JMJ Lisboa 2023 |
Crónicas do padre Hugo Gonçalves
LISBOA 2022
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O último dia de Jornada Mundial da Juventude começou na noite anterior, com a vigília. Milhares de jovens ficaram toda a noite no Campo São João Paulo II, onde rezaram e aproveitaram para descansar de um dia que tinha sido muito longo e emocionante. Às três da manhã comecei a preparar-me para a missa que seria às 8h. Há exigências de segurança e somos tantos padres e bispos que é preciso começar tudo muito cedo para estarmos prontos à hora prevista. Perto da hora da missa, o ambiente era vibrante! A multidão era imensa e a espera não era penosa, porque continuávamos a rezar e a cantar. Por razões que agora são óbvias, tive a felicidade de ficar sentado mesmo junto à presidência onde o Papa se sentava. Ali perto estavam vários jovens de Lisboa que depois vimos a festejar o anúncio da Jornada Mundial em Lisboa. Estavam entusiasmadíssimos com tudo! Por estarem a viver uma Jornada incrível, por estarem sentados tão perto do altar, mas, sobretudo, felizes com a ideia de receberem na sua Diocese a Jornada Mundial da Juventude 2022.

Na missa a mensagem foi de continuidade e coerência com o que vivemos aqui. Que a Jornada continue no coração de cada um para que este amor de Jesus, este ‘sim’ de Maria possam ser levados ao mundo. E depois foi o momento do anúncio! A próxima Jornada será em Portugal, mais propriamente em Lisboa! Foi extraordinário ouvir aquelas palavras, foi extraordinário ouvir os gritos de alegria dos portugueses, mas sobretudo os gritos de alegria e as felicitações de todos! A partir daí já não houve controlo. Toda a gente queria tirar fotografias, perguntar coisas sobre Lisboa, muitos diziam que nos encontrariam cá em 2022, o Senhor Patriarca e os nossos Bispos deram entrevistas e tiraram selfies com os jovens a cada passo que davam.

De tarde, já na casa da família que me acolheu, tínhamos programado um jantar de despedida. Foi o tempo de, num ambiente mais relaxado, irmos descrevendo o que cada um viveu nesta última etapa da Jornada. Os rapazes austríacos estão animadíssimos com a Jornada em Lisboa e a Karla e Ivette, as irmãs que nos acolheram aqui, estão muito tristes por já estarmos de partida. Além do que comemos, das iguarias panamenhas, houve tempo para muitas partilhas sobre a forma como a fé é vivida na terra de cada um e gostei muito de ver estes jovens entusiasmados com as actividades que acontecem nas suas terras, os festivais cristãos de jovens e os encontros de Pentecostes. Há qualquer coisa de belo em procurar a felicidade na comunhão com os outros, na construção de um mundo melhor! Também cantámos, sobretudo o Lukas que está sempre com a sua guitarra e gosta de partilhar connosco as suas músicas de oração favoritas, e conversámos sobre o que cada um estuda ou faz no trabalho, sobre o caminho que cada um vai trilhando, sobre dúvidas e convicções... foi bom mesmo! Trocámos presentes com as donas da casa. Os rapazes vinham preparados com lembranças tradicionais austríacas e eu também trouxe de Portugal um presente para ofertar. E elas, depois de tudo o que já nos ofereceram ao acolher-nos, alimentar-nos, dar-nos boleia para tantos lados, mostrar-nos os recantos do Panamá, também tinham comprado lembranças para nós! Já fomos dormir tarde, muito tarde depois de tudo o que foram estes dias. E por isso esta crónica vem com umas horas de atraso.

Estamos agora a preparar-nos para o pequeno almoço e depois os rapazes vão embora para outra parte do Panamá onde ficarão por mais uns dias. Eu viajo hoje à noite e, se Deus quiser, amanhã já estarei de volta à nossa Lisboa, anfitriã da Jornada Mundial da Juventude em 2022. Tudo isto foi muito mais do que eu consegui escrever. Tudo isto foi muito mais do que eu consegui aperceber. Tudo isto se revelará maior com o tempo. A próxima Jornada será em nossa casa. Que aprendamos a dizer com Maria:

EIS AQUI A ESCRAVA DO SENHOR. FAÇA-SE EM MIM SEGUNDO A TUA PALAVRA!

Panamá, dia 28 de janeiro

 

 

AMAR PARA SALVAR

Mais um dia que se aproxima do fim, embora hoje a Jornada se prolongue em oração por toda a noite.

