Têm como carisma a Eucaristia e a Missão. O instituto das Franciscanas Missionárias de Maria (FMM) iniciou as comemorações dos 125 anos em Portugal, com o Bispo Auxiliar de Lisboa D. Joaquim Mendes a destacar que estas religiosas são “marcadas por uma forte experiência de Deus, do Evangelho e do serviço aos pobres”.
“Caríssimas Irmãs, o vosso carisma e a vossa missão estão estreitamente vinculados aos pobres, ao serviço dos pobres. A vossa é uma história com os pobres, escrita com os pobres, com vidas e obras ao serviço dos pobres e da sua evangelização. A celebração da memória de 125 anos de presença em Portugal, iniciada pela vossa fundadora Madre Maria da Paixão, é uma oportunidade, não só para fazer memória histórica de um passado, mas para renovar a esperança, indo às raízes, repercorrendo a singular experiência humana e vocacional da vossa Fundadora, e das Irmãs que vos precederam, marcada por uma forte experiência de Deus, do Evangelho e do serviço aos pobres”, assinalou D. Joaquim Mendes, na Eucaristia que marcou a abertura do ano jubilar do 125.º aniversário das Franciscanas Missionárias de Maria em Portugal (1895-2020).
Na Casa Provincial deste instituto religioso feminino, bem perto do Campo Pequeno, em Lisboa, na manhã do passado Domingo, 17 de novembro, o Bispo Auxiliar do Patriarcado não escondeu que “a vida consagrada está a passar um inverno rigoroso, sobretudo na Europa”. “O grande desafio é passar o inverno para florescer e dar frutos, indo às raízes. O inverno, mesmo na Igreja e na vida consagrada, não é um tempo estéril de morte, mas um tempo propício para retornar ao essencial, para nos recentrarmos em Deus, no Deus da história, que vos guiou ao longo de 125 anos e que continua a guiar-vos, com o seu Espírito, a servir e a evangelizar os pobres”, incentivou D. Joaquim Mendes, ao lembrar também que, naquele Domingo, a Igreja celebrava o III Dia Mundial dos Pobres, convocado pelo Papa Francisco.
Adoradoras e missionárias
As Franciscanas Missionárias de Maria são um instituto religioso feminino, especificamente missionário, fundado na Índia, em 1877, pela bem-aventurada Maria da Paixão, de origem francesa, que foi beatificada por São João Paulo II, em 2002. “O nosso carisma é Eucaristia e Missão. Somos mesmo centradas na Eucaristia, como carisma, e pretendemos realmente que isso seja vivido. Diariamente, temos Missa e adoração”, observa ao Jornal VOZ DA VERDADE a irmã Maria Celeste Lúcio, considerada a historiadora da congregação, que é autora do livro ‘Franciscanas Missionárias de Maria - 100 anos em Portugal (1895-1995): História da Província de Santo António’, publicado há 24 anos. “Na história de Portugal, e concretamente em Lisboa, temos dois exemplos muito interessantes do valor que damos à Eucaristia: em 1897, tivemos uma casa, na Rua do Sacramento, com adoração permanente, dia e noite. Depois, essa casa fechou e continuou na nossa atual Casa do Cristo da Boa Morte, situada na Rua do Patrocínio, onde chegámos em 1900”, acrescenta a religiosa, natural de Torres Vedras e que é FMM há 60 anos, lembrando ainda que, “em 1944”, o instituto foi “para o Largo do Rato, para a igreja que ainda hoje está aberta e tem adoração”. “Fomos nós que deixámos a adoração na Capela do Rato, que foi um grande centro eucarístico”, frisa. Segundo a irmã Celeste, Eucaristia e Missão “são duas realidades distintas, em que uma interpela a outra”. “Somos adoradoras e somos missionárias, mas o grande missionário é o próprio Jesus; portanto, é um binómio no sentido absoluto”, sublinha.
