Na comemoração dos 25 anos das atuais instalações do Centro Social Paroquial de Caldas da Rainha, o Cardeal-Patriarca de Lisboa desafiou as instituições sociais a olharem com “criatividade” para as respostas a criar, face ao envelhecimento da população.

Quando, em 1993, as atuais instalações do Centro Social Paroquial de Caldas da Rainha nasceram havia uma vontade, expressa por toda a comunidade paroquial: “servir”. Atualmente, o desejo permanece, aliado ao voluntariado e profissionalismo dos colaboradores. “Tanta gente que está do lado de Deus para fazer bem aos outros. É isso que sustenta uma instituição assim”, sublinhou o Cardeal-Patriarca de Lisboa, no passado dia 30 de outubro, na homilia da Missa que assinalou o 25º aniversário das atuais instalações da Instituição Particular de Solidariedade Social caldense, cujo primeiro alvará para funcionamento foi concedido em 1959. “Nunca faltou, desde a primeira geração cristã, gente que, motivada pelas palavras de Cristo, motivada pela Bíblia Sagrada, percebe que se quer estar ao lado de Deus tem que estar ao lado dos outros, se quer ser de Deus tem que ser para os outros. Porque Deus é o Criador de todos e espera-nos em cada um”, lembrou D. Manuel Clemente, na Missa que juntou utentes e funcionários da instituição.

Na homilia, onde também foi lembrado o contributo do cónego José Ferreira Guerra – pároco de Caldas da Rainha durante 31 anos, entre 1970 e 2001 –, para a construção das atuais instalações, o Cardeal-Patriarca enalteceu todos os que contribuem, diariamente, para “fazer o bem”, através da instituição. “Deus dá esses sentimentos de bem fazer, porque Deus é tudo e todos cabem em Deus. Quem compreende isto, vive em ação de graças, não pode viver de outra maneira, porque se sente bem em cada gesto que faz, em cada solidariedade que pratica, em cada aproximação aos outros”, referiu, desafiando a comunidade local a encontrar, através das suas ações, “factos” evangélicos. “Se nós deixarmos que o Espírito de Jesus Cristo habite em nós, para termos direito a usar este nome de cristãos, então as coisas acontecem. Tenho certeza que nesta creche e neste lar acontecem, todos os dias, factos do Evangelho, vidas bonitas, porque são acompanhadas”, assegurou.

O timoneiro

Foi em clima de “grande festa” que a Paróquia de Caldas da Rainha recebeu a visita do Cardeal-Patriarca de Lisboa às instalações do Centro Social e Paroquial. Além de presidir à Missa, que assinalou os 25 anos das instalações, D. Manuel Clemente visitou depois as diferentes valências da instituição. Na opinião do atual pároco, padre Joaquim Pedro, a paróquia “rejubilou” com a presença do Cardeal-Patriarca. “Quando o padre Dionísio e eu o convidámos, ficámos satisfeitíssimos por ele ter aceitado”, partilha, ao Jornal VOZ DA VERDADE, este sacerdote, que é também o presidente da direção do Centro Social Paroquial de Caldas da Rainha.

O padre Joaquim reconhece que a missão “nem sempre é fácil”. “Mas, como o timoneiro é Deus e como a nossa vontade é grande, vai-se fazendo o melhor do que se é capaz”, atesta este sacerdote, de 65 anos, apontando alguns desafios para a instituição. “Estamos a pensar em ter a comunidade paroquial mais presente, fazê-la sentir aquele espaço como seu, vê-lo como resposta cristã à sociedade. Depois, gostaríamos também de dar uma atenção maior aos mais carenciados. Estamos a pensar fazer algo que ofereça maior resposta a quem nos procura. Gostaríamos de estar mais alertados para esta problemática”, revela.

A obra nasce

O padre Joaquim Pedro é pároco ‘in solidum’ de Caldas da Rainha desde 2015 e, desde logo, juntamente com o padre Alfredo Dionísio, decidiram celebrar a Missa, no centro social, uma vez por semana. “Todos os que não estão acamados fazem questão de estar presentes. Até algumas pessoas da paróquia vão até ao lar”, conta. Atualmente, para além dos dez anos de catequese, o sacerdote refere também que existem aulas de Moral a decorrer nas instalações.

Para o futuro, o presidente da direção do Centro Social Paroquial de Caldas da Rainha deseja aumentar a oferta do lar. “É uma lista grande de espera e não temos capacidade para mais. Por isso, a direção e o conselho fiscal estão muito abertos à possibilidade de criar mais espaços para acolher os idosos”, aponta. Para já, e a aguardar a aprovação da Segurança Social encontra-se o projeto de ampliação das instalações, que vão permitir melhorar alguns serviços. Na cerimónia evocativa que decorreu após a celebração da Missa, o vice-presidente da direção Faustino Cunha apresentou a história da instituição, destacando que a “gestão cuidada” vai permitir uma nova obra. Com o apoio da Câmara Municipal de Caldas da Rainha, a instituição vai ter uma “nova lavandaria, a ampliação da sala de refeições, um novo espaço para a zona da saúde, um espaço renovado para o 1º ciclo, com sala de professores e um gabinete de atendimento”, explicou o engenheiro, que está ligado, desde há muitos anos, ao “sonho” do cónego José Ferreira Guerra. Faustino Cunha anunciou ainda outro “sonho”: criar “um espaço para natação e ginásio, que melhore as condições de apoio” dos mais novos.

