Missão |
Maria Magalhães Ressano Garcia
“Buscar a alegria desejada por cada pessoa”
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Maria Magalhães Ressano Garcia nasceu a 20 de outubro de 1998, em Lisboa. Fez todos os seus estudos no Lycée Français Charles Lepierre e é licenciada em Estudos Gerais, Major em Filosofia e Minor em Expressão Plástica. Em 2018, foi como voluntária para a Ilha de Lesbos, na Grécia.

 

Maria esteve sempre inserida “em alguma comunidade católica, por entre catequeses, campos de férias, movimentos”. Entre setembro de 2018 e fevereiro de 2019, realizou o programa Erasmus, durante cinco meses, em Roma. Conta-nos que quando participou no seu primeiro campo do Camtil (campo de férias ligado aos Jesuítas), “a acampar, com 12 anos, pareceu-me ter descoberto ‘uma nova camada da realidade’. Isto porque tinha sentido uma alegria nova, mais profunda. Era a experiência de descobrir como nos olhava Deus, de chegar a um sítio novo, sujo e desconfortável, mas lindo na sua simplicidade, de nos conhecermos melhor (a nós próprios) e de o contarmos aos outros, com transparência, em partilhas. Fui crescendo neste ambiente e desenvolvia-se a minha vontade de me ligar mais à fonte deste amor e confiança”. Quando tinha 14 anos, fez uma semana de missão com a Juventude feminina de Schoenstatt, em Vale da Pedra, em conjunto com cerca de 30 raparigas da sua idade e partilha: “Íamos a escolas e a lares, íamos a casa das pessoas e fazíamos o que nos fosse pedido, ajudando na horta, a limpar as casas ou só conversando e rezando, organizávamos atividades para crianças, para jovens, rezávamos na Igreja com a comunidade, e organizámos um musical. Chegávamos ao fim do dia arrasadas, mas víamos como os tão poucos pães que tínhamos oferecido se multiplicavam abundantemente, em alegria, em todo tipo de agradecimentos, couves, batatas, sorrisos, confidências, partilhas, e víamos pessoas a querer aproximar-se de Deus. Foi uma semana em que foi, confesso, fácil servir, darmos com generosidade… Pois era muito visível a Graça de Deus, era muito gratificante ser Seu instrumento”.

 

A missão na Grécia
No verão de 2018, quis ir para a ilha de Lesbos, na Grécia. Procurou, então, ONG’s “que prestassem qualquer tipo de apoio a refugiados”. Conta que os refugiados “chegam à ilha e ficam à espera de ser ou distribuídos pelos países europeus ou mandados para trás”. Partilha então, na primeira pessoa, a sua experiência: “Vários dos meus amigos mais próximos tinham feito voluntariado em zonas afetadas por esta crise. Eu reparava como, cada vez menos, se acompanhava esta crise, tanto nas notícias como nas nossas preocupações e pensamentos. Isto reforçava o meu sentimento de que a minha vida também era o lugar daquela realidade. Como habitante da Europa, à porta da qual nos vinham bater e nós mal ouvíamos, eu era responsável por reagir. Tinha dado no ano anterior apoio à reintegração duma família de três mulheres (avó, mãe, neta) de Damasco e, conhecê-las (sobretudo à neta) contribuiu para querer estar fisicamente próxima das pessoas. Finalmente parti quando passei a viver o meu desejo de partir, não tanto como dever moral, mas como o próximo passo natural do meu caminho. Foi um grande desafio, mas não o foi pelos motivos que esperava.  Ao início, o que mais me custou foi aceitar a atitude da minha ONG. Não concordava com a severidade da sua abordagem a voluntários e a refugiados, sendo a nossa política de relacionamento com os habitantes de Kara Tepe uma de total profissionalismo, devendo-se evitar qualquer aproximação emocional. Por outro lado, não compreendia como podiam os voluntários, pessoas que teriam os mesmos ideais que eu ser, com novos voluntários, distantes e até frios. Mas comecei a pôr-me em questão. No meio duma crise humanitária (um complexo emaranhado de problemas sociais, económicos, políticos, culturais, a nível internacional, nacional, local…) da qual eu nada percebia… Eu era uma peça minúscula e ingénua, que não tinha qualquer experiência de ONG, de confronto com outra cultura ou com pessoas em situação de total desfavorecimento. Eu sentia, tantas vezes, vontade de regressar, de poder tornar à minha realidade, desligava-me da situação. Enquanto os voluntários se dedicavam há anos a esta crise, em voluntariado, nos seus trabalhos, estudando a situação. Muitos eram originários de países tocados pela crise.  Dei por mim (com a minha maturidade de 18 anos) crescida numa bolha socioeconómica e religiosa e sentia-me muito pequenina. Reconhecia a minha pouca generosidade, reconhecia como tinha estado à espera de fazer grandes gestos de amor quando afinal era tão pequenina. De facto, não estava à altura dos meus ideais. Passei três semanas e meio a fazer turnos de lavagem de roupa entre as 9h e as 16h na casa de banho do campo de refugiados ‘Kara Tepe’, muitas vezes a desejar estar em Lisboa, na ‘minha vida’. Mas o mais inesperado foi como Deus se tinha mostrado. Ele era a esperança daquelas pessoas; a força de amar deles era sonhando pelos outros, pelas suas famílias, pelos seus países. Era, no meio duma escuridão que esvazia as vidas de sentido, uma força que quase parecia insensata, para valorizar as pequenos momentos de alegria e de partilha vividos. Aprendi a valorizar o meu pequeno trabalho também, era lugar da ação de Deus por muito que eu não o visse, pois não me parecia glorioso, mas pouco e mesquinho. Mas era precisamente esta a discrição de Deus, a sua presença no pecador. Voltando, contrariamente ao que esperava, não me revoltavam as facilidades da nossa vida. Percebia que devíamos pedir para reconhecer os sonhos de Deus por cada um, pedir para os valorizarmos e fazermos deles a nossa busca, buscar a alegria desejada por cada pessoa”.

texto por Catarina António, FEC | Fundação Fé e Cooperação
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