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Paróquia de Arranhó, em Arruda dos Vinhos, acolheu Nossa Senhora do Cabo
“Ternura da Mãe de Deus abanou corações”
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As paróquias do Giro dos Saloios esperam 25 anos para voltar a receber Nossa Senhora do Cabo Espichel. A espera de Arranhó foi um pouco mais longa e durava desde… 1716, há mais de 300 anos! “A vinda da Senhora do Cabo a Arranhó foi um sonho tornado milagre”, salienta o pároco, padre Rui Cantarilho.

 

A primeira vez que a Paróquia de Arranhó recebeu o Círio da Senhora do Cabo foi no ano de 1447. A última visita, contudo, não foi há 25 anos, como acontece com as paróquias que integram o Giro dos Saloios, mas há 302 anos. Nos dias de hoje, já ninguém sabia que Arranhó tinha integrado esta tradição. “Quando aqui cheguei, em 2012, pesquisei um pouco sobre a história religiosa e cultural da paróquia. Não havia muita informação, mas numa das primeiras pesquisas que fiz na internet aparece-me o nome de Arranhó envolvido na tradição do Giro dos Saloios da Senhora do Cabo. Fiquei muito admirado, porque não tinha esse conhecimento, e comecei, aqui na terra, a perguntar se alguém sabia de alguma coisa. Ninguém tinha conhecimento de nada”, começa por contar ao Jornal VOZ DA VERDADE o pároco de Arranhó. A data em que a paróquia tinha recebido, pela última vez, Nossa Senhora do Cabo era 1716, o que levou o sacerdote a querer assinalar essa data dos 300 anos que, então, se passavam. “Há seis anos, pensei logo que daí a quatro tínhamos de comemorar a data de qualquer maneira; porque é, de facto, histórico para esta paróquia. Mesmo sem a presença da imagem, Arranhó tinha de assinalar a efeméride”, projetava, em 2012, o recém-nomeado pároco. Na cabeça do padre Rui estava a possibilidade de pedir a imagem ‘emprestada’ para ir a Arranhó a uma celebração dominical. Outra possibilidade era organizar uma peregrinação ao Santuário do Cabo Espichel. O que é certo é que no ano em que se cumpriam os 300 anos da última visita do Círio a Arranhó, em 2016, a imagem de Nossa Senhora do Cabo estava em Belas e ia para a Paróquia de Loures. “A igreja paroquial estava em obras, houve também a Visita Pastoral, e chegámos ao verão e já não houve hipótese de a imagem vir a Arranhó. Chegámos a setembro e o Círio foi para Loures. De lá, dizem-nos que era engraçado a imagem ir a Arranhó celebrar os 300 anos da última visita”, lembra o sacerdote.

Passado uns meses, um dos mordomos de Loures telefona ao padre Rui Cantarilho com a informação de que Carnide, “muito provavelmente”, não iria receber a imagem e que ia sair do Giro. “Como tínhamos mostrado muita vontade de comemorar os 300 anos da vinda da Senhora do Cabo a Arranhó, perguntaram-nos se estávamos interessados em reentrar no Giro do Círio dos Saloios. Dissemos logo que sim e aquilo que, para nós, era inicialmente impossível, acabou por acontecer. Este milagre – porque, para mim, foi um milagre –, foi um desejo de Nossa Senhora de vir a Arranhó”, manifesta o pároco.

 

“Um ano de grande graça”

A Paróquia de São Lourenço de Arranhó tomou então o lugar da Paróquia de Carnide, que tem como orago… São Lourenço. “É muito engraçado esta coincidência de as paróquias terem o mesmo orago”, assinala o padre Rui.

A verdade é que estávamos nos primeiros meses do ano 2017 e tudo tinha que ser preparado e organizado para receber Nossa Senhora em outubro. “Quando aceitámos voltar a integrar o Giro, tivemos somente quatro meses para organizar tudo, todo o ano que a imagem iria passar connosco. Na altura da Páscoa do ano passado, eu anunciei solenemente à população que iríamos receber a imagem da Senhora do Cabo. A partir daí, foi criada uma comissão, que era constituída por gente que não tinha sequer noção do que era a imagem da Senhora do Cabo, mas que acreditou nestes festejos. Houve uma preparação histórica, também a nível do Círio, e as festas foram feitas”, sublinha, satisfeito.

