Doutrina social |
O ano de 1968
Há 50 anos na busca do Reino de Deus
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Há meio século, no ano de 1968, verificou-se uma série de acontecimentos que levou alguns a considerá-los como o “big bang” para um mundo melhor. Manifestou-se no mundo e na Igreja uma dinâmica de algo que estava em gestação e que começava a surpreender.


Acontecimentos em catadupa

Logo em Janeiro de 68 verifica-se a “Ofensiva Tet”, bem como o “Massacre de My Lai”, no Vietnam; em Abril é assassinado Martin Luther King; no mesmo mês um jovem líder alemão é abatido a tiro, em Berlim, numa manifestação de estudantes; em França torna-se contagiosa a contestação estudantil a partir do 6 de Maio; nos Estados Unidos o jesuíta Daniel Berrigan e o seu irmão Philip realizam protestos não-violentos contra a guerra do Vietnam e ficam na mira do FBI; em Junho Robert Kennedy é assassinado; nesses dias o Biafra declara a independência e segue-se a maior crise humanitária conhecida; em Agosto os tanques do Pacto de Varsóvia esmagam a “primavera de Praga”; em Outubro, em Tlatelolco (México), entre 200 a 300 estudantes são massacrados enquanto protestam pacificamente. Acontecimentos com sinal de morte, mas que ao mesmo tempo apontam para uma regeneração que se impõe.

 

Dentro da Igreja

Dentro da Igreja vivia-se um ambiente de agitação saudável. O Concílio Vaticano II tinha encerrado no dia 8 de Dezembro de 1965. E o desejo de uma Igreja renovada começava a dar os seus frutos. Ainda durante o Concílio, um grupo de Bispos entendeu que era preciso agir para que as belas declarações tivessem um efeito prático. E assim nasceu o “Pacto das Catacumbas” com um programa arrojado de uma nova atitude perante o povo que queriam servir. De 26 Agosto a 8 de Setembro de 68 teve lugar em Medellin, Colômbia, a Conferência dos Bispos Latino-americanos, que reflete as linhas de força do Concílio e do Pacto das Catacumbas. À visão de uma Igreja piramidal contrapõe-se a de uma Igreja de comunhão; à de uma sociedade perfeita contrapõe-se a de uma Igreja como mistério; a ideia de uma Igreja universal é clarificada com a ideia de que essa só existe porque existem as Igrejas particulares. É um novo espírito, são novos sinais. E os frutos começaram a aparecer na Liturgia e no relacionamento entre o Povo de Deus, onde todos são membros de igual dignidade, onde os títulos e as vestes diferenciadores começaram a entrar na sombra perante à novidade perene do Evangelho.

 

A formação dos pastores

Na visão de alguns entrava-se num tempo de cataclismo eclesial: antes tudo era certinho, as dúvidas encontravam sempre uma instância que as resolvia com meridiana clareza; o trabalho dos que se formavam para o ministério pastoral era aprender e de alguma maneira reproduzir o ensinamento dos mestres e dar tempo a que cada etapa aguardasse pela chegada da seguinte; agora, porém, era preciso aprender a viver a realidade do mundo e das pessoas  através do prisma do Evangelho, era preciso regressar às fontes, especialmente à Fonte, que é o Senhor.

O barco da Igreja encontrava-se na confluência de duas correntes: agarrar-se ao passado e à segurança que ele comportava ou abrir-se às exigências do Evangelho, no meio de um mundo que busca respostas às suas inquietações e que espera da Igreja compreensão e ajuda. Um mundo que está farto de ser por ela reprovado numa linha moralizante e que não vê tal cuidado perante tantas chagas como as guerras e a pobreza. O impacto na formação dos seminaristas foi profundo, sobretudo nas instituições mais bafejadas pela abertura. Recordo a experiência do Instituto Superior de Estudos Teológicos, em Lisboa, que surgiu no seguimento de uma outra no Instituto “Sedes Sapientiae” dos Ordem dos Pregadores, em Fátima, onde já há vários anos tinha lugar o paradigma da unidade na diversidade de pessoas, nacionalidades, espiritualidades e pontos de vista. Isso facilitava a abertura da mente e do coração a visões diferentes e a outra forma de aprender: não apenas repetir, mas acima de tudo deixar-se confrontar com a luz e as exigências do Evangelho face à situação concreta deste mundo, onde “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje… são também dos discípulos de Cristo” (Gaudium et Spes, 19).

Na dinâmica dessa regeneração caminha o Papa que “veio do fim do mundo”, mas muito próximo de um mundo carenciado de renovação, apelando ao regresso à Fonte, não querendo parar o tempo e muito menos fazê-lo regredir; que quer anunciar o coração da mensagem de Jesus, que é o seu Reino e a sua justiça, um mundo marcado pelo Espírito e não pelos egoísmos do poder, também eles presentes no coração da Igreja.

texto pelo P. Valentim Gonçalves, CJP-CIRP
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