Entrevistas |
Paulo Ribeiro, presidente da direção da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã (AIIC)
“O futuro das nossas comunidades sem jornais e revistas é algo muito pernicioso”
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A comemorar 25 anos de existência, a Associação de Imprensa de Inspiração Cristã (AIIC) afirma ser “urgente” a criação de um “plano de educação para o consumo de jornais e revistas, para fomentar a literacia” da sociedade. Em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, o jornalista e diretor da AIIC, Paulo Ribeiro, revela que transmitiu ao Papa Francisco o compromisso da associação portuguesa com a verdade, ajudando a combater as ‘fake news’ que “intoxicam a sociedade”.

 

A Associação de Imprensa de Inspiração Cristã está a completar 25 anos de existência. Desde a sua criação até hoje, qual tem sido o papel da associação?

A AIIC tem procurado, ao longo destes anos, ser o interlocutor dos cerca de 170 jornais e revistas editados pelos seus associados. Se inicialmente as coisas eram mais facilitadas para a imprensa portuguesa, hoje em dia são muito maiores os desafios para que a imprensa possa sobreviver numa era marcada pela comunicação através das redes sociais. E isso é uma grande preocupação para o nosso sector.

 

Quais são então os desafios que a AIIC enfrenta?

A AIIC tem grandes desafios pela frente e que resultam dos tempos em que vivemos. A diminuição das tiragens dos jornais e revistas, consequência do abandono dos leitores por este meio tradicional de leitura, em detrimento do consumo de informação por via digital, é um problema que se tem colocado a este sector e que tem sido muito acentuado nos últimos anos. Consideramos que é urgente a implementação de um plano de educação para o consumo de jornais e revistas, para fomentar a literacia da nossa sociedade. O futuro das nossas comunidades sem jornais e revistas é algo muito pernicioso para a nossa democracia e para a nossa cultura. Costumo dizer que quando desaparece um jornal, numa pequena vila ou cidade, morre também um pouco a democracia. Essas pessoas ficam privadas, sobretudo, de quem escreve com elas e para elas, ficando irremediavelmente comprometida, para as gerações futuras, o registo histórico da comunidade. E isto, também do ponto de vista sociológico, é muito negativo.

 

Nos últimos anos, a AIIC tem tido um papel interventivo em negociações com o Governo. Quais as principais matérias reivindicadas?

Temos estado na primeira linha na defesa da aplicação, na sua plenitude, da legislação em vigor que não tem sido cumprida pela Administração Central e, em última análise, pelos sucessivos Governos. A publicidade institucional é uma dessas áreas. A Lei diz que 25% das campanhas de publicidade do Estado (e dos organismos públicos) acima dos 15 mil euros deve ser investida na imprensa regional e nas rádios locais. Ora, como temos vindo a denunciar, com base num estudo que fizemos e entregámos à ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social, apenas uma pequena parte das entidades públicas cumpre a legislação, o que tem sido prejudicial para o sector há largos anos. Como a publicidade, para os jornais e revistas, é como ‘pão para a boca’, é claro que não podemos deixar de reivindicar o que nos pertence por direito. E apresentámos, junto de todos os partidos, propostas de alteração à legislação para que, de uma vez por todas, esta questão fique resolvida e seja feita justiça. Todos temos que cumprir a Lei e é inaceitável que o Estado não a cumpra. Outra das matérias passa por um conjunto de incentivos à leitura, como a dedução em sede de IRS da assinatura de jornais e revistas, a par da concessão de benefícios em sede de IRC para as empresas que pretendam fazer publicidade em jornais e revistas regionais. Preparámos um documento com dez medidas em defesa do sector que entregámos aos partidos políticos antes das últimas eleições legislativas. E estamos satisfeitos por alguns partidos terem incorporado nos seus manifestos eleitorais algumas das ideias que apresentámos em defesa do sector.

 

Recentemente, no Vaticano, uma delegação da AIIC entregou ao Papa Francisco um documento onde se compromete a “combater” as ‘fake news’. Qual poderá ser o papel da imprensa cristã neste campo?

Na visita que fizemos este mês ao Vaticano e, em particular, à audiência pública com o Papa Francisco, entregámos uma Carta de Compromisso onde a AIIC reafirma o seu compromisso com a verdade numa era de proliferação de falsos conteúdos pelas várias plataformas de difusão, quando se assiste à concentração crescente dos media, com a atenção às periferias e com todas as notícias, também as positivas e as que são contributos para o bem comum.

A Associação de Imprensa de Inspiração Cristã compromete-se a promover, junto dos seus associados, o esforço de procurar ajudar os seus leitores a distinguir o bem do mal, através da busca e identificação de fontes credíveis, da contextualização da realidade e interpretação correta dos factos do dia a dia, ajudando a combater as ‘fake news’ que intoxicam a sociedade. Com 25 anos de história, a AIIC reafirma o seu compromisso junto dos seus 170 títulos associados em dar voz aos mais desprotegidos, valorizar os acontecimentos regionais e locais e apelar aos decisores políticos, sociais e religiosos que coloquem no centro todas as periferias.

 

Quais foram as palavras do Papa Francisco no encontro que teve com a AIIC, no passado dia 6 novembro?

Tivemos a ocasião de transmitir ao Santo Padre o trabalho que a nossa associação tem vindo a fazer em prol da imprensa de inspiração cristã e de apresentar a nossa carta de compromisso que referi. O Papa Francisco agradeceu a nossa presença e reconheceu que o nosso trabalho é difícil. Como é normal nestas circunstâncias, o tempo é muito curto para podermos conversar sobre tudo o que pretendíamos, mas só o simples facto de podermos estar e conversar com ele e, ainda, de o podermos escutar de viva voz, é sem dúvida um suplemento para a nossa alma e espírito para prosseguirmos este trabalho em prol de um segmento importante da comunicação social portuguesa.

