É o seminário menor da diocese e tem, atualmente, sete rapazes em discernimento vocacional. Reaberto em 1999, o Seminário de Nossa Senhora da Graça de Penafirme trabalha “sobretudo a questão humana”, numa missão que “passa pelos sinais considerados menores”, observa o vice-reitor.
“O Seminário de Nossa Senhora da Graça de Penafirme tem como principal missão acompanhar rapazes que estão a despertar para a questão da vocação e que apresentam alguns sinais vocacionais de abertura àquilo que é a vontade de Deus em relação às suas vidas e, portanto, manifestam esta disponibilidade e esta generosidade para fazerem esse caminho de descoberta, de procura, de reflexão acerca das suas vidas, numa fase ainda muito inicial”. É desta forma que o vice-reitor deste seminário, padre Fernando Escola, apresenta ao Jornal VOZ DA VERDADE o seminário menor da diocese, que foi reinaugurado a 8 de dezembro de 1999, há 20 anos. Antigo aluno desta casa de formação, entre 2002 e 2004, este sacerdote refere que o seminário menor é “um tempo de bastidores”, com “pouca visibilidade a nível de uma implicação dos seminaristas na vida da diocese”. “Procuramos sobretudo trabalhar a questão humana, para que a partir daí possam depois despontar outros traços fundamentais da personalidade que deem origem à descoberta da vocação e a um eventual caminho de consagração sacerdotal. A nossa missão passa muito pelos pequenos sinais, os sinais considerados menores”, acrescenta o padre Fernando, que foi nomeado prefeito deste seminário no ano da sua ordenação (2011), cargo que exerceu até 2017, altura em que foi nomeado vice-reitor, sendo por isso o responsável por esta casa de formação.
O dia-a-dia da casa
Refundado em 1999, por decisão do então Cardeal-Patriarca de Lisboa D. José Policarpo, o Seminário de Nossa Senhora da Graça recebeu, nestas duas décadas, 129 rapazes. Destes, 34 são padres, ou poderão vir a sê-lo, o que equivale a 26% dos alunos. Por outro lado, nos últimos 13 anos foram ordenados 61 padres em Lisboa, dos quais 11 (cerca de 18%) foram seminaristas em Penafirme. Ao longo destes 20 anos, esta casa teve como reitor o cónego Álvaro Bizarro (1999-2001), tendo-lhe sucedido, como vice-reitores, os padres José Miguel Pereira (até 2007), Filipe Santos (até 2011), Rui de Jesus (até 2017) e, agora, Fernando Escola.
Neste ano pastoral 2019/2020, o seminário menor acolhe sete seminaristas do Patriarcado de Lisboa. “Os rapazes, para aqui estarem, têm de estar a frequentar o Ensino Secundário. Estamos a falar de uma altura entre os 15 e os 17 anos, e o ingresso no seminário deve ser feito através do Pré-Seminário, que funciona no mesmo espaço, como forma de preparação e de ambientação. Por outro lado, falamos sempre com o pároco de cada rapaz, bem como com a família”, explica o atual vice-reitor, referindo “não haver a obrigatoriedade de um rapaz ficar três anos neste seminário”. “Se o rapaz chegar cá no 12.º ano, fica somente um ano connosco”, frisa. No final do Ensino Secundário, é feita “uma avaliação e o confronto com o próprio”, para o seminarista “ser, ou não”, encaminhado para o Ano Propedêutico no Seminário de São José de Caparide.
Os rapazes são residentes no seminário menor e estudam no Externato de Penafirme. “O primeiro trabalho apostólico deles é a escola e o estudo. Também por aqui se percebe que esta altura de seminário é ainda pouco específica do ponto de vista do futuro, não havendo uma formação tecnicamente teológica. Eles estão nas áreas normais, de cursos científico-humanísticos e há um que até está num curso profissional”, salienta este sacerdote. Além do ritmo escolar, “há o ambiente comunitário do seminário”. “Vivemos em comunidade, o que implica que a hora de acordar seja a mesma para todos, temos às 7h30 a oração da manhã, as Laudes, que são o primeiro momento comunitário, segue-se o pequeno-almoço, às 8h00, em conjunto também, e cada um vai para as aulas. Depois, os ritmos variam, alguns vêm almoçar a horas diferentes, e a chegada é também em horários distintos, pelo que só nos voltamos a reunir todos para a Missa da tarde, às 19h00. Jantamos juntos e há noites que são de organização pessoal, outras encontramo-nos para a preparação das leituras de Domingo, para a formação cristã, aula de música ou tempo de recoleção. Procuramos dar dimensão comunitária e cristã ao seminário, para que não seja uma mera residência de estudantes”, assinala o padre Fernando Escola.
