Famílias de Lisboa testemunham a “alegria” e a “partilha” que se viveu durante o IX Encontro Mundial das Famílias, em Dublin, onde o Papa Francisco voltou a pedir perdão pelos abusos sexuais cometidos pela Igreja na Irlanda.
“Abusos, arrependimento, vergonha, perdão” foram algumas das palavras que marcaram, inevitavelmente, a viagem do Papa Francisco à Irlanda, para participar no encerramento do IX Encontro Mundial das Famílias (EMF), a 25 e 26 de agosto. Um relatório, divulgado a meio do mês de agosto, que aponta décadas de abusos sexuais praticados por membros da Igreja Católica, no estado norte-americano da Pensilvânia, e os casos semelhantes que ocorreram na Irlanda, pesaram na “mensagem” que Francisco quis transmitir aos mais de 80 mil participantes, vindos de todo o mundo. Apesar do reconhecimento e dos pedidos de perdão, o Papa desafiou as famílias a serem “um lugar privilegiado” no anúncio do Evangelho e alertou: “A tarefa de dar testemunho desta Boa Nova não é fácil. Mas, de certo modo, os desafios que hoje enfrentam os cristãos não são mais difíceis do que aqueles que tiveram de enfrentar os primeiros missionários irlandeses”. Na homilia da Missa de encerramento do EMF, no Phoenix Park, Francisco referiu ainda que a Igreja é chamada a “sair”. “Com os sacramentos do Batismo e da Confirmação, cada cristão é enviado para ser um missionário, um «discípulo missionário» (cf. Evangelii gaudium, 24). A Igreja, no seu conjunto, é chamada a «sair» para levar as palavras de vida eterna às periferias do mundo”, exortou o Papa Francisco.
Vocação ao amor e santidade
Já no dia anterior, no Croke Park Stadium, na Celebração com as Famílias, o Papa Francisco desafiou à vivência da santidade na família. “Deus quer que cada família seja um farol que irradia a alegria do seu amor pelo mundo. Que significa isto? Significa que nós, depois de ter encontrado o amor de Deus que salva, procuramos, com palavras ou sem elas, manifestá-lo através de pequenos gestos de bondade na vida rotineira de cada dia e nos momentos mais simples da jornada”, pediu o Papa, na capital irlandesa, reforçando que “a vocação ao amor e à santidade não é algo reservado para poucos privilegiados”.
Na mesma celebração, onde foram escutados alguns testemunhos de casais, com experiências de família muito diferentes, o Papa Francisco sublinhou a importância do perdão em família, para não correr o risco de “crescer doente e desmoronar-se”, e de uma sociedade que “valorize” os avós. “Uma sociedade que não valorize os avós é uma sociedade sem futuro. Uma Igreja que não tenha a peito a aliança entre gerações acabará sem o que conta verdadeiramente, o amor”, referiu.
Lugar central
Durante uma semana, foram inúmeras as atividades, na cidade de Dublin, que estiveram disponíveis para as famílias participantes. Ana e Manuel Oliveira, da Paróquia de Algueirão-Mem Martins, na Vigararia de Sintra, participaram no encontro e destacam, ao Jornal VOZ DA VERDADE, a diversidade das atividades que foram preparadas “para todas as idades”. “O ambiente do encontro foi de muita alegria, com muitas atividades. Trago a mensagem de que, na diversidade, a família pode e deve ser um lugar central onde vivemos a nossa santidade”, partilha Ana, que, já em Portugal, continua a viver, e a reviver, algumas dessas atividades, através dos vídeos das conferências e painéis (ver caixa).
Este casal, que participou no IX Encontro Mundial das Famílias, juntamente com os três filhos, de 11, 8 e 7 anos, destacam a forma como o Papa Francisco se comoveu com os testemunhos de algumas famílias. Para Manuel Oliveira, “os testemunhos que foram partilhados foram bastante pesados, com histórias muito duras, e isso notava-se muito no semblante do Papa. No Croke Park Stadium, o Papa Francisco fez o contraste entre os testemunhos e a mensagem que queria passar, mas não deixou de ser marcante”.
Para toda a família
A participação em encontros internacionais não foi uma novidade para este casal da Paróquia de Algueirão-Mem Martins, uma vez que já participaram em Jornadas Mundiais da Juventude. Agora, numa “realidade diferente”, onde a vivência familiar requer outras exigências, a família Oliveira rapidamente se sentiu motivada para participar neste Encontro Mundial das Famílias, em Dublin. “Quisemos participar assim que soubemos que este encontro ia acontecer no mês de agosto, num país pelo qual temos especial simpatia – uma vez que estivemos naquele país durante a adolescência, eu num intercâmbio e o Manuel numa atividade da escola. Acabámos por nem visitar quase nada em Dublin porque estivemos, com muito gosto, a participar no encontro”, refere Ana Oliveira, que também deixa um convite a outras famílias. “Vale a pena as famílias terem, no seu horizonte, a participação no próximo Encontro Mundial das Famílias, em Roma, em 2021. É uma excelente oportunidade! É um encontro que é para toda a família, desde os mais pequeninos até aos mais crescidos. Vão poder crescer, aprender. É um tempo para celebrar, rezar e crescer na fé!”, refere.