A 7 de outubro de 2017, a Paróquia de Arranhó recebeu, então, Nossa Senhora do Cabo. “Tem sido um ano de grande graça”, aponta o pároco. “Encerraremos as festas a 6 de outubro e, de facto, todos os dias do ano foi, para nós, momento de uma grande presença sentida de Nossa Senhora”, frisa o padre Rui Cantarilho. Este sacerdote, de 34 anos, sentiu-se tocado “pela devoção das pessoas”. “Perante uma imagem que, nesta paróquia, era desconhecida, vê-se, de facto, que o povo tem amor à Mãe de Deus, à Virgem Santíssima. Esta imagem tão bonita, com cara de menina, tão simples, tão ternal, tão maternal, com o abraço que está a dar ao seu Filho, tocou e toca o coração desta gente. Foi impressionante”, aponta.

 

Abanar a terra

Durante os 365 dias do ano, a imagem de Nossa Senhora do Cabo teve culto em Arranhó. “Todos os dias se rezou o terço, com um grupo de pessoas, diante de Nossa Senhora. As festas marianas do calendário religioso foram todas celebradas solenemente com Nossa Senhora e com a confraria. A imagem percorreu todas as terras da nossa paróquia, em grandes momentos, visitámos casas e os doentes, houve muitas promessas, muita oração, muitas graças”, descreve. Para o padre Rui, a presença de Maria abanou Arranhó. “Eu disse, no texto de abertura destas festas, que a chegada da Senhora do Cabo era um sonho tornado realidade. Agora digo que foi um sonho tornado milagre. Considero, e muita gente considera também, que de facto foi um milagre, um grande milagre de Nossa Senhora, que abanou toda esta terra. Abanou as consciências, abanou o nosso coração, a nossa vida, a nossa fé. Ainda esta manhã as crianças da escola estiveram a visitar Nossa Senhora e vemos que a Mãe de Deus está no coração de todas”, garante.

A presença de Nossa Senhora do Cabo Espichel em Arranhó permitiu igualmente que a paróquia chegasse aos mais afastados da Igreja. “Como as festas são também revestidas de um espetáculo exterior, que atrai as pessoas, isso atraía-as também para a vertente religiosa e, muitas vezes, tivemos a igreja aberta até às três da manhã. É curioso ver muitas pessoas que não vêm à igreja habitualmente, mas que quando chegavam às festas iam sempre visitar a ‘Dona da casa’. E era gente que ia também rezar e estar diante da imagem. Mesmo a comissão integrou gente que, digamos, não era afastada da Igreja, mas que também não tinha uma prática semanal enraizada. Vejo que houve, também aqui, uma grande mudança”, refere o pároco.

 

Aproximar de Jesus Cristo

Na noite do passado dia 28 de setembro, a Paróquia de Arranhó recebeu, pela segunda vez neste último ano, a visita do Cardeal-Patriarca de Lisboa. “A presença da Senhora do Cabo é uma bela oportunidade para nós ficarmos mais com Aquele que Ela traz ao colo, o seu Filho, e Nosso Senhor, Jesus Cristo. Por onde Nossa Senhora passa, é sempre para nos aproximar de Jesus Cristo”, manifestou, no início da celebração, D. Manuel Clemente.

Na homilia, o Cardeal-Patriarca quis “felicitar o senhor padre Rui e também a confraria e todos os que muito trabalharam e colaboraram para que aqui, em Arranhó, se retomasse esta feliz tradição”. “Nós sabemos que as visitas de Nossa Senhora são permanentes. Nós somos cristãos porque sabemos que tudo quanto aconteceu com Jesus Cristo, há dois mil anos, continua a acontecer. Somos cristãos porque sabemos que não estamos sós. Nenhum de nós pensa em Jesus como se pensa numa pessoa do passado. Quando pensamos n’Ele, pensamos em Alguém vivo, que nos faz viver, com quem podemos contar e que conta connosco, muito. E a mesma coisa com Nossa Senhora”, frisou D. Manuel Clemente, que durante a celebração deu posse à nova direção da Confraria do Círio dos Saloios de Nossa Senhora do Cabo Espichel (ver caixa). “Que esta presença de Jesus e de Nossa Senhora se torne mais manifesta, se torne mais forte”, desejou o Cardeal-Patriarca de Lisboa, em Arranhó.

