muito privilegiado”.

A entrada no seminário deu-se após ter concluído o 12º ano. “Entre o que imaginava ser o seminário e aquilo que ele é, de facto, há uma distância abissal”, revela o jovem seminarista do Seminário dos Olivais. “Do seminário levo a certeza de que é impossível ser-se feliz sozinho. O seminário permitiu-me, de uma maneira muito singular, aprender que somos pessoas frágeis e a caminho, mas que Deus ama muito e escolhe-nos para estarmos juntos”, declara.

Nos últimos anos, Tiago Esteves foi animador no Pré-Seminário, o que lhe permitiu ganhar “um olhar vocacional, ajudando todos a procurar a sua vocação”. Nas paróquias do Milharado, Gradil e Vila Franca do Rosário, no estágio pastoral, conheceu uma “realidade mais rural” que o fez “crescer muito” e abrir-se à “liberdade” de estar disponível para “o que o Senhor pedir”.

texto e fotos por Filipe Teixeira
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