Carolina Costa, Margarida Fernandes, Rita Marques, Guilherme Machado e Ronaldo Rodrigues são os cinco jovens cujos nomes vão ficar ligados à história da Cáritas Diocesana de Lisboa, pois serão os primeiros voluntários a serem enviados em missão, pela instituição, para o estrangeiro. Partem este fim-de-semana e estarão, por 15 dias, na cidade de Ferrette, na região da Alsácia, em França, num trabalho com crianças, idosos, migrantes e refugiados.
“Ir em frente”
Carolina Costa, da Paróquia de Alcobaça, confessa que foi apanhada “desprevenida” com o convite para integrar a missão da Cáritas de Lisboa na Alsácia. O desafio chegou pela voz da coordenadora do grupo de jovens da paróquia, que Carolina integrou até ir para a faculdade estudar Medicina. “Não aceitei logo o convite, porque achei que era melhor fazê-lo com alguma ponderação. Sabia somente que íamos lidar com refugiados e com migrantes, mas não sabia se iríamos para um campo ou para um trabalho de integração que já estivesse a ser feito”, refere esta jovem, de 21 anos, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Assumindo que “nunca teve língua francesa” na escola, Carolina diz que “a família acompanhou o processo de decisão” e garante: “Agora, é ir em frente! E é com entusiasmo que recebo a ideia de integrar um grupo que se propõe a trabalhar com o mesmo objetivo”. O que a motiva nesta atividade é a perspetiva de poder ajudar no que estiver ao seu alcance. “Espero poder dar de mim aquilo que tenho e explorar também o que tenho a dar. E, assim, pelo caminho, crescer um pouco”, pretende Carolina. “Fundamentalmente, é estar atenta àquilo que é necessário e aberta à experiência e à oportunidade”, acrescenta esta futura médica.
‘Ok, vamos a isso!’
Margarida Fernandes, de 21 anos, voluntariou-se para a missão internacional da Cáritas de Lisboa de uma forma natural e espontânea. “Há cerca de três semanas, a Cáritas de Agualva-Cacém pediu voluntários e eu só disse: ‘Ok, vamos a isso!’”, conta ao Jornal VOZ DA VERDADE. “Estou a estudar Serviço Social e oiço muitas vezes, no grupo de jovens da paróquia a que pertenço, a frase: ‘Por vezes, Deus chama-nos por formas misteriosas’ e foi por isso que aceitei o desafio”, acrescenta. Paroquiana de Agualva, na Vigararia de Sintra, Margarida pertence também aos Jovens Sem Fronteiras e destaca o incentivo que recebeu, desde logo, por parte dos pais. “Só me disseram: ‘Força!’”. Entre os amigos, Margarida disse ter sentido “alguma ‘inveja’” positiva. “Alguns disseram-me que também queriam ir”, refere, entre sorrisos, esta jovem, sublinhando que percebe “praticamente tudo de francês”, mas que “falar é que é mais complicado…”. “Sai-me tudo em inglês”, brinca. Sobre a missão em França, esta jovem diz saber apenas que vai fazer “animação sociocultural com idosos” e “trabalhar com migrantes e refugiados”. “O que espero, principalmente, é poder transmitir a estas pessoas, sejam idosos ou migrantes, qualidade de vida e os ensinamentos que Jesus nos ensinou”, deseja Margarida Fernandes.
Deixar um pouco mais
“Se me estão a chamar, é porque precisam de ajuda”. Foi com este sentimento que Rita Marques “disse logo ‘sim’” ao convite da coordenadora da catequese na Falagueira para integrar o projeto da Cáritas de Lisboa na Alsácia. Esta jovem de 20 anos, que, tal como Margarida, é também presença habitual nas atividades do Banco Alimentar e de recolha de material escolar da Cáritas Paroquial, considera que “não vai” às ‘cegas’ para esta missão. “Estamos todos cientes do que se está a passar neste momento no mundo e temos minimamente ideia do que aquelas crianças estão a passar”, assume, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Rita é estudante universitária no curso de Biologia Marinha em Faro, colabora nas duas paróquias, na catequese e também nos escuteiros, e diz que os amigos “já estavam à espera” que participasse numa missão deste género. “Sempre falei em ir fazer voluntariado para fora”, revela. A sua expectativa para a região da Alsácia é “poder ajudar”. “A minha expectativa é deixar um pouco mais do que aquilo que eles têm, nem que seja a nível de enriquecimento pessoal e espiritual. Se posso ajudar, a minha expectativa é ajudar, nem que seja só um idoso ou uma criança que tenha, naquele dia, uma perspetiva diferente só por termos tido uma conversa. Se assim for, os 15 dias já vão valer a pena”, considera.
