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A história de duas irmãs na única ilha cristã em toda a Indonésia
Em nome do Pai
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No maior país muçulmano do mundo existe uma pequena ilha onde ainda há vestígios da presença portuguesa. Dos tempos coloniais ficaram palavras soltas, expressões do dia-a-dia, nomes de pessoas e a religião. Na ilha das Flores é possível escutar ainda em português, como numa ladainha, as orações do Pai-Nosso e da Ave-Maria. Nesta ilha, quase um enclave cristão no meio do mundo islâmico, duas mulheres consagraram a sua vida a Deus.

 

A Indonésia tem milhares de ilhas e é o maior país muçulmano do mundo. Os Cristãos são apenas 12% da população do país, calculada em mais de 250 milhões de habitantes. No entanto, há um lugar, uma pequena ilha, onde a maioria dos habitantes são cristãos. Na ilha das Flores, a memória dos tempos coloniais, quando os Portugueses se estabeleceram na região, continua bem viva em palavras do dia-a-dia, nos nomes de algumas pessoas e, acima de tudo, na vida religiosa. Tal como algumas palavras sobreviveram ao tempo, também o Cristianismo conseguiu resistir ao mundo muçulmano que circunda aquele pedaço de terra rodeado de mar. As Irmãs Maria Erna e Luísa Maria são a expressão viva de como a mesma vocação de fé pode levar-nos a trilhar caminhos tão diferentes. Maria Erna pertence à Congregação das Irmãs Filhas da Rainha do Rosário. A casa destas irmãs, em Larantuka, fica situada numa das extremidades da ilha das Flores. A congregação foi fundada em 1958 por um bispo local, D. Gabriel Manek, e tem um carisma muito simples: trabalhar junto dos mais pobres da sociedade, sempre invocando a protecção de Nossa Senhora.

 

Amar como Jesus

A Irmã Maria Erna é a responsável pela comunidade. E não tem mãos a medir. São muitas as raparigas que procuram seguir o exemplo das Filhas da Rainha do Rosário, entregando também a sua vida a Deus através da missão junto dos mais humildes, dos mais pobres. “Elas querem tornar-se religiosas, em primeiro lugar para servir os mais necessitados”, explica. “Depois, querem estar perto de Jesus e querem amar os pobres, tal como Jesus fez, e é por isso que escolheram uma congregação que por si já é pobre.” Materialmente pobre, claro. As irmãs vivem da generosidade dos habitantes das Flores. A ilha, muito bonita, carregada sempre de uma vegetação densa, esconde por vezes – tantas vezes… – casebres humildes, pessoas que precisam de ajuda. E as irmãs fazem-se todos os dias ao caminho para junto dessas famílias. Uma viagem que, não poucas vezes, tem de ser feita de barco. A Irmã Maria Erna tem à sua responsabilidade as postulantes da congregação. Além da espiritualidade própria das Filhas da Rainha do Rosário, estas jovens aprendem num par de anos aquilo que vão fazer para o resto da sua vida. Ensinar os mais pequenos, ajudar na paróquia, na catequese e no trabalho social. “Elas visitam as famílias em necessidade. Porquê? Porque essas famílias carentes precisam de ajuda espiritual, mas também de ser ajudadas a ganhar novas competências, como aprender a cultivar a terra e a melhorar outras competências naturais.”

 

Oração e trabalho

Na outra ponta da ilha, em Ruteng, numa casa murada escondida na vegetação exuberante, vive a Irmã Luísa Maria. O nome é demasiadamente português para um rosto tão oriental. Ela está quase sempre a sorrir. Ao contrário das Filhas da Rainha do Rosário, a congregação de Luísa Maria é contemplativa. As Servas do Espírito Santo da Adoração Perpétua passam muitas horas do dia em oração, meditação e trabalho. Estas irmãs vivem, no entanto, como se estivessem no meio do mundo. Vivem a rezar. “Antes de entrar no convento”, diz a Irmã Luísa Maria, “senti tão imensamente o amor de Deus por mim, que quis fazer o que Ele queria de mim…” Esse chamamento para uma vida religiosa levou-a até à casa onde as irmãs usam um invulgar hábito cor-de-rosa. Hoje, sorrindo, diz estar feliz. “O que fazemos é rezar diariamente. Rezamos pelas vocações, não só para a nossa congregação, mas para toda a Igreja. É realmente o Espírito Santo que nos envia vocações…”

 

Abraçar o mundo

Na casa das irmãs em Ruteng, na ilha das Flores, tudo decorre num ritmo sereno, como se aquele espaço fosse apenas um prolongamento da natureza. Um muro separa a casa do resto da ilha, mas para as irmãs é apenas um pormenor, uma parede invisível, pois elas conseguem abraçar o mundo inteiro mesmo quando estão de olhos fechados, com as mãos juntas, de joelhos, em meditação. Além da oração permanente – tudo o que as irmãs fazem é marcado pelo pensamento em Deus – há também momentos de trabalho. E nada desfaz o sorriso da Irmã Luísa Maria. Nem quando tem de tratar da horta, dar de comer aos gansos e às pombas ou até limpar as pocilgas dos porcos. A Irmã Luísa sabe que a grande Indonésia não é católica como a ilha das Flores. Isso não a incomoda. “Nós não contamos convertê-los ao Cristianismo mas, através do nosso modo de vida, esperamos que eles também venham a conhecer Jesus. Assim, saberão que existe um Deus que cuida e que nos ama a todos.” Do lado de fora dos muros do convento, as pessoas escutam os mesmos pássaros que as irmãs e a chuva e o sol são iguais, tal como o vento. O muro é apenas um pedaço de nada que não impede que aquelas mulheres, aquelas irmãs, abracem e amem a humanidade inteira com a mesma convicção amorosa com que as Filhas da Rainha do Rosário batem à porta das casas mais humildes da ilha das Flores levando-lhes sorrisos enamorados de Deus, pois fazem-no sempre em nome do Pai.

 

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As Congregações das Irmãs Maria Erna e Luísa Maria são apoiadas directamente pela Fundação AIS. Elas vivem e trabalham na única ilha cristã em toda a Indonésia. Vamos ajudar estas Irmãs?

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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