 

Caminhada de fé

Situada a menos de uma hora de Lisboa, Arranhó é uma freguesia do concelho de Arruda dos Vinhos, com cerca de 2400 habitantes, segundo os Censos de 2011. “Esta é uma paróquia dinâmica, que tem uma certa presença religiosa. Na Eucaristia dominical, a igreja, que não é pequena, está sempre cheia.  E mesmo na Missa semanal, muitas vezes, temos cerca de 50 pessoas, o que é uma participação muito boa”, assinala o pároco.

A catequese tem “30 catequistas” para “perto de 100 crianças”, além do grupo de jovens, que recebe “os jovens da catequese a partir do oitavo ano”, e do agrupamento de escuteiros, com “um nível elevado de participação”. “É uma comunidade onde as pessoas participam. É uma paróquia dispersa, com oito lugares de culto e um santuário, com a Irmandade de Nossa Senhora da Ajuda, que é também uma marca desta região”, descreve, ainda, o padre Rui Cantarilho, lembrando a comparação feita por D. Nuno Brás, Bispo Auxiliar de Lisboa: “Como disse o senhor D. Nuno, durante a Visita Pastoral, Arranhó é quase uma paróquia de Trás-os-Montes às portas de Lisboa, porque nesta zona de serra qualquer distância nunca é pequena. Mas é uma paróquia que eu encontrei já com muita vida, que tem feito uma caminhada de fé e de presença na Igreja”.

Depois de um ano de festa, com a presença da imagem de Nossa Senhora do Cabo, o desafio passa por saborear o que foi vivido, colocando os olhos na missão e… no ano 2043. “Vamos ver o que vai ficar. Vai ser um ano bom também para saborear. É um ano para nos sentarmos e começarmos a marcar, atrás da porta, os anos que faltam para a vinda da Senhora”, brinca o padre Rui, completando: “Como 25 anos é muito tempo, há que trabalhar! Desde logo, a cuidar e manter todo o trabalho pastoral que, este ano que passou, andou muito em torno de Nossa Senhora e que, agora, é necessário retomar na sua vida normal”.

 

Círio de Nossa Senhora do Cabo - Arranhó 2017/18

www.facebook.com/sradocabo.Arranho

 

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Cardeal-Patriarca dá posse à nova direção da Confraria

Durante a celebração na Paróquia de Arranhó, na noite do passado dia 28 de setembro, o Cardeal-Patriarca de Lisboa deu posse à nova direção da Confraria do Círio dos Saloios de Nossa Senhora do Cabo Espichel. “Irmãos, estais aqui reunidos para assumirdes solenemente o compromisso de servir a Confraria do Círio dos Saloios de Nossa Senhora do Cabo Espichel que tem, como seu fim, promover o culto a Nossa Senhora do Cabo Espichel através da coordenação do Círio dos Saloios, no seu giro entre as paróquias que constituem este Círio”, lembrou D. Manuel Clemente, perante os confrades que assumiram a nova missão na mesa da assembleia geral, na mesa administrativa e no conselho fiscal da confraria.

 

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Barcarena prepara-se para receber Nossa Senhora do Cabo

Após 25 anos, a Paróquia de São Pedro de Barcarena, em Oeiras, vai voltar a receber a presença da Imagem de Nossa Senhora do Cabo Espichel durante um ano. Os ‘Grandiosos Festejos em Honra de Nossa Senhora do Cabo’, como a paróquia apelida, vão ter lugar de 6 a 14 de outubro. No primeiro dia, a receção do Círio Saloio vai ser feita na Fábrica da Pólvora, a partir das 19h00, a que se segue a “majestosa procissão” em direção à igreja paroquial. No dia seguinte, a 7 de outubro, Domingo, às 11h00, o Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, preside à Missa solene, com bênção da primeira pedra do complexo multivalências do Centro Social Paroquial de Barcarena.

A última vez que a Paróquia de Barcarena tinha recebido Nossa Senhora do Cabo Espichel foi em 1993.

Informações: www.facebook.com/senhoradocabobarcarena

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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