Caminhar
Roberto Gamboa e Fernanda Ventura, juntamente com as duas filhas, de 20 e 15 anos, também estiveram em Dublin, para participar no Encontro Mundial das Famílias. Na bagagem, para a Paróquia de Olhalvo, onde estão empenhados, trouxeram uma forte experiência que surgiu no contacto com outras famílias. “Encontrámos pessoas muito diversas. Por vezes, pensamos que os problemas da nossa paróquia são os maiores do mundo, mas depois percebemos que cada qual tem os seus problemas e o seu caminho a fazer. É preciso caminhar...”, refere, ao Jornal VOZ DA VERDADE, Roberto, que, juntamente com a família, participou em diversas iniciativas. “Estivemos numa apresentação de um teatro musical sobre a história de Ruth e em vários painéis de discussão. Um dos que me chamou a atenção, foi a forma como se está a apostar, numa paróquia da Irlanda, no acolhimento de famílias com diferentes orientações sexuais. Outro momento foi a preocupação com a alteração climática, fazendo eco da preocupação do Papa Francisco. Há um movimento muito interessante, que está a tentar tornar as paróquias mais verdes”, aponta.
Partilha e experiência
Por entre as ruas de Dublin, Roberto recorda-se dos momentos em que via a alegria do Papa ao passar, de carro, pela multidão. Contudo, para este pai de família, a “atmosfera bastante tensa” que se viveu por causa da divulgação do relatório sobre abusos nos Estados Unidos, e da lembrança de outros casos que ocorreram naquele país, foi-se notando no rosto do Papa Francisco, sobretudo durante a Missa de encerramento. “Isso afetou certamente a alegria do Papa. Este assunto esteve muito presente na comunidade local”, aponta Roberto, que classifica de “positivo” o reconhecimento e pedido de perdão do Papa. “O Homem não é perfeito, a Igreja não é perfeita. Nós estamos sempre a caminho – o Papa é exemplo disso – e vamos tentando melhorar. Penso que é esse o caminho”, refere este leigo, sublinhando as palavras “partilha” e “experiência” como a “chave” para convencer outras famílias a participar. “Nestes encontros, há um relativizar dos nossos problemas porque nos deparamos com realidades bastante distintas, com os seus problemas. É a experiência da universalidade que nos ajuda a viver a nossa realidade”, argumenta.
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Sessões disponíveis online
As sessões do Congresso Pastoral, que decorreram durante a semana do Encontro Mundial das Famílias, em Dublin, estão disponíveis, em vídeo, no link do evento: https://www.worldmeeting2018.ie/en/Programme/Congress/Live-Streaming
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Famílias como “comunidade de vida e de amor”
O presidente da Comissão Episcopal do Laicado e da Família, D. Joaquim Mendes, que participou em Dublin no Encontro Mundial de Famílias, realçou a “experiência marcante” de “alegria e beleza”, mas também de “sofrimento por toda a situação que a Igreja Católica está a viver”. “Por um lado, foi a vivência de uma Igreja que é família de famílias, e de uma Igreja que ama as famílias; mas depois há esse aspeto doloroso, que a Igreja carrega, de uma Igreja que é santa e pecadora”, salientou D. Joaquim Mendes, em declarações à Agência Ecclesia, sobre a questão dos abusos que marcou a participação do Papa Francisco naquele evento, na Irlanda.
Sobre o programa do Encontro Mundial das Famílias, o Bispo realçou a oportunidade de reforçar o papel da Família enquanto “comunidade de vida e de amor” e de “contagiar outras” para este caminho, e salientou a troca de experiências que se gerou, sobretudo durante os dias do congresso dedicado à Família, inspirado na exortação apostólica do Papa, ‘A Alegria do Amor’, e depois também nos vários momentos de encontro com Francisco. “Foi muito interessante ouvir testemunhos de famílias a dizerem que se reencontraram na ‘Amoris laetitia’. E estou certo que os casais que participaram vieram tocados e reforçados na sua vivência e realidade como esposos e como famílias”, acrescentou D. Joaquim Mendes.
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Bispos portugueses manifestam “proximidade e total apoio” ao Papa Francisco
Durante a visita do Papa Francisco à Irlanda foi divulgada uma carta de um arcebispo, Carlo Maria Viganò, ex-Núncio Apostólico nos Estados Unidos, que acusa o Papa Francisco de não ter sido célere na denúncia e resolução dos casos de pedofilia. As acusações, que não mereceram o comentário do Papa Francisco, foram sendo desconstruídas, nos dias seguintes, pelos meios de comunicação social e têm gerado muitas palavras de apoio e oração pelo ministério do Papa Francisco. Esta semana, os Bispos portugueses juntaram-se a outras Conferências Episcopais em todo o mundo para, publicamente, endereçarem o seu apoio ao Papa. Numa carta que foi lida na segunda-feira, 3 de setembro, no Simpósio do Clero, em Fátima, os Bispos partilham “o sofrimento do Santo Padre e de toda a Igreja” e propõem-se a “seguir as orientações para erradicar as causas desta chaga”. “Empenhar-nos-emos em incrementar uma cultura de prevenção e proteção dos menores e vulneráveis em todas as nossas comunidades”, escrevem os Bispos de Portugal, manifestando “proximidade e total apoio” ao Papa Francisco, perante as “tentativas de pôr em causa a credibilidade do Seu ministério”.
No dia anterior, à margem à da cerimónia de entrada solene do novo Arcebispo de Évora, o Cardeal-Patriarca de Lisboa reforçou, aos jornalistas, a ideia – já deixada na ‘Carta aos diocesanos de Lisboa, no início do ano pastoral 2018-2019’ [ver pág. 02 desta edição] – de que a Igreja portuguesa está ao lado do Papa Francisco, em “comunhão profunda e orante”.
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