Estes dias passam tão rápido e são tão densos que por vezes me custa a acreditar que passou tão pouco tempo. Sente-se que vivemos um mês destes encontros. Acho que vai ser preciso mais tempo para que esta água tão viva se entranhe completamente e o Senhor desvende plenamente a sua vontade a partir daqui.

O dia começou como todos: cedo. Já começamos a saborear mais cuidadosamente os momentos com a família de acolhimento. Já se sente que serão breves os momentos que ainda teremos para estar uns com os outros.

Para a missa, juntei-me ao grupo de Espanha que se reuniu todo na mesma paróquia onde me acolhem para uma missa campal. Gosto muito destas missas. A fé é mesmo universal! Juntaram-se outros padres e bispos de vários cantos do mundo. Os jovens estavam felizes e a viver intensamente esta jornada, como nos disseram nos testemunhos.

Depois fui a correr ao encontro do grupo de Lisboa que ia sair da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo para uma peregrinação de várias horas, sob calor intenso, para o lugar da vigília e da celebração final. Estavam bem preparados, com as mochilas, as esteiras, os sacos cama, as bandeiras, o repelente e o protector solar. Pelo caminho também havia que levantar os kits com as refeições. Mas o mais importante era que o caminho que fariam com os pés, fosse correspondentemente feito com o coração.

Cheguei muito cedo ao lugar da vigília, o Parque São João Paulo II. O espaço é imenso! A multidão diluía-se no horizonte mais do que a vista podia alcançar. Era uma explosão de cor, som e movimento que nos atinge como uma onda de choque irresistível!

Depois de muito tempo em que houve oportunidade para tirar muitas fotografias, muitas selfies, em que se cantou, dançou, pulou, gritou ou se procurou um amigo entre a multidão, ouviu-se o anúncio: o Papa!

Por mais que vejamos o Papa chegar a algum lugar, por mais que tenhamos oportunidades de acenar à passagem do papamovel, a verdade é que cada vez é única. Estes dias gostei muito de um vídeo que passou pelas redes em que entrevistavam um grupo de Lisboa enquanto se esperava a passagem do Papa. Os jovens estavam a responder muito bem mas quando o Papa estava a passar foram todos a correr para o gradeamento ignorando o jornalista e, momentos depois, voltaram à entrevista como se nada fosse! Muito bom!

A vigília talvez tenha sido uma das mais tocantes das JMJ em que estive... ou talvez a maior proximidade me tenha ajudado mais. Foi simples e profunda. Rezámos mesmo!

Tocaram os testemunhos da familia que disse sim ao nascimento de uma filha portadora de Trissomia 21, embora lhes tenha sido aconselhado o aborto; de um jovem, Alfredo, que entrou nas drogas e na delinquência e que esteve preso e nos contou que aos poucos Deus foi-se manifestando na sua vida e encontrou apoio na Igreja onde se tratou e reencontrou um sentido para a sua vida; e o de uma jovem cristã da Terra Santa que partilhou que, embora tenha sido baptizada, nunca viveu como cristã porque não se interessava por isso, até ter conhecido um grupo e ter ido à JMJ de Cracóvia, que mudou completamente a sua relação com Jesus.

E o Papa foi, mais uma vez, fantástico! Falou na linguagem dos jovens, usando palavras como cloud, App e influencer.

Lembrou que Maria não era uma influencer, mas foi a mulher que, sem pensar nisso, mais pessoas inspirou na história. Segundo o Papa, poderíamos dizer que Maria foi uma influencer de Deus.

Com muita graça o Papa disse: Maria não dizia “vamos ver o que acontece”. Era mais decidida! Disse o seu sim.

E fez várias perguntas para as quais esperava a resposta ruidosa dos jovens.

“Sentem-se portadores de uma promessa, como Maria? Que promessa tem cada um no seu coração para ser levada adiante?”

Lembrou que a cobardia paralisa-nos quando não temos tudo planeado e controlado. E que, perante o Anjo, Maria não comprou um seguro de vida! Ela arriscou, confiou-se totalmente a Deus e por isso, influenciou e inspirou os outros, inspira-nos a nós.

De uma forma muito própria do Papa Francisco, com aquele olhar que se demora sobre nós, que suspende as frases, lembrou que só aquele que é amado pode ser salvo. E fez-nos repetir esta frase, talvez para a fixarmos bem. Jesus ama-nos e salva-nos! O amor de Deus é maior que as nossas fragilidades. É contando com elas que Jesus quer reescrever a nossa história, ajudar-nos a levantar e a por-nos de pé. Ainda nos disse que a verdadeira queda capaz de nos derrubar e arruinar a nossa vida é a de permanecer no chão e não nos deixarmos ajudar.