Crescimento

A acompanhar os últimos 24 anos da instituição está Madalena Bernardo, atualmente diretora técnica do Centro Social Paroquial de Caldas da Rainha. “Quando cheguei, nestas novas instalações só tínhamos o sector infantil, com menos capacidade do que tem hoje. Existia um edifício antigo, onde funcionava o lar de idosos, e foi quando essa valência se mudou para as novas instalações que eu cheguei à instituição. Depois, com o alargamento das instalações, e com as novas exigências que foram surgindo, houve necessidade de obras e criámos o novo edifício, há oito anos, com uma organização de Estrutura Residencial para Idosos (ERPI) – atual denominação para lar de idosos – e o Centro de Dia para 30 utentes”, conta ao Jornal VOZ DA VERDADE Madalena Bernardo, sublinhando também o “alargamento da resposta” de creche e a criação do 1º ciclo. “Era uma necessidade que sentíamos, uma vez que muitas crianças tinham feito o seu percurso escolar, desde os 4 meses até aos 6 anos, nesta instituição”, revela a diretora técnica.

Organização

Atualmente, o Centro Social Paroquial de Caldas da Rainha está organizado em dois sectores: infantil e idosos. No sector infantil, existe a creche, com várias salas, e com capacidade para 50 crianças, que está totalmente preenchida. Existe também a valência de educação pré-escolar, para 75 crianças, repartidas por três salas que, juntamente com o Centro de Atividades de Tempos Livres (CATL), completam a oferta do sector.

A área dedicada aos idosos oferece a Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI), para 58 utentes, e tem a lotação esgotada. O Centro de Dia oferece ocupação para 30 idosos e o Serviço de Apoio Domiciliário presta ajuda a 42 idosos, no Concelho de Caldas da Rainha. Paralelamente, a instituição procura responder às situações com maior necessidade e que “batem à porta”, sobretudo das famílias dos utentes, através do acompanhamento social, que é garantido com a presença de um técnico.

Novas respostas

Atualmente, para a diretora técnica, o desafio está em garantir uma resposta “com qualidade” às exigências que são colocadas com o envelhecimento da população. “A esperança média de vida está a aumentar e, cada vez mais, temos idosos mais velhos nas instituições e com mais necessidades. A grande dificuldade que sentimos, enquanto equipa, é dar resposta às situações de demência. Os idosos vivem mais anos, mas ficam com alterações cognitivas, psicológicas. A parte mental é muito complicada”, constata Madalena Bernardo, assumindo algumas dificuldades em lidar com este problema, embora os colaboradores participem em diversas formações. “Esse é o grande desafio com que temos de aprender a lidar, para responder com qualidade, de forma integrada e técnica – e não fazer por fazer, mas saber quais os projetos que podem ser uma mais valia e capazes de integrar estas pessoas. Estamos a aprender para, todos os dias, dar uma boa resposta”, assegura.

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Envelhecimento da população requer “criatividade” para novas respostas sociais

Na sessão evocativa, que assinalou os 25 anos das atuais instalações do Centro Social Paroquial de Caldas da Rainha, o Cardeal-Patriarca de Lisboa desafiou as instituições de solidariedade social a usarem a “criatividade” para responderem aos “horizontes novos, ‘impostos’ pela sociedade portuguesa atual”. “A sociedade portuguesa mudou muito. Hoje em dia, as crianças são menos e os idosos são mais. Esta mudança da sociedade portuguesa é estrutural porque veio para ficar. A sociedade portuguesa, contrariamente há dezenas de anos atrás, é uma das sociedades europeias mais envelhecidas”, observou D. Manuel Clemente, sublinhando que este facto “não se trata de um mal” mas “implica que os equipamentos sociais correspondam”. “Os nossos centros sociais e outras instituições sociocaritativas debatem-se hoje com um problema que é o seguinte: quando foram criados, quer em termos de pessoas dedicadas e profissionais, quer em termos de estruturas, focavam-se nas primeiras gerações. Hoje, têm que fazer uma volta de quase 180 graus, para se focarem naquela população que será maioritária, que é a população idosa. Há aqui um enorme campo de criatividade. Não vejamos isto como um peso, mas como um desafio criativo!”, desafiou o Cardeal-Patriarca, na sessão onde também pediu uma maior ligação da ação sociocaritativa à comunidade cristã local. “É um grande desafio, para estas instituições, manter e reforçar a ligação ao centro paroquial – paróquia – que as anima”, defendeu.