Neste tempo de seminário menor, “é privilegiado, de duas em duas semanas, o contacto com as famílias e as comunidades de origem, sendo que um desses fins-de-semana é completo, em casa, e o outro é meio fim-de-semana”. “Nos restantes fins-de-semana, há lugar para o desporto em comunidade, mas também para acolher grupos de crismandos, da catequese ou de algum retiro de grupos de jovens, para ir às paróquias, que nos solicitam, dar testemunho, ou para termos propostas culturais, como ir a uma exposição, um filme ou um concerto”, descreve.
Sobre os 20 anos do seminário, o atual vice-reitor sublinha que, para o Patriarcado de Lisboa, “mais do que a sua visibilidade ou os seus números, porque é sempre um grupo mais discreto”, esta data “é uma chamada de atenção para a realidade da dimensão vocacional da vida cristã”.
Sólida base humana
O Seminário de Nossa Senhora da Graça está instalado num antigo convento que foi doado pelos proprietários, em 1934, à Paróquia de A-dos-Cunhados. Vinte anos depois, entre 1954 e 1958, foi iniciado o restauro do edifício e a construção de um novo piso, tendo em vista a instalação do seminário menor, que foi fundado pelo Cardeal Cerejeira e inaugurado a 1 de dezembro de 1960, tendo encerrado em 1975. “O primeiro reitor deste seminário foi o padre Orlando Leitão, a quem sucedeu o padre José Policarpo. Eu fui chamado para a reconstrução do equipamento e reabertura do Seminário Menor da Diocese, com o título de reitor”, recorda ao Jornal VOZ DA VERDADE o cónego Álvaro Bizarro, referindo-se ao ano de 1999. “A refundação obedeceu a uma razão pragmática. Acabava de ser doado à Diocese de Setúbal o Seminário Vocacional de São Paulo em Almada e entendeu-se por bem que essa comunidade formativa se instalasse no edifício onde funcionava o Seminário de São José de Caparide. Pareceu como solução natural para a primeira fase vocacional dos jovens, candidatos a aprofundar a vida cristã em ordem ao sacerdócio, a instalação no denominado Seminário liceal de Penafirme, a partir daí chamado Nossa Senhora da Graça”, conta o cónego Álvaro. Segundo este sacerdote, que foi reitor de Penafirme durante dois anos, até 2001, com esta decisão D. José Policarpo tinha “a intenção de oferecer os elementos humanos e cristãos indispensáveis ao discernimento vocacional dos adolescentes e jovens, numa fase tão importante do seu crescimento”. “Havia a convicção viva de que o futuro clérigo deveria assentar numa sólida base humana”, aponta, sublinhando ser-lhe “grato reconhecer que o Seminário Diocesano de Lisboa, em fases diferentes – o vocacional e o Pastoral –, se anteciparam e estavam um passo à frente das ‘ratio’, inclusive da última, produzida pela Sé Apostólica”.
Fio de esperança que permanece
A primeira equipa formadora do seminário refundado, no final do século passado, foi composta pelos padres Álvaro Bizarro (reitor), José Miguel Pereira (vice-reitor) e Nuno Isidro Cordeiro (diretor espiritual). Desse tempo, o cónego Álvaro Bizarro, hoje com 68 anos, recorda-se que “já era mais velho do que os pais dos alunos” e que “a ‘matéria prima’ era desafiante”. “O desejo vago do sacerdócio ainda não era sustentado em vida cristã adequada à idade”, frisa. “Tão pouco o número de rapazes, duas dezenas, oferecia ‘massa crítica’ para criar uma comunidade formativa adequada à situação concreta dos seus membros, diversificada e dinâmica”, acrescenta. Nesse sentido, o primeiro reitor do novo seminário menor diocesano “sentia o desafio de cooperar num projeto educativo atento à realidade de cada membro, e à criação de um clima em que cada um fosse o primeiro responsável da sua formação, cultivando o ser homem, e homem cristão, apto ao sacerdócio se a Igreja o escolhesse”.