“Evoluir como pessoa”
Foi a paixão por línguas que levou Guilherme Machado, de 18 anos, a inscrever-se como voluntário na missão da Cáritas de Lisboa na Alsácia. “Adoro línguas e sou um interessado na língua francesa, em que evoluí rapidamente. Estando agora a tentar aprender hebreu, é uma mais valia poder trabalhar com migrantes, que maioritariamente são de todo o círculo arábico”, refere este jovem, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Guilherme, que pertenceu aos escuteiros de Óbidos, salienta que a região francesa onde vai decorrer a missão é sua conhecida. “Lembro-me de ter ido lá com os meus pais, quando tinha 9-10 anos, por ter sido uma das cidades destruídas pelos nazis. Foi uma coisa que me tocou, toda aquela região na costa norte francesa, que faz fronteira com a Alemanha e a Bélgica”, frisa Guilherme, que foi desafiado a participar nesta missão “por um amigo”, que lhe procura mostrar que “a religião tem coisas boas”. “Toda a base da religião é boa e é bonita. O que pode diferir no pensamento das pessoas é a forma como o ser humano a pratica”, diz. Guilherme foi selecionado pela Cáritas de Óbidos e sublinha que o seu pai “ficou chocado” pelo facto de o filho ir viajar (quase) sozinho. “A mãe disse logo que eu conseguia”. brinca. “Espero evoluir como pessoa”, deseja este jovem estudante de Humanidades.
Uma pessoa que gosta muito de pessoas
“Surgi de paraquedas nesta missão”, refere, desde logo, Ronaldo Rodrigues, de 20 anos. Sublinhando que “não há muitos jovens” na Paróquia de Camarate, Ronaldo recorda ao Jornal VOZ DA VERDADE o convite para ir para a Alsácia com a Cáritas de Lisboa. “O irmão José Manuel, dos Missionários Combonianos, vai dinamizando a área do voluntariado na paróquia e ligou-me a dizer que era mesmo necessário um jovem para esta missão”, conta. Assumindo ter “ficado muito reticente” com o convite, acabou por aceitar, até porque já tinha rejeitado, para este ano, “uma experiência missionária ‘ad gentes’” com o movimento juvenil dos Missionários Combonianos, a que pertence. Ronaldo, que é catequista, toca viola e participa em encontros de jovens, frequentou o Pré-Seminário de Lisboa, durante quatro anos, e o Seminário de Penafirme, ao longo de quase dois anos e meio. “‘Lá está Deus a trocar-me as voltas’, foi o que pensei quando me convidaram para esta missão. Ao meu antigo vice-reitor, padre Rui de Jesus, costumava dizer: ‘O Senhor é muito brincalhão comigo’, porque em toda a minha vida tudo foi acontecendo assim…”, partilha. Este jovem diz ser “uma pessoa que gosta muito de pessoas”. “Vou ser enviado a pessoas e, apesar de ter algum medo de partir e ter a barreira da língua, achei que isto poderia ser o Espírito Santo a fazer ‘marotices’ comigo e a querer meter-me no lugar certo, apesar de eu tentar fugir por todos os lados”, refere este jovem.
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As expectativas para a missão na região da Alsácia
Cinco jovens de cinco paróquias do Patriarcado de Lisboa vão estar, entre os dias 20 de julho e 4 de agosto, na região da Alsácia (no nordeste de França, fazendo fronteira com a Alemanha e a Suíça) para uma ação de voluntariado entre os requerentes de asilo e pessoas idosas. A operação tem o apoio da Cáritas da Alsácia e da Cáritas de Lisboa.
Carolina Costa, 21 anos
Cáritas de Alcobaça
“Esta é uma das grandes problemáticas do mundo de hoje, pela qual sinto uma recém-chegada responsabilidade no sentido em que há algo concreto que posso fazer. Mesmo que pareça muito pouco e completamente insuficiente, devo procurar estar disponível e preparada para ajudar no que estiver ao meu alcance. Estar perto, e, de perto, poder estender a mão.”