Desafiou os casais e as famílias a não ter medo de receber a vida como vem, como é.

E alertou para a situação de muitos jovens que sentem que deixaram de existir para os outros. Sentem-se invisíveis, que não contam com espaços reais onde possam ser acolhidos. E esses estão à mercê de muitas coisas que os destroem. Isto tem a ver comigo, preocupo-me com eles, ou não me interessa? É preciso olhar para os jovens com os olhos de Deus, para encontrarem um lugar onde lançar as suas raízes.

Fiquei a pensar nisto: como é que os jovens se acolhem uns aos outros? Como é que a igreja, a comunidade é o lugar onde lançam raízes e encontram a sua casa? Algumas consequências teremos de tirar daqui!

Continuou o Papa: Queremos ser grandes? Mas que grandeza queremos alcançar? Maria compreendeu o que fazia a vida realmente grande e disse SIM!

O mundo não será melhor por haver menos doentes, menos idosos ou menos pecadores. O mundo será melhor quando cada um se animar a construir um futuro de esperança.

Só o amor nos torna mais humanos, mais plenos! O resto mergulha-nos no vazio!

Não tenham medo de abrir o coração a Jesus. Que Jesus nos ajude a descobrir a beleza que é estar vivo e desperto para a vida!

E pediu: Rezem por mim para que eu não tenha medo de abraçar a vida e seja capaz de lançar raízes e dizer como Maria: Faça-se em mim...

Depois veio a exposição do santíssimo, o cara-a-cara com Jesus, o silêncio sentido, a música. Foi tão bom!! Não há palavras!

Terminámos esse momento com um cântico à Virgem de Fátima que saiu em procissão levada pelos jovens. Levada por eles, mas a levá-los, a levar-me a mim, a levar a todos vocês!

Hoje o dia por aqui não acaba. Que, também, nunca acabem a nossa capacidade, o nosso desejo, a nossa resposta: SIM!

Panamá, dia 27 de janeiro

 

 

QUEM ÉS TU, SENHOR?

Hoje o meu dia terminou um pouco mais tarde, e foi tanto o que pude experimentar!

Este era o dia preparado para o encontro dos portugueses com os bispos no nosso país que estão a participar na JMJ. O dia em que celebramos a Conversão de São Paulo não podia ser mais apropriado. Foi disso que nos falou o Patriarca. A forma como Paulo não imaginava o que viria a ser a sua vida depois daquele encontro na estrada de Damasco, do que viveria, dos milhares de quilómetros que percorreria, dos corações que encheria da presença de Jesus. Foi uma manhã de alegria. Rever muitas caras conhecidas de tantas actividades e reencontrar o Afonso que veio directo do seu Erasmus na América Latina para o Panamá! Deve ser muito bom encontrar caras familiares depois de tanto tempo fora!

Durante o encontro tivemos um momento em que os padres presentes, que eram muitos, se espalharam por toda a Igreja e estiveram a confessar os jovens que quiseram. É um dom muito grande, que eu sinto sempre que exige que descalce as sandálias, como fez Moisés, diante da sarça ardente que é o mistério da vida de cada um.

O grande momento do dia seria a Via Sacra com o Papa, actividade do programa oficial da Jornada Mundial. Conheci ali um outro padre Hugo, da Guarda e ficámos sentados lado a lado. Qual era a probabilidade?

A oração foi simples e muito profunda. Meditações muito actuais, muito ao encontro do que se vive em cada país da América, mas que não é diferente do que também se passa por outros países.

Retive sobretudo que a Cruz de Jesus é o retrato de tantos esquecimentos. Nela muitos podem reconhecer a sua própria dor. Dor causada pela ambição dos que se sentem donos do mundo, dores causadas por questões entre os vários países e que enchem de espinhos a vida de tanta gente, sobretudo a dos refugiados. Foi um convite muito forte a que levemos com amor a imensa Cruz do mundo e a que não sejamos indiferentes às lágrimas dos pobres... que amemos e respeitemos sempre a vida humana.

O Papa, no final dirigiu-nos palavras fortes e marcou-me o momento em que nos convidou a não vivermos uma certa letargia, porque bem sabemos como muitas vezes
Desviamos o olhar para não ver
Fechamos os ouvidos para não ouvir
Tapamos a boca para não gritar

O Papa convidava a aprendermos com Maria a não ter o coração blindado. É uma imagem acertada, porque muitas vezes blindamos o coração e não nos deixamos tocar como aconteceu com Paulo em Damasco, como aconteceu com Maria naquele dia em que o Anjo lhe apareceu.

