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Os Padres da Igreja ao ritmo da Liturgia
«Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso»
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«Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados. Não condeneis e não sereis condenados. Perdoai e sereis perdoados. Dai e dar-se-vos-á: deitar-vos-ão no regaço uma boa medida, calcada, sacudida, a transbordar. A medida que usardes com os outros será usada também convosco» (Lc. 6, 36-38)

 

Santo Ambrósio, bispo de Milão no séc. IV, e doutor da Igreja, no seu Comentário ao Evangelho de São Lucas V, 75-80, sobre a lei da caridade, afirmou:

O cristão, por conseguinte, é formado segundo um modelo exemplar, pelo qual, não contente com o direito da natureza, procure também a graça. Se todos, mesmo os pecadores, concordam em retribuir o amor, quem professa uma fé mais alta, deve também prestar uma atenção mais intensa à virtude, a ponto de amar os que não o amam. Com efeito, apesar da absoluta falta de méritos para ser amado impedir o exercício do amor, não deveria, contudo, impedir o exercício da virtude. Assim como te deves envergonhar se não retribuis o amor a alguém que te ama, e pelo amor que nasce ao ter de o retribuir cresce o amor por quem ainda não amavas, do mesmo modo, deves amar a ocasião para exercer a virtude mesmo naquele que não ama. Assim, enquanto amas a virtude, podes começar a amar quem não amavas, tanto mais que a recompensa do amor é rara e efémera, embora a da virtude seja eterna.

Mas há algo mais admirável do que oferecer a outra face a quem bate? Não se estará a reprimir desse modo a agressividade de quem se sente indignado, não se estará a aplacar a sua ira? Porventura, não será que através da paciência acabas por bater mais do que quem te bateu, fazendo com que se arrependa? Deste modo afastarás a ofensa e obterás as boas graças. Muitas vezes as razões mais fortes do amor nascem quando à arrogância se responde com paciência, à injúria com as boas maneiras…

Eles preparavam-lhe a cruz, Ele pelo contrário derramava a salvação e o amor. E, contudo, dado que até o esforço pela virtude se afrouxa se não encontra recompensa, Ele deu-nos o exemplo e prometeu-nos o prémio do Céu, assegurando que os seus imitadores se tornariam filhos de Deus. Quem, com efeito, tem pressa em receber o prémio, não deve resistir ao exemplo, porque quanto mais alta é a recompensa, tanto mais intenso deve ser o empenho. Mas, como é grande esta recompensa misericordiosa, pela qual somos admitidos ao direito de nos tornarmos filhos de Deus! Imita, por conseguinte, a misericórdia, para mereceres a benevolência.

A benignidade de Deus não tem limites: ele faz chover sobre os ingratos, a terra fértil não nega a colheita aos maldosos e o idêntico sol do mundo ilumina do mesmo modo os ímpios e os bons. Com efeito, se queremos seguir uma interpretação mística, o Senhor irrigou o povo dos judeus com a chuva dos profetas e brilhou sobre eles com os raios do eterno sol, mesmo para os que não o mereciam; mas, dado que ficaram alagados com o orvalho do mundo, a Igreja de Deus foi levada a entrar na luz celeste, na medida em que, também para eles, quando alcançarem a fé, seja conservado o privilégio da misericórdia.

Acrescenta, por conseguinte, que não se deve julgar com ligeireza, para que não aconteça que condenes alguém, quando tu próprio sabes que és culpado.

(Cl. CPL 143; PL 15, 1527 [1607]; CCL 14, 1-400; CSEL 32, 4; SAEMO 11/1, 418-421; SCh 45, 210-212)

 

Foto:

Fileira de mártires.

Pormenor do mosaico da nave central da Basílica de Santo Apolinário o Novo, Ravena, Itália (séc. VI).

Departamento de Liturgia do Patriarcado de Lisboa
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