A Rede Mundial de Oração do Papa tem um projeto através do qual, em cada mês, faz um apelo claro e vigoroso à tomada de consciência e à sensibilização para os grandes desafios que se apresentam à humanidade. Chama-se “O Vídeo do Papa”. Ele continua a missão profética da denúncia e do apelo à mudança.
A escravatura presente
No Vídeo de Fevereiro refere: “Mesmo que tentemos ignorá-la, a escravidão não é algo de outros tempos. Perante esta trágica realidade, não podemos lavar as mãos se não quisermos ser, de certa forma, cúmplices destes crimes contra a humanidade. Não podemos ignorar que hoje há escravidão no mundo, tanto ou talvez mais do que antes.”
Segundo dados da ONU estima-se que, por ano, à volta de 2,4 milhões de pessoas sejam vítimas do tráfico, a maior parte delas para exploração sexual ou laboral, mas também para comércio de órgãos, para mendicidade ou para atividades ilícitas. É o crime global organizado, que explora homens, mulheres e crianças de forma violenta e brutal, movimentando cerca de 24.000 milhões de euros por ano. Um crime que as instâncias internacionais chamam de horrendo, mas que é fomentado por grandes interesses.
Os erros do passado repetem-se
Quando contemplamos maravilhosos feitos ou construções da Antiguidade encontramos sempre como lastro o tratamento das pessoas como coisas. Os impérios, a monumentalidade e o desenvolvimento de muitas cidades foram conseguidos através do roubo e espoliação das riquezas de povos submetidos à escravatura. Com a revolução industrial, enquanto crescia avassaladoramente a riqueza de alguns, prosseguia o aviltamento da pessoa humana. Hoje, com a globalização da economia, intensificou-se o fosso entre os poucos que muito possuem e os muitos reduzidos à pobreza. Estamos num sistema de “uma economia que mata”, como refere a “Evangelii Gaudium”, nº 53. O tráfico é apenas mais uma das expressões do vale tudo desde que resulte o lucro.
Cúmplices conscientes ou inconscientes dos crimes
Julgo ser uma exigência da fé ter os olhos abertos ao que se passa perto e longe de nós. Não é suficiente preocupar-se com o pão de cada dia; também é necessário estar aberto às preocupações do espírito, não se contentando como epidérmico da vida. Que a roupa que encontramos a granel à entrada do supermercado, ou a bugiganga curiosa que compramos na banca ao lado, nos recorde que talvez na cadeia de produção se encontrem crianças que se alimentam mal, que não têm a possibilidade de ir à escola, que não sabem o que é uma consulta médica e que não podem sonhar com o futuro; ou talvez crianças raptadas à família e comercializadas numa qualquer parte. Que os sinais que, a título de exemplo, nos são indicados pelo Observatório do Tráfico de Seres Humanos – organismo criado por decreto-lei em 2008 e que representa o Estado empenhado na resolução deste problema – saibam ser lidos pelo cidadão comum e o levem a tomar posição.
Não é só o Papa que se preocupa com isso. O Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral tem competências nessa área. Entre nós o assunto foi abordado a nível da Comissão Justiça e Paz especialmente a partir de 2002 com o Encontro Nacional e outros que se seguiram à volta do tema, o qual ganhou maior acuidade quando, em 2004, a missionária brasileira Elilda dos Santos despoletou o debate sobre os “meninos de Nampula”; a sua passagem por Lisboa, a caminho do Parlamento Europeu, nos envolveu mais na questão. Seguidamente, já em 2006, a CIRP (Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal) criou a CAVITP (Comissão de Apoio às Vítimas do Tráfico de Pessoas) com o objetivo de informar, sensibilizar e comprometer a sociedade nesta problemática, o que vai acontecendo de uma forma persistente, mas discreta como se impõe. Algumas congregações femininas concretizam a missão do acolhimento às vítimas e as tentativas de abrir caminhos para um recomeço da vida. Pois Portugal não está imune a essa praga; a comunicação social de vez em quando nos vai dando notícias. O Papa nos convida a rezar pela conversão dos traficantes e pela liberdade das vítimas desta praga vergonhosa. Ele instituiu o 8 de Fevereiro como o Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas, dia da memória de Santa Josefina Bakhita, ela também escravizada e traficada.
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