Entrevistas |
Padre Ricardo Figueiredo, autor do livro ‘A liturgia segundo o Papa Francisco’
“Crescer no conhecimento da liturgia e assim aprender a vivê-la melhor”
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‘A liturgia segundo o Papa Francisco – Guia de estudo e reflexão’, do padre Ricardo Figueiredo, pretende ser “um livro para estar ao serviço” da diocese, na vivência deste ano pastoral dedicado à liturgia. Em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, o sacerdote do Patriarcado de Lisboa destaca a importância da chamada “teologia do povo”, trazida pelo Papa Francisco para Roma, e da “novidade” que o Papa argentino trouxe à Igreja.

 

O que podemos encontrar no seu mais recente livro ‘A liturgia segundo o Papa Francisco’?

Este livro é um itinerário, um guia de estudo e reflexão, escrito a partir de vários pronunciamentos do Papa Francisco e também, no último capítulo, a partir de alguns textos do Papa João Paulo II, sobre o Domingo. O livro contém alguns temas sobre fundamentos da liturgia e segue aquilo que é proposto pela Constituição Sinodal de Lisboa, ao procurar apresentar esses temas.

 

Qual a novidade do pensamento do Papa Francisco no contexto litúrgico?

Há um elemento teológico que o Papa Francisco trouxe para Roma, que é a sua experiência teológica, a chamada ‘teologia do povo’, a teologia que se desenvolveu e se maturou na Argentina, na qual o Papa Francisco foi formado, e que é perfilada na constituição dogmática ‘Lumen gentium’. Sublinha muito a noção do povo de Deus como uma daquelas imagens para descrever o que é a Igreja. A grande novidade é precisamente esta expressão da “dimensão popular” – no melhor sentido da palavra – do que é a liturgia. É o momento que o povo tem para o encontro com Deus, para o encontro com Jesus Cristo, para celebrar a sua fé e, portanto, todos os temas estão em função disso. Estes são temas muito caros ao Papa Francisco, porque ele lê toda esta dimensão popular da liturgia e da Igreja em função da nova evangelização ou da nova etapa evangelizadora – como o Papa gosta de dizer. Temos, portanto, a liturgia como expressão deste povo que reza, que se encontra com Deus e que, por sua vez, é veículo para a transmissão da fé. A meu ver, são estas as três dimensões principais da novidade do pensamento de Francisco para a liturgia.

 

Quais poderão ser os frutos deste livro?

Espero que o principal fruto seja a possibilidade de as pessoas crescerem no conhecimento sobre o que é liturgia e, assim, aprenderem a vivê-la melhor. É um itinerário com 21 temas, no total. A primeira parte é sobre os fundamentos da liturgia; depois, a segunda parte aborda os sacramentos e a terceira parte é dedicada ao Domingo. Espero que as pessoas saiam deste percurso com uma consciência mais profunda, mais maturada, mais adulta do que é a liturgia e na forma de a viver.

Hoje em dia, quando se fala em liturgia, as discussões reduzem-se ao aparato na liturgia, o que é um problema. A liturgia é mais do que o aparato e o aparato, muitas vezes, é até secundário em relação àquilo que é a alma da liturgia. O aparato litúrgico tem que estar ao serviço deste encontro com Deus.

 

A Constituição Sinodal de Lisboa identifica a importância da liturgia na vida das comunidades. Tem notado uma necessidade de se orientar a vida das comunidades cristãs para os mistérios que celebram?

Sim. A Constituição Sinodal fala da liturgia como lugar de encontro com Deus e com os irmãos. Estas duas dimensões parecem as mais importantes. De forma geral, muitas vezes, reduz-se a liturgia a um lugar de encontro com os irmãos, um momento de vida social. Sabemos que há celebrações onde temos muitas pessoas sem caminhada de fé como, por exemplo, nos casamentos e batizados. Falta muito esta dimensão transcendente, do encontro com Deus. Este livro procura, a partir de vários textos do Papa, dar este lugar de encontro com Deus e, nessa medida, encontro com os irmãos. Perceber que esta é a expressão daquilo que é a identidade mais profunda do cristianismo: Deus que vem à nossa procura, que vem na pessoa de Jesus à procura do ser humano, à procura de cada pessoa. A liturgia é como isto, ao longo de dois mil anos, acontece. Se é apenas uma experiência antropológica ou social, falta a verdadeira sociedade, que é a relação social com o próprio Deus, que é a característica do cristianismo.

 

Como foi a sua experiência ao elaborar este livro?

Deu-me bastante gozo escrever este livro. Mesmo agora, quando o livro saiu, as pessoas perguntam-me: ‘O Papa Francisco disse assim tanta coisa sobre a liturgia, para dar um livro?’.  Há muitos textos e pronunciamentos do Papa Francisco que se desconhecem. Para mim, foi um percurso que me deu muita alegria e gozo fazer. Fez-me chegar a esta dimensão mais profunda e, tantas vezes, espalhada por vários textos do Papa. A segunda experiência foi a de ter este prisma de estar a escrever um instrumento para estar ao serviço de toda a Diocese de Lisboa. Este é um livro para estar ao serviço. Não serve para se ler de uma ponta à outra e pensar que se vai saber tudo acerca de liturgia. Há muitos pontos para a pessoa se confrontar. Por isso, tem sempre uma proposta de leitura bíblica no final de cada tema, para as pessoas lerem, aprofundarem e continuarem este confronto com a Palavra de Deus. Tem também um esquema, proposto, para as reuniões de grupo. São textos para serem mastigados, aprofundados, feitos para oferecerem uma formação mais completa sobre o que é a liturgia.