Depois de tanto, o Papa abençoou os jovens e convidou-os a ir com o coração silencioso e em paz e com muitas “ganas” de seguir a Jesus.

E foi tempo de voltar para a paróquia. No meu bus encontrei um bispo da Tanzânia, D Desiderio, que no dia anterior tinha entalado a mão na porta de um carro e perguntei se estava melhor. Ali começou uma conversa bem bonita. E no fim pediu-me para rezar por ele, para que quando chegasse o momento de se retirar, fosse capaz de o fazer com serenidade. Achei isto muito bonito! E depois, em conversa disse-me que a sabedoria vai aumentando com a idade mas que quando nos agarramos muito ao poder, a vamos perdendo. Agradeço esse encontro que além de muito gentil, foi uma fonte de esperança, uma lição de humildade.

Voltando à casa que nos acolhe, tivemos um jantar muito simpático a que se juntaram três amigos do grupo de Lisboa (gosto muito destas amizades que vão acontecendo em rede, gosto muito de fazer estas pontes entre pessoas).

Entretanto chegaram os três austríacos e, enquanto o Markus e o Jesse jantavam, o Lukas tocava e cantava as suas músicas de oração favoritas. E assim foi até tarde.

Há muitos frutos, muitas conversas, muita libertação de que não vos posso falar, mas que posso dizer que aqui os dias parecem semanas, tantas são as pessoas, as histórias, os encontros... e hoje foi um dia desses.

Lembrei-vos muito na Via Sacra, nesse caminho da dor e das quedas, que é afinal o caminho da luz, do perdão e do amor. Um caminho que nos é proposto.

A resposta há de ser sempre a mesma:
“Eis aqui a escrava do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra!”

Panamá, dia 26 de janeiro

 

 

EIS-ME AQUI

Mais um dia que chega ao fim. Mais uma infinitude de encontros, surpresas e emoções que é impossível não agradecer.

Hoje o dia foi todo vivido na intensa expectativa do encontro com o Papa. Ao fim do dia estava marcada a festa de acolhimento ao Santo Padre, que é também a abertura oficial da JMJ. Há que fazer preparativos, saber horários e meios de transporte, prever água e comida. Mas o mais importante é levar o coração disponível, como o de Maria que dá o mote a esta Jornada.

A alegria começa logo em casa, onde as irmãs Karla e Ivette me acolhem juntamente com três austríacos: Jesse, Markus e Lukas. A alegria de quem acolhe e está entusiasmada por nos ter em casa e por estar a receber o Papa no seu país, mas também a alegria que transborda em todos nós nestes dias.

Por questões de proximidade e organização do tempo, decidi-me a ir com eles à oração da manhã, catequese e missa juntamente com os peregrinos de língua alemã. Mesmo sem entender nada do que se diria ali. O Jesse, na sua generosidade, cuidou de traduzir pelo menos o fundamental do que foi dito e até me estendeu o seu cancioneiro quando a canção era em alemão, não sei se por se esquecer que não entendo nada daquilo ou para que eu não me sentisse excluído. Foi um gesto de acolhimento que registei. Também recordo as perguntas inteligentes que fizeram durante a catequese e a alegria com que rezaram e cantaram, quando eu não o esperaria naqueles países do norte.

Quando terminou estávamos na hora do almoço e as senhoras que me acolhem, sabendo que eu teria de ir muito cedo para a celebração com o Papa por causa dos controlos de segurança, apareceram na Igreja com almoço para mim: tinham medo que eu ficasse sem comer. E traziam os seus pais, idosos, que as sentiram tão entusiasmadas que me quiseram vir conhecer. E que bonito foi!

Lembro também a Claudia e a filha Sabrina, de Los Angeles que, sem nunca me terem visto, me quiseram pagar o café e partilharam comigo as coisas bonitas que aqui têm vivido.

E lá fui para a celebração de acolhimento do Papa. A viagem demorou muito tempo, ainda que a distância fosse curta. A espera, já no local, também foi alguma, mas a expectativa cada vez maior e a vida que se sentia à volta, as bandeiras que por toda a parte sinalizavam que estamos num encontro verdadeiramente universal, a música cristã de bandas de todo o mundo que foram passando pelo palco, fizeram a espera parecer curta.

E, finalmente, o Papa Francisco chegou, como só ele sabe fazer. Como que a dizer: Eis-me aqui, não tenham medo, Jesus ama-vos. A festa das nações foi incrível! Emocionei-me muito ao ouvir e ver a interpretação do hino da JMJ Roma 2000, Emanuel. Há coisas tão belas, tão sentidas, tão bem feitas, que nos abrem todos os sentidos a Deus que diz ‘Eis-me aqui!’

