“Estamos perante uma emergência climática, temos de atuar em conformidade”. Foi esta a mensagem deixada pelo Papa Francisco aos responsáveis de empresas petrolíferas, participando no Encontro sobre “A transição energética e a proteção da casa comum”, que teve lugar no Vaticano no dia 14 de Junho de 2019.
Alertas não faltam
Nos últimos dias, a comunicação social chamou-nos a atenção para a gravidade das agressões ao meio ambiente e das alterações climáticas. Estamos a comer e a beber o fruto da nossa inconsciência ou irresponsabilidade. Quando se chega à conclusão, como o fizeram investigadores da Universidade de Newcastle, Austrália, de que estamos a ingerir uma média de 5 gramas de plástico por semana, o que equivale a um cartão de crédito, começamos a ver que estamos agredindo-nos a nós mesmos, e as imagens chocantes da poluição nos fazem sentir culpados e vítimas ao mesmo tempo.
Ainda nestes dias, a conhecida revista “Time” apresenta na capa a fotografia do Secretário-Geral da ONU António Guterres com água pelos joelhos na costa de Tuvalu na Polinésia, uma das zonas mais vulneráveis do planeta, devido à subida do nível do mar. Ele afirma que “as alterações climáticas são uma área onde as Nações Unidas têm obrigação de assumir liderança global… É absolutamente essencial para o planeta e temos obrigação de fazer tudo o que pudermos para reverter a situação atual”. Mas é preciso estarmos juntos.
A nível dos governos tem havido algum caminho feito, com contratempos pelo meio, como é o caso abstruso do presidente Trump ao retirar o seu país do Acordo de Paris. Por parte da Igreja, temos a intervenção extraordinária do Papa, nomeadamente com a Encíclica “Laudato Si”, que fomentou uma maior responsabilidade social, política e também religiosa nesta matéria, tendo chegado às novas gerações, como o demonstra a movimentação à volta da jovem Greta Thunberg e das “school-strikes”, as greves da escola pelo clima.
Sentinelas que vigiam e dão sinal
Entre as agressões à natureza, com efeitos desastrosos, há que assinalar ainda as atividades mineiras e de extração de petróleo, o que só na Amazónia – o pulmão do mundo – põe em risco mais de metade das áreas protegidas habitadas por indígenas; também projetos de energia são levados para diante dando a primazia à rentabilidade e fazendo vista grossa ao estabelecido relativamente aos indígenas e às áreas que habitam. Interesses militares, comerciais e industriais disputam o controlo dos recursos naturais, subjugando os povos indígenas e forçando-os a deslocarem-se do seu meio para periferias das cidades e das oportunidades.
Foi à volta destas questões que no dia 6 de Junho, no CUPAV, duas técnicas e educadoras ligadas ao Serviço Jesuíta Panamazónico nos ajudaram a olhar para esse território que comporta uma enorme diversidade cultural e ecológica, e é casa para 33 milhões de pessoas, 380 povos indígenas, onde se falam 240 línguas maternas. Interrogadas sobre como viam a realização do próximo Sínodo para a Amazónia, se não constituiria apenas mais um evento, elas responderam com aquilo que é óbvio: nem todos conhecem a realidade, nem a querem considerar catastrófica, nem sequer na Igreja da Região todos os responsáveis têm sensibilidade para a questão e, por consequência, não se estranhe algum alheamento em relação a tudo isto.
Igreja comprometida
Mas a sua importância já se pode verificar no processo de preparação dessa Assembleia Especial, que se realizará entre os dias 6 e 27 de Outubro do corrente ano e que é expressão de uma caminhada feita de sabedoria, de fé, de resistência, de resiliência e de confiança. Feita por quem está próximo das populações nas suas necessidades de sobrevivência, na sua defesa perante aqueles que os querem arrumar na valeta da vida; por aqueles que não passam de gravata pela Amazónia com pressa de voltar à sua zona de conforto e, a partir daí, criarem projetos que possam evitar o “estorvo” dos que não dão lucro. O caminho começou com a iniciativa da criação da REPAM (Rede Eclesial Pan-Amazónica), seguiu com o anúncio do Sínodo feito a 15 de Outubro de 2017, continuou com o “documento preparatório” que veio a dar no “Instrumentum laboris”, apresentado nestes dias e que conduzirá à sua realização, constituindo “um teste decisivo para verificar se a nossa sociedade está em condições de salvaguardar o que recebeu gratuitamente, não para o espoliar, mas para o fazer frutificar.”
Pedro Vaz Patto
Impressiona como foi festejada a aprovação, por larga e transversal maioria de deputados e senadores,...
ver [+]
|
Guilherme d'Oliveira Martins
Há anos, Umberto Eco perguntava: o que faria Tomás de Aquino se vivesse nos dias de hoje? Aperceber-se-ia...
ver [+]
|
Pedro Vaz Patto
Já lá vai o tempo em que por muitos cantos das nossas cidades e vilas se viam bandeiras azuis e amarelas...
ver [+]
|
Guilherme d'Oliveira Martins
Vivemos um tempo de grande angústia e incerteza. As guerras multiplicam-se e os sinais de intolerância são cada vez mais evidentes.
ver [+]
|