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Síria: a família Ghattas quer voltar ao lugar onde já foi feliz
Regresso a casa
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O prédio onde viviam ruiu quando um morteiro desabou no telhado, reduzindo tudo quase a escombros. Desde então, a vida da família Ghattas tem sido um tormento. Não é fácil sobreviver no dia-a-dia num país em guerra. Mas agora, graças à ajuda da Fundação AIS, a casa, onde todos foram felizes, já está em obras.

Provavelmente, Elias, Lina e Bashar Ghattas nunca escutaram a cantiga de Rui Veloso que nos diz que não devemos voltar ao lugar onde já fomos felizes… No entanto, para eles, para a família Ghattas, a casa, na chamada Cidade Velha de Homs, é tudo o que têm. É a sua única propriedade. Está em ruínas, é um facto, e só eles conseguem olhar para aquelas paredes desfeitas, com incontáveis buracos de balas, e reconhecer ali a casa onde passaram tantos anos, onde riram e sonharam. Onde os filhos cresceram. Foi na cidade de Homs que começou a guerra na Síria, em 2011, uma guerra que já ceifou mais de 400 mil vidas e que ainda não terminou. E foi na chamada Cidade Velha que se registaram algumas das mais violentas batalhas desta guerra. Os escombros que ainda se amontoam nas ruas de Homs são o testemunho silencioso desses dias, desses anos de violência. Corria o ano de 2013, quando um morteiro explodiu no telhado do prédio. “Tudo colapsou”, recorda Elias, cabelo curto, todo branco, barba rala, um olhar resignado. Foi nesse dia, em 2013, que tudo mudou na vida da família Ghattas. O morteiro destruiu o telhado e fez desabar quase todo o edifício. E deixou marcas para o resto da vida em todas as pessoas que estavam em casa. “O meu filho ficou cego de um olho”, explica Lina, a mulher de Elias, referindo-se a Bashar. Eles têm mais um filho, Thamir, mais velho, que foi chamado para o exército há sete anos… “Graças a Deus, ainda está vivo...” Lina tem um olhar triste. Dificilmente poderia ser de outra forma. “Eu e o meu filho ficámos feridos e tivemos de ser levados para o hospital num tanque.” Num tanque de guerra do exército sírio. Só mesmo um tanque conseguiria atravessar aquela rua cheia de escombros, de prédios em ruínas, de gritos de dor. “Era a única forma de sermos tirados dali”, lembra Lina, numa voz quase sem expressão. “É um milagre estarmos vivos!”

 

“Estamos cansados”

A família teve de encontrar outra casa. Mudaram uma e outra vez. Sempre moradas provisórias. Agora estão numa casa pequena, um quarto andar com uma sala minúscula, uma casa de banho e uma pequena cozinha. À noite, a sala transforma-se em quarto. O colchão está encostado a uma parede, à espera. Ainda é de dia… Quando a água ao lume na chaleira começa a borbulhar, quando Lina coloca lá dentro um pouco de café, há um aroma que se desprende da cozinha e enche a casa por inteiro. Se alguém fechar os olhos nesse momento, poderá pensar que está até numa casa normal, numa família comum, numa cidade igual a tantas outras. É apenas o aroma do café que engana. Não há nenhum perfume na pobreza, não há nenhum encanto na miséria. “Estamos cansados de estarmos deslocados”, diz Elias Ghattas. Na Síria, hoje em dia, todos estão cansados. Estão cansados, às vezes, da própria vida. “Queremos regressar”, diz ainda. A casa onde caiu o morteiro é tudo o que possuem. Está em ruínas, é certo, mas pertence-lhes. “Estamos cansados de estarmos deslocados. Queremos regressar. A casa é onde está o nosso coração”, diz Elias, olhando para Lina que concorda com ele, palavra por palavra, dizendo que sim com a cabeça.

 

“Obrigado, AIS”

Graças à ajuda da Fundação AIS, que está a apoiar a recuperação de uma centena de casas e igrejas na cidade de Homs, as obras já começaram. Mas é um processo lento, complexo. Quase não há paredes intactas, e as que sobram estão esventradas, com tubos à mostra, moribundos. Há buracos de balas em todo o lado. Até parece que o cheiro a pólvora ainda está entranhado. O engenheiro Hassib Makhoul assumiu a obra. Não é fácil fazer uma casa em cima daquelas ruínas. “Quando demos início às obras, este prédio estava num péssimo estado. Não havia fachada, nem escadas. O nosso primeiro passo foi construir as paredes e instalar uma porta.” Falta tudo o resto. Para o engenheiro Makhoul aquela é apenas uma casa, as paredes são apenas paredes, a cozinha é apenas mais uma cozinha. Para a família Ghattas, aquela é a casa. A sua casa. A casa onde andaram de mãos dadas, onde os filhos deram os primeiros passos… Nenhum engenheiro conseguirá reconstruir completamente a casa dos Ghattas. Só eles próprios poderão fazê-lo. Há um cimento que não se vende nas lojas, mas que completa toda a obra de reconstrução. Chama-se amor. É por isso que, apesar de nunca terem escutado Rui Veloso quando ele canta que não devemos voltar ao lugar onde já fomos felizes, o que eles mais desejam é que chegue depressa o dia em que voltarão a abrir a porta do primeiro andar da sua casa na Cidade Velha de Homs. “O nosso lar é a coisa mais preciosa”, diz Elias Ghattas. “Obrigado, benfeitores da AIS por tudo o que estão a fazer por nós.” 

 

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texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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