 

Depois de publicados os documentos que resultaram da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, a Igreja está agora numa fase de reconhecer a liturgia como verdadeiro lugar de encontro com Deus?

O Concílio Vaticano II aconteceu há pouco mais de 50 anos, mas o aparato documental da reforma litúrgica está concluído há muito pouco tempo. Os principais documentos saíram nos primeiros dez anos após o concílio. Estamos a falar de um processo que tem cerca de 40 a 50 anos, o que é pouquíssimo tempo.

Um dos chamados pilares ‘Bergoglianos’ é “o tempo é superior ao espaço”. Isto aplica-se, de forma particular, na liturgia. Já temos a primeira fase, com a publicação da Constituição conciliar ‘Sacrosanctum concilium’ (sobre a Sagrada Liturgia); a segunda fase também já está fechada, com a publicação de todos os documentos posteriores (de aplicação da reforma). Estamos agora na terceira fase, que é a fase da receção destes documentos e de pô-los em prática. Basta pegarmos na ‘Sacrosanctum concilium’ e ver o que diz sobre a participação ativa dos fiéis para podermos constatar como ainda estamos a léguas de viver aquilo. Claro que temos pequenas bolsas, mas não é algo comum a todos os fiéis católicos. Estamos a caminho e este livro pretende também ser mais um passo, mais um instrumento para se aprofundar, a partir do pensamento do Papa Francisco, o que é esta “reforma litúrgica irreversível”. Seguimo-la na consciência de que o tempo vai dar os seus frutos. Portanto, 50 anos em pouco mais de dois mil, é muito pouco e ainda temos muito para fazer!

 

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Próximas apresentações

As próximas apresentações do livro ‘A liturgia segundo o Papa Francisco’ vão ser feitas por D. Nuno Brás, Bispo Auxiliar de Lisboa, e estão previstas para os dias 12 de dezembro, às 21h30, na igreja paroquial de Belas, e 14 de dezembro, às 21h30, no Santuário do Senhor Jesus da Pedra, em Óbidos.

 

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Recuperar a vivência do Domingo “é um enorme desafio para a pastoral atual”

Na sessão de apresentação do mais recente livro do padre Ricardo Figueiredo, o Cardeal-Patriarca de Lisboa alertou para a necessidade de se retomar a vivência do Domingo. “É um enorme desafio para a pastoral atual: para as nossas famílias e, depois, para as nossas comunidades. Esta é uma insistência tão antiga como o próprio cristianismo e que hoje temos que retomar. Se não conseguirmos reencontrar uma maneira de renovar a nossa frequência dominical, perdemos muito como sociedade. Alguém pode ganhar em termos individuais, para si ou para os seus, mas como comunidade perde-se irremediavelmente e é mais um fator de desencontro entre todos nós”, alertou D. Manuel Clemente, no passado dia 27 de novembro, na sede do Instituto Diocesano da Formação Cristã, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa.

Nesta sessão, o Cardeal-Patriarca desafiou ainda os presentes a pensarem, por dois minutos, o que seria se deixasse de haver Missa dominical. “Apesar de a prática não ultrapassar os 20%, desaparecia a única oportunidade, independentemente da idade, da raça, da condição social, de nos encontrarmos. Se isto deixasse de existir, seríamos menos sociedade do que ainda somos”, considerou D. Manuel Clemente, relevando a “insistência” do Papa Francisco para que “a partir da Igreja e na Igreja os encontros aconteçam e, sobretudo com aquelas pessoas que mais precisam de ser reencontradas ou de nos encontrar”.

Na primeira apresentação do livro ‘A liturgia segundo o Papa Francisco’, o Cardeal-Patriarca de Lisboa referiu ainda que “a liturgia deve ser retomada como ocasião de excelência de encontro com Deus e com a Igreja como povo de Deus”. “A liturgia é o culto público da Igreja, tem como sujeito a própria Igreja como povo de Deus, e distingue-se da nossa oração particular. Como sabemos, no Novo Testamento e, mais concretamente, nos escritos de Paulo, a Igreja aparece como três referências comunitárias: uma ao Pai, outra ao Filho, e outra ao Espírito Santo; ou seja, como Povo de Deus, como Corpo de Cristo, como templo do Espírito Santo. Tudo isto é plural, tudo isto é coletivo”, sublinhou D. Manuel Clemente.

 

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‘A liturgia segundo o Papa Francisco – Guia de estudo e reflexão’, da autoria do padre Ricardo Figueiredo, foi publicado pela Paulus Editora, em colaboração com o Instituto Diocesano da Formação Cristã (IDFC), do Patriarcado de Lisboa, e está à venda na Livraria Nova Terra, no Patriarcado de Lisboa, e nas livrarias de todo o país, com um custo de 8 euros.

 

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Apresentação em vídeo

A página do Jornal VOZ DA VERDADE no Facebook (www.facebook.com/vozdaverdade) transmitiu, em direto, a apresentação do livro ‘A liturgia segundo o Papa Francisco – Guia de estudo e reflexão’, pelo Cardeal-Patriarca, D. Manuel Clemente. 


 

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