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A vida difícil e ignorada dos Cristãos na Península Arábica
Apanhados na armadilha
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Nos sete países que constituem a chamada Península Arábica há cada vez mais cristãos. São quase todos estrangeiros, normalmente operários da construção civil, pessoas que emigraram em busca de melhores condições de vida. Mas a realidade é, muitas vezes, bem dura…


Os prédios enormes, ostentando uma arquitectura exuberante, os centros comerciais cintilantes de riquezas, os automóveis de luxo têm feito sonhar milhares e milhares de pessoas em todo o mundo que olham para os países da Península Arábica e sonham com uma vida melhor.
Muitos, pressionados pelo desemprego, pelos salários baixos nos seus países, aceitaram juntar-se à multidão de operários que continuam a fazer crescer, no deserto, cidades habitadas por multi-milionários graças ao ouro negro que parece correr infindavelmente no subsolo. Depressa, porém, todos descobrem que a vida não é fácil, que as promessas de dinheiro fácil são apenas uma ilusão e muitos acabam encurralados numa enorme armadilha.

 

Lugares miseráveis

Tomasito Veneracion é filipino e padre. Está no Dubai, um dos países da Península Arábica que mais tem crescido nos últimos anos. Muitos dos operários da construção civil que têm erguido alguns dos maiores arranha-céus do mundo são seus conterrâneos. Saíram da pobreza mas continuam pobres. “Tenho a impressão de que cerca de 70 a 80% das pessoas que vêm para cá nunca chegam realmente a melhorar muito as suas condições de vida”, diz o Padre Tomasito. “Acabam frustradas e algumas são mesmo rejeitadas e regressam sem nada.” Constroem cidades para os ricos, mas vivem como que enjaulados em casas sem condições. “Visitem Satwa, Karala ou Morakawt, lugares onde a vida é realmente miserável”, diz, desafiando, o Padre Tomasito. Ele sabe do que fala. Os que vivem nesses lugares realmente miseráveis, são os seus paroquianos. “Nestes espaços pode haver oito beliches. Dezasseis pessoas partilham uma pequena cozinha e apenas uma casa de banho. Noutra casa, disseram-me, havia 52 pessoas a morar…”

 

Drama quotidiano

E o dinheiro é mesmo uma ilusão. Muitos têm de pagar taxas de recrutamento às pessoas que lhes encontram trabalho e, em alguns casos, os vistos necessários para poderem residir nestes países podem custar até um ano de salários. Na região, não há sindicatos e as greves estão proibidas. Os trabalhadores insubordinados são deportados sem demora. Há turnos de 12 horas em semanas às vezes sem qualquer dia de descanso. Em muitos casos, os passaportes destes trabalhadores são confiscados pelas empresas empregadoras. É uma armadilha. As cidades dos ricos parecem ‘glamorosas’ no cinema, mas escondem o drama do dia-a-dia dos estrangeiros, dos que ali vivem apenas do seu trabalho. Sendo enclaves pensados para os muito ricos, em algumas destas cidades a alimentação é tão dispendiosa que muitos trabalhadores chegam a gastar até um terço do seu salário só para a comida.

 

Um desafio

Estrangeiros, operários e, muitas vezes, cristãos. O trabalho da Igreja junto destas novas comunidades é essencial mas difícil. Até porque sendo oriundos de muitos países do mundo, trazem consigo culturas distintas, falam várias línguas e até pertencem a tradições e ritos diferentes da própria Igreja. Mais do que um problema, esta diversidade é um desafio. Não se sabe bem quantos cristãos viverão hoje em dia na Península Arábica. O Bispo Camillo Ballin, da Prefeitura Apostólica da Arábia do Norte fala em números expressivos. “De acordo com alguns critérios, podemos dizer que há 140 mil católicos no Barém, cerca de 350 mil no Catar, entre 350 e 400 mil no Kuwait e 1,5 milhões na Arábia Saudita.” No total, o número poderá chegar mesmo aos 3 milhões.

 

Improvável presença

Apoiar estes novos cristãos que chegam com as malas cheias de sonhos é uma das missões mais importantes da Igreja nesta região do mundo. Educar os mais jovens, criar comunidades, formar catequistas e estabelecer pontes são outras prioridades. Esta região do globo tem regras bem apertadas no que diz respeito à liberdade religiosa. Todos os países da Península Arábica proíbem a conversão do Islão a outra religião, assim como casamentos inter-religiosos. A construção de igrejas está rigorosamente limitada e os edifícios não podem ostentar quaisquer símbolos religiosos na sua arquitectura exterior. Nenhum destes países – Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Omã, Barém, Kuwait, Catar e Iémen – permite a existência de seminários católicos nos seus territórios e não é permitido, por exemplo, a posse de bíblias ou terços em lugares públicos, nem são permitidos encontros religiosos sem autorização prévia. Para muitos trabalhadores estrangeiros, a vida na Península Arábica transformou-se numa armadilha. Mas graças à sua presença, hoje a Igreja é uma realidade incontornável que continua a crescer no mais improvável dos solos.

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