Lisboa |
Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
“Um Deus repartido é o coração do mundo”
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Na celebração do Corpo de Deus, o Cardeal-Patriarca lembrou que “anunciar o Reino é cuidar dos outros”. Na Sé de Lisboa, D. Manuel Clemente destacou “as três aceções” do Corpo de Cristo.

 

“Celebramos o Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo – o ‘Corpo de Deus’, como dizemos entre nós. E muito bem o dizemos, porque em Cristo o próprio Deus tomou o nosso corpo e lhe deu o significado total do que o corpo é e há de ser. Neste modo de falar há teologia cristã inteira, como o Espírito esclarece. Importa recolhê-la e detalhá-la um pouco, precisamente neste dia”, começou por referir o Cardeal-Patriarca, apontando, de seguida, as leituras da celebração: “No Evangelho escutámos que «naquele tempo estava Jesus a falar à multidão sobre o reino de Deus e a curar aqueles que necessitavam». Não é fortuita a sequência, muito pelo contrário, porque anunciar o Reino é cuidar dos outros. E nisto mesmo o Verbo se faz carne e a Palavra divina humanamente se corporiza”.

Na Sé de Lisboa, ao presidir à Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, na manhã do passado dia 20 de junho, D. Manuel Clemente sublinhou que “Corpo” é uma “palavra tão habitual como gasta, desgastada mesmo”. “Fala-se muito dele como objeto e não como sujeito, mais como figura moldável a gosto do que substância a respeitar só por si. Ouve-se dizer: ‘Gostava de ter um corpo assim ou doutra forma’, ‘faço o que quiser do meu corpo’ e expressões congéneres”, frisou, apontando que “a solenidade de hoje” fala, “isso sim, da unidade espiritual e somática de cada um de nós”. “E do corpo como expressão e exercício do que somos, essencialmente somos e relacionalmente acontecemos. O corpo é a pessoa em relação, substancial e concreta. Como o próprio Deus se quis relacionar connosco em cada palavra e gesto de Jesus Cristo”, manifestou.

 

Corporeidade de Cristo

Para o Cardeal-Patriarca, a “corporeidade de Cristo” revela “o que a nossa própria há de ser”. “Significa relação, traduz e opera tudo quanto somos. Quanto somos a partir de quem nos faz viver e de nós espera o mesmo. Responsáveis pela vida e subsistência dos outros, com gestos realmente pessoais, de convivência, doação e partilha. Gestos concretos e urgentes, como foram os de Cristo, Bom Samaritano de todos quantos estavam na berma da vida, olhando com olhos de ver, cuidando com gestos precisos e interessando-se realmente pelo seu bem total”, apontou.

Na celebração do Corpo de Deus, D. Manuel Clemente sublinhou depois as três aceções que o Corpo de Cristo tem: “Significa o corpo humano que cresceu no ventre de Maria e por nós se entregou na cruz; significa também o corpo eucarístico em que sacramentalmente o comungamos e adoramos; significa ainda o corpo eclesial que se alarga em quem o comunga, para lhe ecoar as palavras e prolongar os gestos”.

“Isto mesmo que em Cristo acontece como revelação total do corpo, corresponde afinal ao que a humanidade inteira pressente no impulso em que se oferece. Como aquele Melquisedec foi ao encontro de Abraão para lhe oferecer pão e vinho. Não era daquele povo, mas já ia ao encontro da promessa. Saía e oferecia, manifestava-se realmente como corpo. Esta tarde sairemos nós e a oferta continuará. Numa cidade onde não faltam Melquisedeques, mesmo em quem só ofereça a curiosidade. É um começo. Outros oferecerão mais do que isso, na permuta dos corações. Tudo será ‘corpo’ no olhar, na oração, no canto, no movimento. E ‘Corpo de Deus’, do sacramento para a vida”, terminou o Cardeal-Patriarca.

 

Procissão: “Um milagre”

Tal como em anos anteriores, a procissão do Corpo de Deus pelas ruas da cidade encheu a Baixa de Lisboa. “O que aqui aconteceu, antes de mais, é um milagre. Milagre é o que nos deixa admirados e, realmente, estivemos aqui, como esteve o Papa Francisco em Roma, como estiveram tantos bispos na suas dioceses e párocos nas suas paróquias, e pelo mundo além, em torno da hóstia consagrada, em torno do memorial que alguém fez há dois mil anos, numa cidade longe daqui, numa sala também recolhida, com um pequeno grupo. Isto causa muita admiração, porque não teve parangonas, não teve nada que projetasse assim, como as coisas neste mundo se costumam projetar… e, no entanto, nós estivemos aqui. Isto é um enorme milagre”, afirmou D. Manuel Clemente, no final da procissão, durante a bênção.

No Largo da Sé, na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, o Cardeal-Patriarca considerou a celebração “um sinal de que um Deus repartido é o coração do mundo”. “O Senhor Jesus deu este significado à sua vida, de ser um pão partilhado, um pão repartido. E, sendo assim, um sinal, é um apelo. Porque se nós queremos pôr coração neste mundo, então repartamos o nosso também. Então, façamos com Cristo, e em Cristo, isto mesmo: uma vida partilhada. E o mundo encontrará o seu centro. Isto pode ser feito todos os dias, na casa de cada um, na comunidade de cada qual, na empresa, na escola, nas férias de quem as tenha, num leito de hospital: partilhar o coração, fazer da nossa vida o que Deus fez da sua em Jesus Cristo, um pão repartido. E então, este sinal, este apelo, dará sempre, e cada vez mais, um coração à cidade, um coração ao mundo, um coração à vida e à família de cada um”, terminou o Cardeal-Patriarca de Lisboa.

 

Corpo de Deus 2019

Fotografias: http://www.flickr.com/patriarcadodelisboa/sets

Vídeos da procissão: www.facebook.com/vozdaverdade

fotos por Nuno Moura/Arautos do Evangelho
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