Dedicando-se à missão universal, no seu próprio país ou fora dele, as FMM estão presentes em 73 países dos cinco continentes, havendo religiosas de 79 nacionalidades – em 2010, este instituto religioso contava com cerca de sete mil irmãs professas. “A missão é realizada não apenas onde estamos, mas a nível universal. Maria da Paixão foi uma pessoa muito idealista e dizia: ‘O nosso instituto é para missão universal, onde a Igreja nos quiser’. Qualquer irmã, de qualquer nacionalidade, deve estar pronta a ir para qualquer parte do mundo. As FMM têm um grande amor à Igreja”, lembra a irmã Celeste, que já foi provincial e que esteve em missão “em Angola e Moçambique, por pouco tempo, apenas três anos”, mas também “em ações concretas no Brasil e em Madagáscar, por exemplo”.
Esta religiosa destaca também a profissionalização de algumas irmãs, no Pós-Concílio. “Foi algo muito importante entre nós, uma mudança substancial na nossa vida. Passámos a concorrer, a nível nacional, na área da lecionação, da saúde – enfermeiras – e da assistência social”, explica.
A pedido de um leigo
Em Portugal, a congregação tem atualmente 143 irmãs, de seis nacionalidades (espanhola, polaca, sul coreana, moçambicana, timorense e burquinafasense), além da portuguesa, em 19 comunidades espalhadas por onze dioceses de Portugal continental e Madeira (quatro comunidades em Lisboa, duas em Braga, Porto, Setúbal, Beja e Funchal e uma comunidade em Bragança, Aveiro, Coimbra, Castelo Branco e Faro). As religiosas colaboram com vários organismos e instituições e dedicam-se à pastoral missionária, paroquial, social, da saúde e da educação. Este instituto chegou ao nosso país em 1895, menos de vinte anos após a fundação. “Uma coisa típica da nossa vinda para Portugal é que fomos pedidas por leigos, pelo Conde de Burnay”, refere a irmã Celeste. “Naquela altura, havia muita relação entre Lisboa e Paris, porque a nobreza portuguesa, e os literatos também, andavam muito por França. Ele deve ter tido conhecimento da nossa presença em França, e teve também conselho por parte do Núncio Apostólico, que lhe disse para pedir estas irmãs para Portugal”, acrescenta.
Lisboa foi então a porta de entrada da congregação no nosso país. “Vieram quatro irmãs, julgamos que todas francesas, exatamente para tomar conta da Vila de Santo António, na Rua da Junqueira, que eram umas arrecadações do Conde de Burnay, situadas muito perto do seu palácio, que funcionavam como albergue de trabalhadores dos autocarros e dos comboios”, conta, destacando também a presença da fundadora em Portugal: “Maria da Paixão não quis ir logo embora, aquando da sua primeira vinda ao nosso país, e procurou colocar o noviciado, que ficou em Braga. Foi lá, ainda em 1895, que efetivamente começou a nossa presença ativa, com obras sociais e bastantes vocações”, salienta a irmã Celeste, que atualmente está numa casa das FMM em Coimbra, mas que passou por Lisboa para participar na abertura das comemorações dos 125 anos da congregação em Portugal.
Quatro casas em Lisboa
Com a República, em 1910, “todas as religiosas FMM saíram das suas casas”. O regresso acontece “a partir do Norte, em 1917”, tendo chegado “a Lisboa em 1927, para a obra das Florinhas da Rua”. Em 1931, as religiosas abriram “um pequeno internato de bebés, filhas das Florinhas da Rua”, onde atualmente funciona a Casa Provincial. Mais tarde, entre 1955 e 1971, nesse lugar, “foi aberto o colégio Ninho de Crianças”.
