Missão |
Teresa Rebelo de Andrade, Plataforma de Apoio aos Refugiados
Cuidar daqueles que passam por nós
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Teresa Rebelo de Andrade nasceu a 26 de julho de 1995, em Lisboa, “no dia de Santa Ana”. É licenciada em Estudos Gerais, com especialização em Filosofia, e entre o final de Dezembro de 2017 até ao início de Abril de 2018 esteve com a Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) em Lesbos, na Grécia.

 

Um futuro aberto em infinitas possibilidades

Conta-nos que quando terminou a licenciatura e a especialização entrou “naquela altura da vida que gosto de nominar por época cinzenta”. “Uma vida à minha espera, um futuro aberto em infinitas possibilidades; um enorme motivo de agradecimento.” Sempre se sentiu entusiasmada pela vida missionária e encontrava no modelo Jesuíta “um enorme exemplo”. “A forte relação que criei com o Centro Universitário Padre António Vieira, em Lisboa, durante o tempo de faculdade, foi um marco deveras importante do meu crescimento pessoal e da vida de fé. Como é próprio da espiritualidade inaciana, que me tem vindo a transformar profundamente, a ideia de ir às periferias da sociedade enquanto modo de vida, apaixonou-me e deu forma e sentido a tudo aquilo que eu já tinha vindo a descobrir. Facilmente me imaginava em contextos de crise humanitária e o voluntariado já há anos que era uma constante na minha vida”, partilha.

 

Não ficar indiferente

Em 2015, quando despoletou a Crise dos Refugiados, foi através dos Jesuítas que conheceu a Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) e conta-nos: “Acredito que, por essa altura, ninguém tenha ficado indiferente à situação, até porque o bombardeamento jornalístico assim não o permitia. Atingiu-nos a todos. A mim, atingiu-me especialmente quando, ultrapassado o motivo de notícia pública, deixou de ser assunto algo que estava longe de acabar e que tanto impacto tem – e terá ainda mais – nas sociedades do século XXI. Encontrando-me, então, na tão esperada época cinzenta, era o tempo certo de me atirar a esta causa. Várias vezes me perguntava o porquê de focar a minha atenção nesta crise, quando o que não falta são causas que tanto necessitam também de atenção e grupos aptos para as ajudar. No entanto, optei por ouvir a minha intuição que me dizia que, pelo menos por agora, seria este o caminho a segui, em vez das inúmeras questões que se levantavam na minha cabeça. Isto está a acontecer AGORA: uma frase que me assombrava a mente e me dava um sentido da dimensão histórica da situação, acrescida à responsabilidade, enquanto humana católica, de não poder ficar indiferente. Ultrapassados todos estes processos mentais e espirituais, fui, então, acolhida pela PAR Linha da Frente em Lesbos, do final de Dezembro até ao início de Abril deste ano. Não posso deixar de falar sobre a situação na ilha, pois, agora que regressada, sei que é essa a minha Missão.”

 

“Cuidar da Espera”

Sobre a sua experiência em Lesbos, diz-nos que esta “é a ilha Grega que mais acolhe refugiados – estes vindo maioritariamente da Síria, Afeganistão e Iraque, com uma forte presença de comunidades Africana, sobretudo Congolenses – e uma das principais portas de entrada na Europa. Neste momento, a ilha alberga mais de 7000 refugiados: cerca de 5000 no campo de detenção de Mória – primeiro campo onde são acolhidos e é feito o registo; campo este que, inicialmente, apenas tinha capacidade para duas mil pessoas -; cerca de 1300 em Kara Tepe – campo exclusivo de famílias e onde trabalhei – e os restantes, cerca de 900, que foram realojados na ilha. O número de pessoas a chegar continua a aumentar de dia-a-para dia e a Grécia foi praticamente abandonada pela União Europeia nesta luta pelo acolhimento, que deveria ser mundial. Lembro-me de quando chegaram 300 pessoas numa noite e de não se saber para onde iriam, devida à falta de condições; nunca a Grécia registara tantas chegadas numa só noite, desde 2016. É fácil perdermo-nos na abstração dos números – 5000, 900, 300… -, mas quando colocamos caras e relações em cada um destes algarismos, o que era um puro conceito passa a ser uma realidade pessoal impossível de negar. Cuidar da Espera: é este o lema e a principal motivação dos voluntários da PAR e uma das razões principais que me fez escolher esta organização e não outra. Cuidar daqueles que passam por nós, de forma a tentar minimizar a experiência que é a vida num campo de refugiados. Quem sabe um dia, ao olharem para trás, a passagem por Lesbos não se resuma somente ao período de uma experiência traumática e onde, para muitos, a esperança parece ser a primeira a morrer. Foram três meses que modificaram profundamente o modo como vivo no mundo, as minhas relações e - ainda que em terras ortodoxas, privada de missas católicas – a forma como vivo a minha fé e me posiciono enquanto membro desta grande Comunidade que é a Igreja Católica.”

texto por Catarina António, FEC | Fundação Fé e Cooperação
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