Entrevistas |
Isabel Figueiredo, autora do livro ‘Linhas tecidas com tempo’
“Deus está lá sempre!”
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O ‘olhar’ de Isabel Figueiredo, da Renascença, ganha voz, todos os sábados, pelas 8 horas da manhã, na antena da Rádio Renascença e da Rádio Sim. Agora, no livro ‘Linhas tecidas com tempo’, os textos orantes continuam a missão de “dizer a toda a gente que Jesus está vivo e está com cada um de nós”, salienta a autora, em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE.

 

Em cada manhã, as emissões da Rádio Renascença e da Rádio Sim têm a antena aberta para a ‘Oração da manhã’. Há mais de 20 anos, um autor diferente, em cada dia da semana, empresta o seu ‘olhar’, convidando à intimidade com Deus, através da oração. Aos sábados, é a vez de Isabel Figueiredo, coordenadora de Conteúdos Religiosos e adjunta do presidente do Conselho de Gerência da Renascença, partilhar com os ouvintes o seu ‘texto orante’, através de um olhar sobre o quotidiano. Com esta partilha, alguns dos textos tornaram-se agora ‘propriedade’ de todos, no livro ‘Linhas tecidas com o tempo’, da Paulinas Editora.

No prefácio da obra, D. Manuel Clemente agradece à autora a publicação destes textos, escutados na rádio e lidos, agora, em livro. Assim existam “ouvidos para ouvir e coração para acolher”, sublinhou o Cardeal-Patriarca de Lisboa.

 

Como surgiu a ideia de publicar estes ‘textos orantes’ para rádio, em livro?

Estes textos, como tudo o que é escrito para rádio, têm um tempo de vida muito curto. É o tempo que demora a ser lido. Sabemos que o texto vai ser lido uma vez e dificilmente será repetido. A partir do momento em que começámos a publicar os textos na internet, esta situação mudou ligeiramente; mas, mesmo assim, a revisita ao texto é muito residual. Algumas pessoas começaram a perguntar porque é que não se podia publicar estas reflexões. Isso já aconteceu no passado, com outras pessoas que escreveram orações da manhã para a Renascença. Foi na sequência dessa tradição e dessa necessidade que a Paulinas Editora me perguntou se eu não estaria interessada em publicar os meus textos...

 

Por que ‘linhas’ é conduzido o leitor?

O que o leitor pode encontrar neste livro são sempre momentos de encontro com Deus, no sentido em que cada texto é sempre escrito dentro desta intimidade e relação entre quem escreve e quem escuta – neste caso – a minha conversa, o meu pedido, a minha ação de graças.

Todos os textos são diferentes. Há dias em que acrescentamos a esse sentimento a inquietação e há dias em que se está triste e a tristeza trespassa o texto. O texto trespassa sempre algo mais.

 

Estes textos resultam de uma leitura, de um olhar, do que vive ou observa. Qual o segredo para fazer de cada acontecimento um motivo para orar?

Tive uma grande amiga que há muitos anos me disse uma frase que nunca mais esqueci: “Se pões Deus em tudo o que fazes, Ele está em tudo o que te acontece”. Eu sempre andei com esta frase cá dentro, consciente de que não sou capaz de chegar a tanto, não sou capaz de colocar Deus em tudo o que faço; mas com a certeza que Ele está em tudo o que me acontece.

O padre José Frazão, na apresentação do livro, falou muito da questão do olhar, da capacidade do olhar, do aprender a olhar, poder olhar para além do olhar… Acho que é isto que também temos que fazer: temos que nos habituar a ver para lá de. E quando vemos para lá de, o mais natural é ‘esbarrarmos’ com Nosso Senhor.

Neste livro há uma decisão de transformar cada texto em oração. Como sei que têm de ser lidos num minuto, na rádio, têm que apontar para um acontecimento que desperte a atenção de quem está a ouvir. Têm de entrar numa pausa para reflexão e, a seguir, fechar com uma interjeição direta com Deus.

 

É fácil arranjar, ao mesmo tempo, temas tão ricos e diversos?

Está sempre a acontecer tudo à nossa volta. Para além de treinar o olhar, é essencial desinibirmo-nos, ou seja, se eu começar a inquietar-me com o que as pessoas podem pensar do que escrevo, vou começar a pôr imensos travões à minha volta e começo a bloquear, não deixando que flua, naturalmente, este estar com Deus.

Tenho uma amiga carmelita a quem um dia perguntei o significado da sua missão. Ela respondeu-me que “ser carmelita é procurar viver, todos os dias, desde que me levanto até que me deito, com a presença de Jesus ao meu lado”. Se vivermos com esta consciência, tudo muda, porque até ao olhar pela janela do carro e ver umas folhas velhas, secas, sopradas pelo vento, percebe-se como o Espírito Santo está por todo o lado e até elas te falam de Ressurreição.

