Doutrina social |
Entre a Lua e o Congo
O que fazemos do nosso mundo
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Celebrava a Humanidade 50 anos da viagem à Lua quando a Organização Mundial da Saúde declarou, a 17 de Julho, que o surto do vírus ébola na Republica Democrática do Congo é agora uma “emergência global de saúde pública”. Se chegámos à Lua, não conseguiremos atacar as raízes do mal que nos aflige?

 

Os migrantes entre nós

Chegou a época em que eles chegam de todos os lados: são os que aqui nasceram e que, em busca de uma vida mais digna, demandaram outras paragens; são os que por idênticos motivos escolheram este país para sua casa e que posteriormente saíram deixando raízes nos familiares e amigos, que agora visitam; são ainda os refugiados que encontraram aqui um porto de abrigo.

Por isso, vai realizar-se a 47ª Semana Nacional das Migrações de 11 a 18 de Agosto, com a Peregrinação Nacional a Fátima nos dias 12 e 13 e com a Jornada de Solidariedade a encerrá-la. Assim se cria mais uma oportunidade para sensibilizar as comunidades cristãs e a sociedade em geral para os desafios que nos são postos pela mobilidade humana; e ainda para nos levar a agir sobre as causas que estão na sua génese. O Papa, na Mensagem para esta Jornada nos lembra que “não se trata apenas de migrantes”. Trata-se também dos nossos medos, da caridade como atitude de base, de algo que faz parte da humanidade; trata-se de não excluir ninguém e de colocar os últimos em primeiro lugar; trata-se da pessoa toda e de todas as pessoas; trata-se enfim de construir a cidade de Deus e do homem.

 

Há 50 anos e hoje

Celebrando os 50 anos da viagem do homem à Lua vem-nos à mente a exclamação de Neil Armstrong: “Um pequeno passo para o Homem e um salto gigantesco para a Humanidade”.

Paradoxalmente, essa abertura para o infinito contrasta com a atitude do seu compatriota, o Presidente Trump: figura bizarra que sonha e levanta muros; que aponta o dedo aos que vieram de fora; que insulta e desafia as congressistas Alexandria Ocasio-Cortez, Ilham Omar, Rashida Tlaib e Ayanna Pressley a regressarem aos países dos seus pais; que não tem pejo em separar crianças dos pais e mantê-las detidas; que gera instabilidade assustadora, ridicularizando os avisos dos cientistas relativamente ao aquecimento global e rasgando o Acordo de Paris para o Clima; que interage com as questões sensíveis do comércio internacional como se fosse um miúdo de outros tempos jogando aos botões; que decide unilateralmente a saída do Acordo Nuclear com o Irão, provocando uma tensão como há muito se não vivia.

É, no entanto, apoiado e ovacionado por muitos dos seus correligionários. Se não estivéssemos num país ancorado num sistema político-constitucional seguro, já poderíamos ver estendido o tapete para mais um ditador capaz de todas as loucuras. Para além destes apoios conta ainda com outros externos, que seguem a tendência para uma governação forte, ancorada num sistema securitário de quem considera este planeta como uma coutada própria a partilhar só com alguns amigos, nascidos para serem superiores. Veja-se o que se passa com Matteo Salvini, espelhando uma visão xenófoba, racista, e de um nacionalismo fechado e chauvinista.

 

Não há senhores do mundo

Em contraste temos boas notícias que rompem as sombras. Vimos as reações da sociedade civil à criminalização da solidariedade, como no caso do navio humanitário “Sea Watch”, da sua comandante Carola Rackete e dos voluntários envolvidos no resgate dos refugiados, entre os quais o nosso concidadão Miguel Duarte. Quando no passado dia 17 a nova Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen apresentou as linhas gerais da sua política, referiu que “é uma obrigação humana resgatar as pessoas que estão a afogar-se”.

Significativa foi a notícia referente à irmã Patrícia Murphy, uma religiosa americana, de 90 anos, que foi detida e algemada pela polícia em pleno Senado dos EUA, juntamente com mais 70 manifestantes, numa ação de protesto e de desobediência civil contra a política migratória de Trump, relembrando que nem tudo o que é ilegal é ilegítimo. Ela e os outros não estavam sós. A ação foi promovida por várias organizações católicas como a Conferência dos Superiores Maiores das Congregações religiosas masculinas e a Conferência das Religiosas dos EUA. Atuando como atuaram, mais não fizeram do que “fazer aquilo que o Evangelho manda” e que vai na linha do magistério do Papa Francisco que denuncia uma sociedade “cada vez mais elitista e mais cruel para com os excluídos”.

texto por Valentim Gonçalves, CJP-CIRP
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