O Papa foi tão simples, tão próximo, como um pai. Um verdadeiro pai. Disse-nos que fôssemos mais construtores de pontes do que de muros... Falou de Jesus, falou tão bem de Jesus. De Jesus que ama, que quer ser acolhido, que nos convida e que espera de nós uma resposta, como esperou a resposta de Maria. E pediu que, em silêncio, cada um desse no seu coração essa resposta! E que silêncio!

Terminado o encontro, era o momento de sair para voltar à Paróquia. E dei de caras com o papamóvel parado junto ao local por onde eu devia sair. Subi logo pela estrutura do palco (alguém disse que como Zaqueu) e foi incrível. Não havia ninguém entre mim e o Papa que passou a um metro. Acho que só um poeta saberia descrever bem o que se sente num momento como esse... tive de partilhar aquele momento. Lembrei-me de muitos que acompanho, ou com quem vou tentando acompanhar Jesus.

Nova viagem para a paróquia pelo meio de tanta alegria, de tantos olhares cúmplices, de tanto coração transbordante! Até os polícias de intervenção nos sorriam e revelavam a emoção que sentiam.

E, aí tive um outro encontro, que me trouxe aquele sentimento que temos quando, depois de uma longa viagem, chegamos a casa. A imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, em procissão desde o Parque Omar, o local das confissões, para terminar na paróquia que me está a acolher. Lá fui, como presidente improvisado da procissão a ajudar as senhoras a cantar o Ave de Fátima porque só sabiam o refrão. Com a letra em espanhol e a melodia certa, depois de algumas repetições já a cantavam sozinhas!

E agora, depois de rezar e agradecer partilho este resumo convosco.

É mesmo uma bênção. Grande!

Panamá, dia 25 de janeiro

 

 

SABER ACOLHER

Este tema do acolhimento tem andado muito na minha cabeça (e na minha oração) desde que cheguei ao Panamá para estar com os jovens na Jornada Mundial da Juventude.

Esta é a terceira JMJ em que participo e uma das coisas que sempre me impressionou foi a generosidade com que somos acolhidos. Nisso não são diferentes a América do Norte da América do Sul, nem a Europa de qualquer outra zona do mundo.

Em muitos lugares tenho feito esta experiência extraordinária que é ser acolhido. Acolhido de porta e coração abertos, sempre com mais do que seria necessário, não apenas com um lugar para dormir e tomar banho ou comida na mesa (e só isso já seria muito!), mas acolhido como fazendo parte da família, partilhando o tempo, as histórias, as dúvidas e as emoções que estes momentos fazem surgir.

Na JMJ, nos Encontros de Taizé, na Missão LX e em tantas outras actividades tenho tido esta noção clara e profunda de que, se estou em Igreja, me sinto em casa, onde quer que seja. É das coisas mais bonitas que tenho a agradecer a Deus.

Aqui no Panamá as pessoas combinam com o clima: são calorosas, fazem-se sentir, emocionam-se, têm um cuidado enorme connosco e partilham realmente a casa e a vida com um desprendimento e confiança que impressionam.

Acolher um Papa já é coisa de monta, mas acolher um Papa que chama a si milhares de jovens de todo o planeta é ainda mais! E que bonito é irmos pela rua recolhendo os sorrisos, os cumprimentos em línguas inesperadas, as tentativas para identificarem de onde somos e a alegria que sempre manifestam ao sabê-lo, a solidariedade quando nos perdemos, quando alguém não tem comida ou água...

Ontem, na missa de abertura, o Arcebispo falou com um carisma que me surpreendeu! Falou aos jovens de maneira a que eles entendessem, a que eles percebessem que o convite de Jesus é para eles. Falou de situações concretas que eles enfrentam nesta etapa da sua vida. Foi tão belo testemunhar este momento!

Quando participo nestas actividades, pequenas ou grandes e vejo todas estas coisas tenho esperança, tenho muita esperança! Os jovens de hoje são bons, os jovens de hoje são capazes de coisas extraordinárias, os jovens de hoje podem invadir uma cidade sem que haja o mínimo distúrbio ou perturbação, os jovens de hoje são capazes de acolher e de se deixar acolher apesar das diferenças, apesar das distâncias, apesar dos contrastes.

Creio que tudo isto não é obra do acaso, nem apenas da boa-vontade. Tem um nome, ou melhor, um rosto: Jesus!

Só Ele faz emergir o melhor que há em cada um de nós.

E é mesmo muito bom!

Panamá, dia 23 de janeiro

 

(crónicas de uma série de textos publicados no Facebook do sacerdote)

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