«Quando agitamos o crivo, só ficam impurezas: assim os defeitos do homem aparecem nas suas palavras. O forno prova os vasos do oleiro e o homem é posto à prova pelos seus pensamentos. O fruto da árvore manifesta a qualidade do campo: assim as palavras do homem revelam os seus sentimentos. Não elogies ninguém antes de ele falar, porque é assim que se experimentam os homens». (Sir. 27, 5-8)

São Clemente, Papa e mártir, foi o terceiro sucessor de Pedro no governo da Igreja de Roma, no final do século I. Ao concluir a sua Carta aos Coríntios, 57,1-2; 58-59, onde apela à penitência e oração para se obter o perdão do Senhor e se restabelecer a paz e a concórdia entre os irmãos, afirmou:

Vós, pois, que destes origem à revolta, submetei-vos aos presbíteros e educai-vos para a conversão, dobrando os joelhos do vosso coração. Aprendei a obedecer, repelindo a soberba e orgulhosa insolência da vossa língua, pois é melhor para vós que sejais reconhecidos pequenos e insignificantes no rebanho de Cristo, que receber honras indevidas e serdes excluídos da sua esperança. …

Obedeçamos, pois, ao Seu santíssimo e glorioso nome, fugindo às ameaças proferidas pela sabedoria contra os desobedientes, para que confiando no santíssimo nome da sua majestade, repousemos em paz. Aceitai o nosso conselho e não vos haveis de arrepender. Pois Deus vive, e vive o Senhor Jesus Cristo e o Espírito Santo, a fé e a esperança dos eleitos, porque aquele que, em espírito de humildade e perseverando na moderação, praticou os preceitos e mandamentos dados por Deus, esse será alistado e contado no número dos salvos por Jesus Cristo, pelo qual a Ele a glória pelos séculos dos séculos. Amen. …

Mas se alguns desobedecerem aos conselhos que por nós Ele vos dirigiu, saibam que incorrerão em falta e em não pequeno perigo. Quanto a nós, porém, seremos inocentes deste pecado e rogaremos, com assíduas orações e súplica, para que o Criador de todas as coisas, conserve intacto em todo o mundo o número calculado dos seus eleitos, por meio do seu amado Filho Jesus Cristo, pelo qual nos chamou da treva à luz, da ignorância ao conhecimento da glória do seu nome.

.... Afim de esperar no teu nome, origem de todas as criaturas,

depois de abrir os olhos do nosso coração,

para te reconhecer como o único altíssimo, entre as alturas,

como o santo que repousa entre os santos,

tu que humilhas a arrogância dos orgulhosos,

que refutas os juízos das nações,

que elevas os humildes e abates os que se elevam,

tu que enriqueces e fazes empobrecer,

matas e dás a vida;

único benfeitor dos espíritos e Deus de toda a carne;

penetras nos abismos;

vês todas as acções dos homens;

auxilias os que correm o risco de se perderem;

salvas os desesperados;

Tu criador curador de todo o espírito;

multiplicas os povos sobre a terra

e de entre todos escolhes os que te amam, por Jesus Cristo,

teu amado Filho,

pelo qual nos educas santificas e honras.

Nós te rogamos Senhor,

que sejas o nosso auxílio e protecção;

salva aqueles que entre nós estão em tribulação,

compadece-te dos humildes,

levanta os prostrados,

revela-te aos necessitados,

cura os enfermos,

encaminha os desgarrados do teu povo,

sacia os famintos,

liberta os nossos prisioneiros,

encoraja os fracos,

consola os pusilânimes.

Que todos os povos conheçam que tu és o único Deus

e Jesus Cristo, teu Filho,

e nós o teu povo e ovelhas do teu rebanho. ·

(Cl. CPG 1306; PG 7, 437-1224; SCh 100**; Clemente Romano. Carta aos Coríntios [ed. I.P. Lamelas, tr. M.L. Marques], 144-151)

Foto:

Última Ceia

Pormenor do Códice Purpúreo de Rossano (séc. VI).

Manuscrito grego com os Evangelhos de Mateus e Marcos.

Catedral de Rossano, Museu Diocesano e do Codex, Itália.