Passados 20 anos da reabertura, e quando questionado sobre a importância deste seminário para diocese, o cónego Álvaro Bizarro diz ter “um respeito sagrado pelos jovens e pelos padres que trabalham nos seminários – a tarefa mais difícil e necessária da Diocese”. No entanto, “o facto da progressiva redução do número de alunos” faz este sacerdote “pensar se o seminário, como comunidade formativa, se tornou desafiante para os adolescentes e jovens da diocese”. “A situação atual do seminário releva a fragilidade da dimensão vocacional das nossas comunidades, que não está suprida pelas múltiplas iniciativas específicas dos ‘serviços especializados’ da diocese. Quando me refiro à fragilidade da dimensão vocacional das nossas comunidades, não me refiro só aos Bispos, que normalmente se esquecem desta necessidade na pregação, nem aos párocos, que habitualmente a deixam oculta no atafulhado das obrigações, mas estendo-o às famílias, aos movimentos, às catequeses”, sublinha.
Ecónomo diocesano desde 1992, o cónego Álvaro Bizarro diz mesmo que, “certamente, os fiéis da diocese, leigos e clérigos, particularmente o Bispo diocesano com os seus conselhos, questionam se os recursos humanos de padres, de assalariados e financeiros alocados a este serviço estão a interpelar a diocese para se renovar neste dinamismo vocacional”. Contudo, acrescenta, “um fio de esperança permanece, e pode tornar-se vigoroso com pequenos contributos de todos, ou dar lugar a novos caminhos se a isso conduzir o Espírito Santo”.
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“Casa bonita e felizmente reencontrada para este fim”
O Cardeal-Patriarca de Lisboa presidiu à Missa dos 20 anos da reinauguração do Seminário de Nossa Senhora da Graça, em Penafirme, garantindo que os sete seminaristas desta casa são “resposta de Deus” ao mundo. “Vocês estão aqui em Penafirme, os que estão, e hoje está um dia de chuva e nevoeiro, mas aqui há dias muito bonitos. Sabem o que é o melhor do dia e o que mais se parece com a Imaculada Conceição de Nossa Senhora? É quando nos levantamos cedinho, muito cedinho, para ver, a pouco a pouco, as trevas que se vão dissipando e a aurora que vai avançando, e depois aparece um grande sol, a Imaculada Conceição, a aurora do sol de justiça, Nosso Senhor Jesus Cristo. Viver assim, gente assim, é do que o mundo precisa. É a resposta de Deus, mas tem o vosso nome. Tem o nome de cada um de nós. Como teve, excelentemente, o de Maria, Nossa Senhora da Graça”, apontou D. Manuel Clemente, na celebração do passado dia 8 de dezembro, Solenidade da Imaculada Conceição. Na capela do seminário menor da diocese, o Cardeal-Patriarca crismou um dos sete rapazes do seminário, e manifestou a sua satisfação pela “casa bonita e felizmente reencontrada para este fim, há 20 anos”.
No início da Missa, D. Manuel Clemente disse “lembrar-se muito bem” da fundação deste seminário, em 1960 – “era eu um rapazinho em Torres Vedras” –, e recordou que o seu antecessor, D. José Policarpo, “quando foi ordenado padre, começou exatamente por trabalhar” nesta casa de formação. “A reinauguração, há 20 anos, deve-se muito à vontade do senhor Patriarca da altura e ao trabalho incansável do senhor cónego Álvaro Bizarro”, manifestou o atual Cardeal-Patriarca de Lisboa.
Na sessão festiva que se seguiu à celebração, o vice-reitor do Seminário de Nossa Senhora da Graça de Penafirme começou por destacar a padroeira. “É por meio desse olhar da fé que acreditamos que esta casa nasceu no ontem de há 20 anos atrás, para formar e configurar aqueles que Deus quer aqui hoje, para poderem ser seus instrumentos no amanhã”, destacou o padre Fernando Escola, no seu discurso, sublinhando depois a missão do seminário menor da diocese: “Esta é uma comunidade de passos pequenos e discretos que alimentam a aventura da descoberta da vocação de cada um sob a forma de uma pequena chama que, começando por ser ténue e ligeira se vai desenvolvendo progressivamente”.
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Seminário de Nossa Senhora da Graça, em Penafirme
Seminaristas: João Mateus (Paróquia da Graça, Lisboa, 10.º ano), José Martins (Paróquia do Milharado, 10.º ano), Miguel Pargana (Paróquia de Alenquer, 10.º ano), Francisco Almeida (Paróquia de Salir de Matos, 11.º ano), Rafael Morais (Paróquia da Malveira, 11.º ano), Rafael Francisco (Paróquia da Silveira, 11.º ano) e Henrique Filipe (Paróquia da Atouguia da Baleia, 12.º ano)
Equipa formadora: padre Fernando Escola (Vice-Reitor, à esquerda), padre Rodrigo Alves (Prefeito, à direita), padre Carlos Silva (Prefeito) e cónego Eduardo Coelho (Diretor espiritual)
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