Liturgia |
Os Padres da Igreja ao ritmo da Liturgia
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus
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«Bendito quem confia no Senhor e põe no Senhor a sua esperança. É como a árvore plantada à beira da água, que estende as suas raízes para a corrente: nada tem a temer quando vem o calor e a sua folhagem mantém-se sempre verde; em ano de estiagem não se inquieta e não deixa de produzir os seus frutos» (Jer. 17, 7-8)

 

São Gregório, irmão de São Basílio Magno, foi bispo de Nissa, na Capadócia, hoje Vedsehir, na actual Turquia, no séc. IV. Insigne pela sua vida e doutrina, por ter proclamado a verdadeira fé foi expulso da sua cidade no tempo do imperador ariano Valente. Num dos seus Sermões sobre as Bem-Aventuranças, 6, proferiu:

A promessa de Deus é certamente tão grande que ultrapassa toda a felicidade imaginável. Que mais se poderá desejar quando está tudo n’Aquele que se vê? De facto, na linguagem da Escritura, ver significa o mesmo que possuir. … Por conseguinte, quem vê a Deus alcança com essa visão todos os bens possíveis: a vida sem fim, a incorruptibilidade eterna, a felicidade imortal, o reino sem fim, a alegria perene, a luz verdadeira, a voz espiritual e suave, a glória inacessível, o júbilo perpétuo, enfim, todo o bem. Esta é a admirável grandeza da felicidade prometida que esperamos. Mas, como antes ficou demonstrado, a condição para ver a Deus é um coração puro. E ante esta consideração, de novo a minha inteligência se sente arrebatada e perturbada por uma espécie de vertigem. Esta pureza de coração não será uma das coisas impossíveis de conseguir, porque ultrapassam e excedem a nossa natureza? Efectivamente, se a pureza de coração é o meio indispensável para ver a Deus e, por outro lado, Moisés e Paulo não O viram porque afirmam que Deus não pode ser visto nem por eles nem por ninguém, a condição que o Verbo nos propõe para a felicidade parece ser uma coisa de tal ordem que não pode realizar-se nem imaginar-se. De que nos serve conhecer o modo de ver a Deus, se esse modo está fora do nosso alcance? … Será verdade que o Senhor nos convida a uma felicidade que excede a nossa natureza e nos dá um preceito que ultrapassa a capacidade das forças humanas? De facto, não é assim. Deus não manda voar a quem não deu asas, nem ordenou que vivam debaixo da água os que estão dotados para a vida em terra firme. Portanto, se em todas as coisas existe uma lei acomodada à sua natureza, e Deus não obriga a nada que seja superior a essa natureza, podemos também compreender, por lógica consequência, que não devemos perder a esperança de alcançar a felicidade prometida, e que nem João, Paulo, Moisés, nem outros como eles, foram privados desta sublime felicidade que nos vem da visão de Deus. … Se aqueles que afirmaram que a visão de Deus supera as nossas forças estão na bem-aventurança, e esta bem-aventurança consiste na visão de Deus, e se para ver a Deus é necessária a pureza de coração, é evidente que esta pureza de coração, pela qual se alcança a felicidade, não é uma virtude impossível. Por conseguinte, aqueles que pretendem basear-se nas palavras de Paulo para afirmar que a visão de Deus é superior às nossas forças, enganam-se a si mesmos e estão em contradição com a palavra do Senhor, que promete aos puros de coração que hão-de ver a Deus.

(Cl. CPG 3161; PG 44, 1193-1301; GNO 7.2, 77-170; Antologia Litúrgica 1987c)


Foto: Mosaico absidal da Basílica de Santo Apolinário in Classe, Classe, Itália (séc. VI)

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