Nos dias de hoje, no Patriarcado de Lisboa, as Franciscanas Missionárias de Maria têm atualmente quatro comunidades. Desde logo, a Casa Provincial, no Campo Pequeno, e chamada Casa de Santo António do Centenário, onde funcionam todos os serviços do instituto. “Durante vários anos, esta casa acolheu também uma obra nossa, a Escola de Enfermagem, que é atualmente a Escola Superior de Enfermagem São Francisco das Misericórdias e pertence à União das Misericórdias”, refere a irmã Celeste. A Casa do Cristo da Boa Morte, na Rua do Patrocínio, pertence novamente às FMM desde 1937. “Foi mesmo a fundadora que escolheu esta casa, depois de várias hipóteses, e no regresso fomos tomar conta de uma instituição que se chama Assistência Infantil da Freguesia de Santa Isabel. Ainda hoje, lá estamos”, salienta. Na diocese, estas religiosas têm uma terceira casa, chamada Missão de Nossa Senhora, situada na zona de Chelas. “Fomos para a Curraleira em 1970, no pós-Concílio, para um bairro de lata, e tínhamos uma creche, num pré-fabricado, que durou mais de 20 anos, com a colaboração da Santa Casa da Misericórdia e da Paróquia de São Evangelista. Hoje, temos um centro de dia e a comunidade FMM apoia praticamente 100 famílias através do banco alimentar”, refere. Finalmente, a presença destas religiosas em Lisboa acontece também na Residência Santa Maria dos Olivais, “onde ficam algumas irmãs”.
A irmã Maria Celeste Lúcio destaca ainda “a obra das FMM em Olhalvo, entre 1981 e 1999”. “Foi o senhor D. António Ribeiro que nos pediu para irmos e colaborámos com os quatro padres da Merceana: Joaquim Batalha, Teodoro de Sousa, Joaquim Martins e João Marcos, hoje Bispo de Beja”, conta.
Sem hábito, mas com medalha
As FMM não vestem hábito. “Segundo as nossas constituições, para o mundo inteiro, apesar de haver a possibilidade de vestir à civil, temos cores oficiais, que são o cinzento com uma camisa também cinzenta ou branca, que usamos em certas celebrações, com ou sem véu, sendo que em Portugal o véu está posto completamente de lado”, assinala a irmã Celeste. Outra identificação destas religiosas é a medalha que trazem ao peito. “A medalha é a que todo o instituto usa”, refere a historiadora das Franciscanas Missionárias de Maria.
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Franciscanas Missionárias de Maria
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“Confiamos que o Senhor continua connosco”
Eleita provincial muito recentemente, para um mandato de quatro anos, a irmã Isabel Gomes considera, em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, que os 125 anos das Franciscanas Missionárias de Maria em Portugal são “um desafio a continuar” a missão. Esta religiosa, que nasceu em França, mas que costuma dizer ser natural da Póvoa de Varzim, é FMM há 27 anos e esteve nos últimos dez anos em Roma, na Cúria Geral do instituto, no serviço de comunicação. Antes, tinha estado dois anos no Algarve e depois oito em Angola.
Qual o significado destes 125 anos de missão das Franciscanas Missionárias de Maria
em Portugal?
Estes 125 anos, para nós, são motivo para dar graças a Deus por tudo aquilo que Ele foi realizando, e é também um desafio para sermos mais fiéis no tempo que nos é dado, nos desafios atuais que a Igreja e o instituto nos apresentam. Todas as irmãs foram fiéis, foram dinâmicas, foram audazes, estiveram sempre atentas às necessidades do povo e da situação do contexto em que viviam e procuraram responder. Foram empreendedoras, estiveram atentas e por isso desenvolveram obras e atividades para responder às situações. Como todas as congregações a nível mundial, e em Portugal, estamos num processo de vida em que há menos vocações, menos forças evidentes, mas ainda há muita vida. Porque quando há saúde, há sempre possibilidade de fazer muita coisa. As nossas irmãs são muito ativas e muito empenhadas, e procuram, mesmo com a idade que têm, responder aos desafios e necessidades. Estes 125 anos são um desafio a continuarmos e a confiarmos que o Senhor continua connosco.
De que forma vos interpela o franciscanismo que o Papa Francisco trouxe à Igreja e mesmo à sociedade?
O Papa interpela toda a gente. Costumamos dizer, entre nós, que ele, jesuíta, é mais franciscano que todos, porque desperta-nos para os valores, para a espiritualidade franciscana no concreto. A sua predileção pelos pobres, a sua maneira simples de se apresentar, de estar no meio das pessoas, de passar uma mensagem de simplicidade e, sobretudo, a sua maneira de ser Pastor, serve de exemplo.
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