“Peço a Deus que cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo… A política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum.” (E.G. 205)
Buscando o bem comum
Convém ter presente a citação da Exortação “Alegria do Evangelho” quando chamados a exercer o direito de voto para a escolha dos nossos 21 entre os 751 representantes no Parlamento Europeu (PE), a única instituição democraticamente eleita na UE e que tem um papel decisivo na definição das políticas que têm impacto nas nossas vidas. Alhear-se disto é passar um cheque em branco a quem nos representa, é abdicar do esforço que cada um tem de fazer para tornar este mundo melhor.
Segundo os dados disponíveis, verificamos que nas primeiras eleições no ano de 1987, tivemos em Portugal uma abstenção de 27,8 % e, nas últimas em 2014, a percentagem subiu para 66,2 %, o que significa que apenas votaram cerca de 33% dos que deveriam tê-lo feito, deixando-nos no pelotão da frente dos abstencionistas. Talvez se poderia aplicar o aforismo romano “panem et circenses”: proporcionar ao povo o alimento indispensável e depois o circo para se distrair e não se levantarem questões. Que a euforia pela conquista do Campeonato não seja seguida, uma semana depois, pela ressaca da modorra e da indiferença.
Uma das formas mais preciosas da caridade
Quando o Papa afirma isto, está a lutar contra a diabolização da política, a que facilmente se chega pelo descrédito lançado aos seus agentes; mas não se esqueça que eles estão lá porque nós os mandatamos; se atuam como entendem será porque não interagimos com eles, porque simplesmente abdicamos da nossa responsabilidade endossando-lhes a resolução dos nossos problemas.
Temos tantas coisas que lhes deveríamos fazer chegar e das quais eles se deveriam aproximar. Ainda nestes dias ouvimos testemunhos, através da comunicação social, do inferno em que se vai transformando o nosso viver social, como por exemplo, ter de ir para a fila de um serviço público às 3 horas da manhã ou como a badalada falta de meios materiais e humanos nos hospitais. Os responsáveis são mais hábeis em apontar o dedo aos que os precederam do que em apresentar propostas eficazes. Também ouvimos falar dos salários dos deputados no PE: ainda que novinhos na cadeira podem receber por mês cinquenta vezes mais do que uma pessoa como aquela que, segundo o seu testemunho, descontou durante trinta e dois anos para a Segurança Social e agora recebe a contrapartida de 280 ¤; não é ter inveja; é apenas vergonha numa pretensa Europa de cidadãos.
Apesar dos defeitos, ainda não encontrámos mecanismo que melhor possa servir o bem comum; sonhar com um grande líder que resolva tudo é uma temeridade, já antes experimentada e com consequências trágicas, mas diluídas na memória curta de pessoas distraídas com o circo da vida.
Um novo céu e uma nova terra
Foi essa a visão de que falava o apóstolo João no passado Domingo: a novidade é para se ir concretizando desde já, a partir do presente que nos é dado. E isto não é com palavras; tem de ser por atos, como o que se passou com o Cardeal Kradjewski, esmoler do Papa, que tomou há dias uma posição bizarra ao reativar a energia elétrica num prédio ocupado por cerca de 500 pessoas pobres de Roma. “Estamos a falar de vidas humanas; se chegar alguma multa, pagarei”, acrescentou, consciente das possíveis consequências.
Ao votar nestas eleições pensamos no nosso bem, mas também na responsabilidade da Europa a nível global, conscientes de que o bem comum é maior do que ela. Na Sexta-feira Santa o Papa criticou as “portas fechadas” da Europa e apontou o dedo aos “corações blindados dos cálculos políticos”. Já antes declarara que a Europa “corre o risco de morrer se não resgatar os ideais dos pais fundadores da União Europeia como a solidariedade”. Por isso, é importante saber qual é a preocupação dos candidatos relativamente a temas como os imigrantes e refugiados, o desenvolvimento de África, a paz entre os povos, a corrida aos armamentos, o comércio internacional, a proteção da meio ambiente, o respeito pelos direitos humanos por parte das empresas multinacionais e tantos outros. Nesse sentido, não é fácil votar responsavelmente. Mas tem que ser.
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