 

Há mais de vinte anos a serem lidos na rádio, certamente que estes textos tocaram o coração de muitos ouvintes. O que tem chegado de feedback?

Esta pergunta está ligada com a capacidade de nos desprendermos do que fazemos. Por vezes, existe a tentação de dizer que isto é meu, eu fiz isto. Mas depois, quando o texto se publica, é de todos os que o lerem. Apenas um dia depois do livro estar à venda, uma amiga minha telefonou-me e disse: “Este livro foi escrito para mim”.  Pensei logo: “Este já não é o teu livro, Isabel”.

Está tudo a acontecer, desde que começa o dia até que termine, desde que nos cruzamos com as pessoas no local de trabalho, desde que conseguimos olhar para o lado e ver qualquer coisa... está tudo ao nosso lado e Deus está lá sempre. Nós é que nos distraímos ou viramos as costas, mas Ele está lá sempre!

 

Atualmente, a rádio e outros meios de comunicação continuam a ser veículos essenciais para a evangelização?

Sim, estou completamente convicta que sim. Isto da rádio é muito, muito apaixonante porque não se faz a mais pequena ideia de quem nos ouve, não sabemos o que acontece no coração de uma pessoa. Por exemplo, num dia que está a começar, não sabemos o que provocará ouvir qualquer coisa boa na rádio… até pode ser através da forma como damos as notícias. Até aí, nós somos claramente agentes de evangelização. Se conseguirmos mostrar uma forma diferente de estar, algo de bom que acontece, mesmo para lá de tudo o que é mau, é para mim claro que estamos a anunciar o Evangelho. Por exemplo, neste acontecimento dos rapazes que ficaram dentro de uma gruta, na Tailândia, o mundo esteve de olhos postos e a comunicação social esteve a mostrar o que podia. Em que é que isto é evangélico? Acho que é em tudo. Sabemos que estão milhares de crianças em situação de risco absoluto, está tanta coisa má a acontecer, mas o mundo está parado a olhar para esta. O que nos mostra a capacidade que existe de fazermos o bem, de nos concentrarmos no bem.

 

Na introdução do livro, aponta a “exposição de uma intimidade de relação” para que a publicação destes textos tenha sido adiada. Agora publicados, que desafios se colocam à Isabel Figueiredo?

Foi realmente um livro adiado, por duas razões: a primeira tem a ver com a questão da exposição da intimidade, que não está tão presente quando o texto é apenas lido na rádio. Dificilmente se vai ao site procurar e reler o texto. Não é muito habitual. Por outro lado, há também a questão de que um texto para rádio é diferente de um texto para ser lido num livro. Coisas tão simples como a marcação das pausas, a marcação das frases, a forma como o texto está feito, é muito mais simples numa escrita que se quer apenas oral. E é assim que se pede que seja. Também por isso tinha algum receio porque não é um texto literário, nem tem pretensão de ser.

A partir de um determinado momento da minha vida, decidi que gostaria de assumir publicamente a minha fé e fazê-lo de formas muito concretas, não tendo receio de falar ou de escrever. Acho que nós, cristãos, andamos no meio do mundo, não somos nem mais nem menos do que os outros, mas vivemos com a consciência da eternidade. Mesmo que nos levante dúvidas e inquietações, e até tenhamos problemas em verbalizar estas coisas. Este livro é uma vontade expressa de dizer a toda a gente que Jesus está vivo e está com cada um de nós. Na normalidade das nossas vidas. E isto vai continuar!

 

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“Um aceno de Deus”

Na apresentação do livro ‘Linhas tecidas com tempo’, o superior provincial da Companhia de Jesus em Portugal, padre José Frazão Correia, sugeriu “percorrer” as páginas do livro de Isabel Figueiredo, “seguindo a pista do olhar”. “De facto, é, desde logo, da atenção quotidiana ao que se passa diante dos olhos – ‘rostos’, ‘momentos’, ‘expressões’, as suas três partes – que este livro nasce”, referiu o sacerdote jesuíta, na sessão de apresentação que decorreu na capela do centro comercial das amoreiras, em Lisboa no passado dia 5 de julho.

O sacerdote salientou ainda o “convite à oração” que este livro deixa ao leitor, para aplicar em cada momento do quotidiano. “O seu fruto é a graça de viver o tempo como momento de graça, a virtude de poder dar um lugar justo e ajustado a tudo aquilo que a vida traz, sendo que esse lugar é o próprio Deus. Cada uma das linhas tecidas com tempo que encontramos neste livro são um aceno de Deus e um modo de dizer a-Deus”, referiu o padre José Frazão Correia.

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