 

O programa 70x7, transmitido na RTP, completou, recentemente, 40 anos de emissões na televisão portuguesa. Este programa pode ser uma referência para o que é esperado da comunicação da Igreja na sociedade portuguesa?

Assumindo que a comunicação da Igreja na sociedade portuguesa é um ambiente para a construção de pontes, para o diálogo com diferentes sensibilidades crentes, para a partilha de opiniões e para a procura, em conjunto do bem comum, claro que sim! Pelo que acompanho, o programa 70x7 é, desde o seu início, um fórum para o debate de ideias, a procura em conjunto de respostas para os problemas sociais, onde se inclui sempre o elemento religioso, nomeadamente cristão, e o contributo que pode dar, a cada tempo, à sociedade. De referir também o espaço dado, neste programa, a pessoas e locais que estão mais distantes da ribalta mediática, o que deve também caraterizar a comunicação da Igreja na sociedade portuguesa.

 

Enquanto jornalista do Jornal Alvorada, da Paróquia da Lourinhã, qual a importância que os meios de comunicação regionais podem ter para a evangelização?

Ao longo de seis décadas de vida, o Jornal Alvorada tem servido a população do concelho, ao levar até aos seus habitantes, quer seja no território nacional, quer no estrangeiro, notícias e opiniões sobre a comunidade e tendo sempre o respeito pela verdade como condição essencial para a sua publicação. É através deste código de conduta, consubstanciado no Estatuto Editorial, que leva a que, quinzenalmente, possamos contagiar o leitor com a mensagem cristã, quer sobretudo através dos editoriais do nosso diretor, padre Ricardo Franco, com análises sempre muito assertivas sobre os temas da atualidade, quer com as páginas das notícias dedicadas à atualidade da nossa Igreja Católica. O leitor sabe, quando lê o Jornal Alvorada, que se trata de um jornal de inspiração cristã e, nos dias que correm, é uma marca que valoriza o nosso órgão de comunicação social.

 

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A Associação de Imprensa de Inspiração Cristã tem cerca de 170 jornais e revistas associados, que representam uma tiragem de 3 milhões de exemplares por mês.

 

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Cónego António Rego sobre os 40 anos de emissões do programa 70x7

“Deixou de ser um programa feito à porta da igreja

para ir à porta do mundo”

 

Numa entrevista à Agência Ecclesia, por ocasião da comemoração dos 40 anos do primeiro programa 70x7, o iniciador, cónego António Rego, fala de como o programa 70x7 começou por ser a “expressão da Igreja na praça pública” e afirma a importância da “temática religiosa” na televisão em Portugal. Aqui publicamos partes da entrevista, que pode ser lida na íntegra em http://bit.ly/70x7entrevista.

 

Voltemos a 1979, ao dia 21 de outubro, quando começou o 70×7. Com que espírito?

Nós andávamos à procura da expressão da Igreja na praça pública. E a praça mais publica que havia era a televisão. Por isso, houve um esforço de tomarmos a linguagem do Evangelho e da Igreja para a colocarmos nesse local teoricamente profano e, da fusão desse encontro, fazer uma comunicação evangélica. Isso não se fazia sem as pessoas, sem os lugares, sem as celebrações, sem as ações da vida da Igreja e do mundo. E da relação da Igreja com o mundo.

Talvez de uma forma não muito organizada, foi isso que procuramos ativamente, com o apoio da hierarquia, porque era um programa oficial da Igreja Católica (não posso deixar de lembrar D. António Marcelino pelo grande apoio que nos deu). E a outra parte era a loucura da nossa juventude apostólica, que achava que não havia meio que não tivesse obrigação de falar do Evangelho. Nós demos a cara, as mãos e os braços para percorrermos este país e um bocado do mundo para dizermos que a Igreja não está fechada nem no ermitério nem o cemitério, mas viva na cidade. (...)

 

Que relevância teve o programa, nos primeiros anos?

Para nós, muitas vezes, era difícil responder a tantos pedidos que nos chegavam. Por vezes perguntavam: “como é que o padre Rego arranja temas para tantos programas?”. Eu respondia o contrário: como é que eu sou capaz de responder a tantos temas que nos propõem para o programa. E, de facto, o programa 70×7 teve esse mérito catalisador de juntar muitas sensibilidades, em muitos pontos do país e do estrangeiro, e nós íamos lá com meios tecnicamente frágeis ainda (ainda nem o vídeo havia quando nós começamos e fazer um programa em filme era um tormento: contávamos os fotogramas, porque tínhamos uma medida para um programa, e havia coisas interessantes que interessava valorizar e não conseguíamos). Foi dentro dessas contingências todas e desse gemido de não ter o quanto se pretendia que nós fomos dando um sinal. (...)

 

E é um programa que deve ter lugar na televisão, nos dias de hoje?

Todo o lugar! A televisão precisa dessa dimensão! Precisa do desporto, da informação geral, das temáticas da arte, da poesia… dessas temáticas todas! Mas precisa da temática religiosa vista nessa perspetiva: não apenas a transmissão litúrgica, mas a experiência religiosa comunicada e vivida. Nós filmamos mais o que as pessoas do que o que as pessoas dizem. De facto, a palavra é forte, mas o gesto é que arrasta.

entrevista por Filipe Teixeira; fotos por AIIC e Photo.va
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