Margarida Fernandes, 21 anos
Cáritas de Agualva-Cacém
“Sinto-me grata por esta oportunidade de partilha, de amor e de evangelização que a Cáritas me deu. A minha maior expectativa é partilhar os ensinamentos de Jesus com esta população, partilhar o Seu amor e a Sua humanidade. Sei que a missão é dar/partilhar/evangelizar, no entanto, no final, fico sempre com a sensação que recebo muito mais do que dou.”
Rita Marques, 20 anos
Cáritas da Falagueira
“Espero trazer mais do que boas memórias. Espero trazer amizades, experiências, histórias e emoções. Espero ser capaz de deixar um sorriso no rosto de alguém, alegrar o seu dia e deixar algo melhor do que aquilo que irei encontrar. Acredito que vai ser uma experiência que me permitirá crescer e aproximar-me dos ideais que Jesus nos deixou.”
Guilherme Machado, 18 anos
Cáritas de Óbidos
“Imagino uma viagem com um objetivo específico de nos melhorar enquanto cidadãos habitantes desta sociedade. Espero que esta aventura me ajude na minha busca em saber que tipo de cidadão sou, onde pertenço e aquilo que posso fazer para melhorar a pessoa que apresento ser e o mundo que me rodeia. O grupo em que me integro é fantástico.”
Ronaldo Rodrigues, 20 anos
Cáritas de Camarate
“Todo o meu questionamento existencial e vocacional sempre se foi resolvendo na medida em que me ia dando e relacionando com o outro. Quero cruzar a minha história com as histórias das gentes a quem sou enviado, entrar nessas histórias e nelas deixar marca. Quero nesta experiência e nestas pessoas (re)encontrar-me com o Senhor e/ou permitir-me ser (re)encontrado.”
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“Acolher jovens voluntários na Cáritas”
A missão dos cinco jovens de Lisboa na região da Alsácia “está a gerar uma expetativa grande” na Cáritas Diocesana de Lisboa (CDL) e é uma forma de “aproximar a juventude” da instituição. “Com as Jornadas Mundiais da Juventude, começa a fazer cada vez mais sentido encontrarmos maneiras de chamar mais jovens para a Cáritas”, explica, ao Jornal VOZ DA VERDADE, a coordenadora geral da CDL, Ana Catarina Calado. Segundo esta responsável, este projeto surgiu na sequência da presença em Lisboa, no ano passado, de jovens voluntários da Cáritas Diocesana de Alsácia, que “estiveram uma semana em Alcobaça”. “Nasceu na Cáritas de Lisboa o desejo de fazermos o retorno e enviar um grupo de jovens a Alsácia. Temos de nos abrir às diferentes realidades do nosso país, mas também irmos percebendo como trabalham as outras Cáritas a nível da Europa, sobretudo”, refere. No início do ano pastoral, esta missão era ainda “um sonho”, que ia também “depender da disponibilidade da Cáritas de Alsácia”. “Em março/abril, chegou a resposta positiva e lançámos o desafio às Cáritas Paroquiais”, acrescenta Ana Catarina Calado, sublinhando que os cinco jovens selecionados são “representativos da diversidade na diocese”, entre “a realidade rural, urbana e de periferia”.
De 20 de julho a 4 de agosto, na cidade de Ferrette, na Alsácia, o grupo de Lisboa vai ficar “integrado numa comunidade”. “Os jovens vão realizar obras comunitárias, como arranjar um jardim ou empilhar lenha para o inverno, e vão também ajudar num centro de acolhimento de refugiados e num lar de idosos”, anuncia a coordenadora geral da Cáritas de Lisboa.
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A Cáritas de Lisboa em 2018
Ao longo do ano passado, a Cáritas Diocesana de Lisboa (CDL) concedeu 235.193,66¤ em donativos. A informação consta do Relatório de Atividades 2018 da CDL, que foi publicado este mês de julho. De acordo com o documento, o Gabinete de Ação Social fez 2.150 atendimentos e apoiou 479 famílias, enquanto o CLAIM fez 1.288 atendimentos e o Projeto Amigo recolheu 2.014 toneladas de roupa, o que representou um montante doado à Cáritas de Lisboa no valor de 109.522,36¤. O Projeto Igreja Solidária aprovou 128 projetos, com um montante de 78.975,18¤.
Relatório disponível em: www.caritaslisboa.pt
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